Lançada no Brasil pela Editora Nemo, a graphic novel "As Sereiais de Haarlem" é uma imersão na história de três jovens mulheres que, durante a Segunda Guerra Mundial, deram um passo à frente para se juntar à resistência contra o regime nazista em seu país natal, a Holanda. Escrito pelo brasileiro Felipe Pan ("O Menino Rei") e ilustrado por Gio Guimarães, o quadrinho conta a história de Hannie Schaft e das irmãs Truus e Freddie Oversteegen, residentes de Haarlem, cidade tomada pelas forças nazistas, mas que não se renderam à ocupação e decidiram combater o inimigo.
O roteiro de Felipe Pan revela uma narrativa muito bem estruturada, sem adornos, e conduz de maneira eficaz o leitor por uma trama que, apesar de ter começado com missões mais simples, logo se transforma em uma jornada de coragem extrema e de decisões difíceis. As três jovens adolescentes foram se envolvendo cada vez mais em ações de resgate, espionagem e até em assassinatos de figuras-chave do exército nazista. A pesquisa meticulosa de Felipe contribui para uma história verossímil e sem exageros, que transmite as dificuldades e dilemas enfrentados pelas protagonistas sem recorrer a sentimentalismos baratos.
Cada página de "As Sereias de Haarlem" é uma verdadeira obra de arte, com ilustrações em aquarela preto e branco de Gio Guimarães. A escolha por esse tom sombrio traz uma carga emocional e visual que reflete perfeitamente a gravidade da situação vivida pelas personagens, ao mesmo tempo em que transmite uma beleza sutil e delicada nos momentos de "tranquilidade" retratados na obra. O uso pontual de cor vermelha, com destaque em momentos específicos, confere uma intensidade dramática que, quando aplicada, tem o poder de chamar a atenção do leitor, deixando a imagem de umas das três protagonistas ainda mais marcante. A capa, releitura de "A Ronda Noturna" de Rembrandt, coloca as protagonistas no centro da pintura, é uma escolha artística que simboliza a transição dessas jovens comuns para figuras heroicas da resistência. Se torna um toque interessante, trazendo a arte, tão odiada pelos nazistas, como o ponto de partida da trama.
A estrutura da obra, dividida em capítulos que alternam o ponto de vista de cada uma das jovens, proporciona uma experiência interessante da narrativa, já que, à medida que a trama avança, o leitor consegue sentir um pouco das emoções, dúvidas e a carga psicológica que elas carregaram durante cada uma de suas missões. A força das personagens e a determinação inabalável delas frente ao horror da guerra são evidentes e fazem com que a história seja ainda mais marcante.
O mais impressionante é que, apesar da magnitude da história, ela ainda não é amplamente conhecida fora da Holanda. A luta e a coragem dessas jovens, que tiveram que deixar para trás sua adolescência e viver sob a constante ameaça de morte, mereciam mais reconhecimento. A obra faz justiça a essas heroínas e traz o equilíbrio entre as três personagens, sem esquecer de mostrar, mesmo dentro da sutileza dos diálogos menos densos, o real motivo do "apagamento".
"As Sereias de Haarlem" é um retrato de resistência, força e determinação. Com uma produção cuidadosa, tanto do ponto de vista histórico quanto artístico, nos traz uma leitura profunda e envolvente. É, sem dúvidas, um quadrinho que deveria se tornar uma leitura obrigatória do ponto de vista histórico, honrando a força e a resiliência dessas que lutaram frente a frente com o mal.
As Sereias de Haarlem
Onde encontrar: www.grupoautentica.com.br/nemo@editoranemo
Quanto: 84,90