"Qual é o seu dia, Nossa Senhora? É dia 2 de fevereiro, quando, na beira da praia, vou me abençoar", é o que canta Maria Bethânia em "Iemanjá Rainha do Mar". Neste domingo, pés fincados nas areias embarcam flores, frutos e adornos rumo ao infinito do oceano.
Em trajes brancos, milhares de umbandistas, candomblecistas e simpatizantes celebram o orixá com cânticos e oferendas, pedidos e agradecimentos. Odoyá, Alodê, Odofiaba são as saudações daqueles que cantam para a divindade das religiões afro-brasileiras.
Yemojá (Yèyé Omo Ejá) também é Janaína, Inaê, Sereia. Veio do continente africano como a rainha do rio que deságua no mar e recebeu a expansão das águas salgadas em território brasileiro, sendo muitas vezes representada nas nuances de azul-claro e prata.
É para ela que são feitos os cortejos que se popularizam desde o início do século XX. Em Salvador, onde a data mencionada é considerada patrimônio cultural, o sincretismo une o culto a Nossa Senhora dos Navegantes numa festa que, em 2025, promete reunir mais de 1 milhão de pessoas.
Nas demais regiões brasileiras, os devotos guardam outros períodos para a comemoração. Em São Paulo, por exemplo, a homenagem acontece no dia 8 de dezembro. Já na capital cearense, os festejos são feitos no dia 15 de agosto, ligados também a Nossa Senhora de Assunção, padroeira de Fortaleza.
Além das cerimônias, a espiritualidade é expandida na arte. Na linguagem da fotografia, o repórter fotográfico Fábio Lima, do O POVO, retrata em imagens a imensidão da padroeira dos pescadores. Mãe "cujos filhos são peixes", primeiro ser divino criado por Olodumare, guarda, com generosidade, o coração e a cabeça daqueles que a cultuam.
Jean dos Anjos, fotógrafo, pesquisador e antropólogo
Iemanjá é um orixá que tem origem no Rio Ogum, na Nigéria, em África, e chegou às Américas com homens e mulheres traficados/as para o trabalho forçado. No Brasil, passou a ser celebrada na beira das praias e tornou-se a Rainha do Mar. Na cultura brasileira, tem nomes e qualidades. Janaína, Inaê, Sereia, Princesa de Ayoká, são algumas denominações. Já em suas qualidades pode-se encontrar Iemanjá Sabá, Iemanjá Ogunté, Iemanjá Sessu. Suas festas se desdobram em todo território brasileiro: 2 de fevereiro, 8 de dezembro, 15 de agosto, 31 de dezembro, datas associadas às padroeiras das cidades. Ela anda de mãos dadas com Nossa Senhora, divindade de origem asiática, que também é múltipla. Sendo única, mãe de todas as cabeças, se transforma em outras como o movimento das ondas do mar.
Felipe Araújo, jornalista e advogado
Moça bonita que fez nas águas salgadas sua morada. Rainha do mar que teceu seus trajes de renda com as espumas das ondas. De seu ventre, nasceram os orixás, esses mitos que personificam as forças da natureza, a pulsão da história e os desvãos da psiquê humana. Símbolo do feminino e das grandes matriarcas, ela é a mãe-d´água dos pescadores, senhora das riquezas do oceano. De tão grande e poderosa, ela é várias. É Oguntê, jovem guerreira que quando dança porta uma espada. É Marabô, deusa protetora. É Kayala, nossa avó da vida. É Assabá, orixá velha e poderosa, de bailado venerável e lento. E é Janaína, esse jeito brasileiro de saudar a sereia do mar.
Pedro Paulo Souza, psicólogo e Iyawo de Ósóòsí do Ilê Asè Omo Tif'é
Yemanjá é a própria essência daquilo que seu nome significa: mãe cujos filhos são peixes. É um útero, capaz de nutriz tanto quanto é capaz de nos ensinar sobre força, à medida que a beleza e a doçura não se deixam ficar de lado. É mar em vastidão: o movimento das ondas que abraçam e a profundidade que guarda segredos. Neste e em todos os outros 2 de fevereiro, que Yemanjá nos ensine a ter cabeça fria como a água, coração quente como o d'Ela e mãos firmes para transformação.
Ìyá Kelma Yemojá do Ilé À Ìyá Omi Adé Ògún Oniré
Iemanjá é o orixá mais cultuado das Américas, o que demonstra seu encanto. É a mãe do acolhimento, aquela que cuida e acalma a nossa cabeça para que possamos caminhar sobre a terra com equilíbrio. A generosidade de Iemanjá é tamanha que ela dá seus filhos-peixes para alimentar a humanidade, mas ela também é uma mãe guerreira, que ao assumir uma situação de sua vida, ela segura na sua mão e resolve, afastando todo sofrimento. No Brasil, ela é o Mar e suas águas inquietas, cheias de sal e vida, o poder curativo das águas marinhas são uma expressão do seu amor.
Sablina Lima, publicitária
Toda vez que olho pro mar, lembro de Iemanjá. Sinto como se as ondas fossem um abraço dela, trazendo paz e levando embora as preocupações. Já fiz tantos pedidos, já joguei flores na água, e sempre tive a sensação de que ela me ouviu.
Pra mim, ela é proteção, é força e ao mesmo tempo um colo que acolhe. Sabe aquela sensação boa de estar no lugar certo, de estar sendo guiada?
É isso que sinto quando penso nela. Que Iemanjá continue cuidando de nós, sempre. Odoyá!