"Que horas é o filme?", pergunta uma garotinha à mãe. As duas estão à espera do restante da família na porta de um restaurante na cidade de Tiradentes, em Minas Gerais. O grupo irá para a abertura da 28ª Mostra de Cinema de Tiradentes, que acontece até 1º de fevereiro.
Partindo da temática "Que Cinema é Esse?", o evento busca voltar a ousadia de outrora ao trazer produções que evitem repetições de narrativa e despertam no espectador, aquele que não deve fazer ideia de quem é Godard, se perguntar "Que Cinema É Esse?".
No total, são 140 filmes selecionados, entre longas, médias e curtas metragens, que apresentam os cinemas de todo o Brasil. Produções do Acre, Ceará, Paraná, Mato Grosso, entre outros estados, reúnem um público ávido que forma filas quilométricas para não perder nenhum filme.
"Centro Ilusão", do cearense Pedro Diógenes, foi uma das películas que lotou o Cine-Tenda em sua exibição no segundo dia de festival, sábado, 25 de janeiro. A trama acompanha Kaio (Brunu Kunk) e Tuca (Fernando Catatau), dois artistas que se conhecem durante uma audição para um Laboratório de Música.
Kaio é mais jovem e sonhador, Tuca é mais velho e se sente desgastado pela vida, quase desesperançoso em relação a sua arte. Juntos, partilham suas vivências enquanto atravessam o Centro de Fortaleza esperando o resultado da audição.
A história sensível - que questiona o que é o sucesso e o quanto vale a pena lutar pelos sonhos ao mesmo tempo que celebra a música cearense - arrancou aplausos volumosos dos espectadores que queriam mais. A aprovação foi mais uma vez comprovada no dia seguinte, domingo, 26, quando o diretor e os atores cearense se depararam com a plateia lotada do cine teatro do Centro Cultural Yves Alves para o bate-papo com os diretores da Mostra Autorias: além de Pedro Diógenes, Bruno Safadi ("Para Lota" - RJ), Ricardo Alves Jr ("Parque de Diversões" - MG) e Ricardo Pretti ("Para Lota" - RJ).
Além da producão cearense, "Malês" foi outra obra que atraiu uma multidão para a praça de Tiradentes. Nem a chuva, que sempre aparece no fim da tarde na pequena cidade mineira, parou a fome das pessoas por cinema, que esperaram até às 22 horas para conferir o longa sobre uma das revoltas mais emblemáticas protagonizados por pessoas negras escravizadas.
Dirigido por Antonio Pitanga, com seus filhos Rocco e Camila, a narrativa acompanha o conflito liderado por africanos, evento que aconteceu entre 24 e 25 de janeiro de 1835 em Salvador. A trama segue um casal que tem sua cerimônia de casamento interrompida por traficantes de escravizados.
Nesta edição, são dez filmes cearenses ao todo, representando 4,42% de inscritos. Além de "Centro Ilusão", também serão exibidos "Vermelho de Bolinhas", de Renata Fortes e Joedson Kelvin; "Sirius Não É Tão Longe", de Nick Sanches; "Ver Céu no Chão", de Isabel Veiga, que é um longa carioca-cearense; "Poesia no Vinho de Seus Lábios"', de Matheus Monteiro; "O Medo Tá Foda", de Esáu Pereira; "Do Lado de Dentro", de Marina Hilbert; "Morte e Vida Madalena", de Guto Parente; "Resumo da Ópera", de Honório Félix e Breno de Lacerda; e "Batguano Returns - Roben na Estrada", uma produção que reúne Ceará, Paraíba, Rio de Janeiro e São Paulo.
*A repórter viajou a convite do evento.
28ª Mostra de Cinema de Tiradentes