Logo O POVO+
Montage, duo cearense, realiza show gratuito na Estação das Artes
Vida & Arte

Montage, duo cearense, realiza show gratuito na Estação das Artes

O duo electropunk Montage celebra 20 anos de música e resistência na Estação das Artes: "nós sobrevivemos"
Edição Impressa
Tipo Notícia Por
O duo eletropunk Montage celebra 20 anos de música e resistência na Estação das Artes (Foto: DIVULGAÇÃO/MONTAGEM)
Foto: DIVULGAÇÃO/MONTAGEM O duo eletropunk Montage celebra 20 anos de música e resistência na Estação das Artes

A música tem o poder de unir as pessoas e de reviver momentos. É isso que a celebração de 20 anos do Montage representa para o vocalista Daniel Peixoto. Depois de mais de dez anos de pausa, o lendário duo eletropunk volta aos palcos com nova turnê e planos para o futuro.

O retorno foi marcado pelo show no Festival Carlos CapsLock no dia 18 de janeiro. Daniel conta que a vontade de reviver o Montage já era algo palpável e o convite para participar do festival, em São Paulo, além da marca de 20 anos, foram as circunstâncias ideais.

O público que conheceu o Montage em 2005 continua fiel e existia a cobrança popular para que o electropunk cearense voltasse, como relatam Daniel e Leco Jucá (groove box e sintetizadores).

"A música tem esse poder muito mágico de resgatar memórias, lembranças", diz o vocalista, explicando que o público tem o sentimento de saudosismo em relação ao duo.

"Mas a gente estava um pouco preocupado com como seria a recepção dessa nova geração", assume o vocalista. Ele explica que os fãs de 2005 são muito fiéis, mas o Carlos CapsLock é um festival com público jovem, que não conhece o Montage. "Foi massa, porque a gente conseguiu capturar uma galera que não fazia ideia de quem a gente era".

Na visão do artista, o Brasil é um país sem memória e, agora, eles se sentem prontos para reviver a banda e contar a história do Montage nesse momento em que existe tanta pluralidade no cenário da música. "A gente teve uma importância em uma época em que não se falava de homofobia, dos direitos LGBT, da pauta de gênero". "É uma coisa que eu tenho muito orgulho na história do Montage".

A cena musical nacional tem, atualmente, representatividade e espaço para temas discutidos em 2005 por poucos artistas. Daniel relata sentir que essa parte da história da música brasileira foi esquecida, "no começo, era a gente que levava tomate na cara depois dos shows".

"Nós tivemos uma responsabilidade e acho que isso ficou um pouco esquecido nas novas gerações". Ele expressa que um motivador para reviver o electropunk cearense é "contar a nossa própria história", de resistência e representatividade.

O duo, eleito por duas vezes seguidas como dono do melhor show do País pela Folha de S. Paulo, surgiu de forma inusitada. Leco Jucá conta que estava indo fazer um live (eletrônicos ao vivo) no clube noturno Noise 3D. "Já tinha tocado uma vez lá no projeto de electro-rock que, na época, eu nem sabia o que era direito", conta o músico.

Eles relatam tudo aconteceu de forma aleatória. Nessa ocasião, Daniel Peixoto foi chamado para tocar ao lado de Leco. "A base que toquei no dia foi a que até hoje é 'Raio de Fogo' e 'I Trust My Dealer', então, o Daniel criou umas letras na hora", conta Leco. Eles explicam que, depois dessa apresentação, tudo aconteceu rápido. "Na nossa segunda apresentação já tínhamos lotado o local", relata o vocalista.

De 2005 até 2009, alcançaram reconhecimento nacional. Levaram o electropunk cearense para o Sudeste do Brasil e dividiram line-ups com artistas como The Killers, Arctic Monkeys, Justice e Hot Chip. Abriram a turnê do Prodigy no Brasil e tocaram com a islandesa Björk. "Vivemos coisas que nem em um milhão de anos eu imaginei que viveria", conta Daniel Peixoto.

A turnê de celebração dos 20 anos do duo chega a Fortaleza nesta sexta-feira, 31, como encerramento da programação de férias da Estação das Artes. "O melhor do Montagem sempre foi o 'ao vivo'. Acho que a gente continua em forma", fala Daniel, aos risos. Há datas de apresentações para outras cidades. Leco deseja apresentar um trabalho novo em Fortaleza, mas, com as incertezas da vida, não sabem exatamente o que virá. Porém, a sede por trazer o "electropunk de 2005 para a nova geração é enorme", encerra Daniel.

Leia no O POVO + | Confira mais histórias e opiniões sobre música na coluna Discografia, com Marcos Sampaio

"Ainda estamos aqui para viver"

Para Daniel Peixoto, celebrar 20 anos de carreira significa que eles sobreviveram. A dupla enfrentou obstáculos, agressões verbais e físicas. Trazer assuntos considerados tabus nunca foi fácil e, nos anos 2000, não era diferente. Mas Daniel se orgulha de toda a trajetória do Montage: "nossas músicas envelheceram muito bem, tudo que a gente canta continua muito atual".

A dupla explica que o intuito sempre foi expressar a arte, a política e "incomodar mesmo". "Nossas músicas trazem para a luz as coisas que as pessoas fazem na sombra". Daniel comenta que tem muita caretice no mundo: "existe uma onda conservadora muito grande e eu acho que o nosso papel é justamente ir na contramão disso". O duo eletropunk passou pelo tempo e continuou atual.

As dificuldades não os atingiram apenas como banda, mas na vida pessoal também. Daniel Peixoto relata que sua adolescência foi conturbada, sendo um menino gay no interior do Ceará. A homofobia foi algo muito presente durante sua formação, "porque eu sempre fui quem eu sou, nunca me mascarei". Ele explica que essa dor também era algo que atingia sua própria família.

Mas, ao construir o Montage ao lado de Leco Jucá, ele sente que as conquistas também são da família. Daniel conta da vez que figuraram na lista dos melhores shows segundo a Folha de S. Paulo. A dupla de electropunk cearense formada por um homem LGBT e um ex-metaleiro foi apontada como o melhor show do Brasil. E, em segundo lugar e terceiro lugar, Caetano Veloso e Marisa Monte, respectivamente. "Comprei a edição impressa do jornal. Quando eu olhei, comecei a chorar na banca e o jornaleiro ficou sem entender nada, mas, nesse dia, eu chorei não por arrogância ou por ego, mas porque eu imaginei que naquele momento eu podia estar dando um orgulho depois de tanta dor", finaliza Daniel.

20 anos de Montage

  • Quando: sexta-feira, 31, das 17h30min às 22 horas
  • Onde: Estação das Artes (Rua Dr. João Moreira, 540 - Centro)
  • Gratuito

 

O que você achou desse conteúdo?