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Novela de época da Globo chama atenção para clássicos da literatura
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Novela de época da Globo chama atenção para clássicos da literatura

Ambientada na década de 1950, "Garota do Momento", da Globo, destaca obras que marcaram época e hoje são referências literárias
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Edu e Celeste, personagens de
Foto: TV Globo/Divulgação Edu e Celeste, personagens de "Garota do Momento", vivem o amor a partir da literatura

A frase que dá nome ao título desta página é retirada da obra “Morro dos Ventos Uivantes”, de Érico Veríssimo, que escreveu “Meu amor por Hethcliff é como as rochas eternas sob os nossos pés, uma fonte de felicidade pouco visível, mas necessária”.

Assim como a definição de amor pelo anti-herói do livro, está a literatura para os brasileiros. As produções literárias deste século são, inevitavelmente, produtos inspirados em obras referenciais de autores brasileiros que se tornaram clássicos no País, como Machado de Assis, Jorge Amado, Érico Veríssimo, Graciliano Ramos, Clarice Lispector e outros.

Também deixaram marcas no Brasil autores estrangeiros que produziram sucessos repercutidos até hoje, como Jane Austen, Charlotte Brontë e Emily Brontë. O “invisível”, nesta comparação, está na diminuição de jovens leitores no País, onde 66% dos alunos não leem textos com mais de 10 páginas, segundo pesquisa de 2023 realizada pelo Centro de Pesquisas em Educação, Interdisciplinaridade e Evidências no Debate Educacional (Iede).

É na perspectiva de atrair novos leitores para os clássicos do Brasil que a atual novela da faixa das 18 horas, “Garota do Momento”, desenvolve o núcleo romântico de Celeste e Edu, jovens que se aproximam e se apaixonam por meio do interesse comum na literatura. A trama foi criada por Alessandra Poggi e se passa na década de 1950, quando os livros que hoje são referências estavam em ascensão.

“Todos os livros citados por Celeste eu já li e, de alguma forma, me marcaram durante a vida. Em sua maioria, são obras apresentadas a mim na escola e foram muito importantes na minha formação como leitora e, claro, como escritora também”, declara a autora da novela, que levou para a trama publicações como “Olhai os Lírios do Campo”, “Capitães da Areia”, "Dom Casmurro", "Orgulho e Preconceito", "Morro dos Ventos Uivantes" e “Jane Eyre”.

As três últimas obras mencionadas foram ditas por Celeste em uma cena que mostra seu desinteresse em seguir normas de comportamento impostos às mulheres de seu tempo. Para a personagem, esses livros são um exemplo a ser seguido em relação à liberdade feminina.

“Uma questão que chama muito a atenção nesses romances é a questão da mulher na sociedade. Os quatro tratam de mulheres fortes, decididas, que têm suas próprias opiniões e que levam suas vidas à margem ou, dito de outra forma, que subvertem a expectativa de comportamento feminino da época”, aponta a doutora em Literatura pela UFSC, Luana Ferreira.

A pesquisadora destaca ainda que essas obras possuem pensamentos transgressores à sua época. “As mulheres começaram a exercer papéis considerados masculinos. Claro que elas, as escritoras dos romances ingleses, não inventaram a rebeldia da escrita criativa. Muitas mulheres que eram autoras excepcionais foram totalmente apagadas da história literária e estão sendo resgatadas agora”, complementa.

Nesse sentido, Alessandra Poggi explica: “Eu acredito que toda novela – por conta de seu largo alcance – tem o dever de fazer o público se emocionar e se sensibilizar com as histórias que estão sendo contadas. Quando escrevo uma novela, o meu objetivo é proporcionar entretenimento, mas sabemos de sua importância social ao pautar conversas e colocar assuntos para reflexão”.

Obra
Obra "Orgulho e Preconceito"

Orgulho e Preconceito

O professor de Literatura Francisco Souza conta que o livro "Orgulho e Preconceito" fortalece críticas "às dinâmicas sociais e aos papéis de gênero". A obra é apresentada de forma leve, mas com "muita inteligência", além de ter diálogos "refinados em uma narrativa envolvente". Para ele, a narrativa "ajuda a pensar sobre os valores e as desigualdades que ainda moldam nossas interações". Essa é a publicação mais famosa da escritora e aborda ascendência social - confrontando desprezo, equívocos e julgamentos.

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Obra "Olhai os Lírios do Campo"

Olhai os Lírios do Campo

“As obras literárias que atravessam gerações têm o poder de traduzir os dilemas humanos e refletem as transferências de nossas épocas, muitas vezes se tornando atemporais em suas mensagens”, é com essa introdução que Francisco Souza apresenta “Olhai os Lírios do Campo”. “O livro faz uma forte crítica ao materialismo e ao individualismo, trazendo reflexões sobre os valores humanos em meio às desigualdades”, conclui.

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Obra "Capitães de Areia"

Capitães da Areia

Já "Capitães da Areia" fala diretamente no abandono social, com abordagens sobre a sensibilidade e indignação. Sobre a obra, o professor Francisco analisa: "essa marginalização se reflete ainda atualmente quando, por exemplo, ando pelas ruas de Fortaleza, em que vejo como a desigualdade desumaniza os sujeitos sociais. Dói na alma. É impossível não sentir um impacto emocional ao acompanhar as histórias desses meninos, que são vítimas e, ao mesmo tempo, sobreviventes de uma sociedade que os exclui".

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Obra "Dom Casmurro"

Dom Casmurro

"Traiu ou não traiu?": é esta a frase que ainda hoje se repercute sobre Capitu e Bentinho, personagens de "Dom Casmurro". Francisco argumenta: "eu li durante meu ensino médio e permanece como um dos maiores marcos da literatura ao explorar com profundidade a complexidade das relações humanas. A dúvida em torno da fidelidade de Capitu segue provocando debates, mas a obra vai além disso, trazendo reflexões sobre ciúme, poder e as consequências das interpretações subjetivas".

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Obra "Morro dos Ventos Uivantes"

Morro dos Ventos Uivantes

Francisco Souza, nesta obra, celebra o legado que as irmãs da família Brontë deixaram para as produções que as sucederam. "É uma história marcada por paixões intensas e relações tóxicas, ambientada em uma paisagem sombria que reflete a atmosfera emocional da narrativa", opina. O livro foi lançado em 1847 e é considerado um clássico da literatura inglesa, com alcance pelo mundo inteiro. O trabalho inspirou filmes, produções para a TV e até a música, com o álbum "Wind and Wuthering" da banda Genesis.

 

Obra
Obra "Jane Eyre"

Jane Eyre

Outro romance clássico da literatura inglesa, "Jane Eyre", de Charlotte Brontë, ganhou destaque mundial ao trazer uma protagonista forte, que enfrenta as adversidades e busca independência nas questões que limitam as mulheres. Para Francisco, o livro "oferece uma visão poderosa sobre o amor, a solidão e a resistência frente às convenções sociais". A obra foi escrita por Charlotte Brontë e teve publicação original em 1847, quebrando paradigmas de seu tempo e criticando a realidade vitoriana da época.

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