A passagem de janeiro para fevereiro representou o primeiro mês da nova gestão municipal da quarta maior cidade do País, o que, evidentemente, significou também o primeiro mês de uma nova visão de trabalho para a Secretaria Municipal da Cultura de Fortaleza (Secultfor)
À frente da pasta, a secretária Helena Barbosa encontrou, logo nos 31 dias iniciais da pasta, desafios como “colocar de pé” o Ciclo Carnavalesco, encontrar uma secretaria “fragilizada”, cortes orçamentários e demandas de diferentes áreas, como preservação patrimonial.
No primeiro grande evento do ano, a palavra de ordem é a “descentralização”. O Ciclo Carnavalesco 2025 se espalha por 20 polos e visa expandir o entendimento da gestão de proporcionar acesso à Cultura e à arte para todos.
Em entrevista ao Vida&Arte na última sexta-feira, 31 de janeiro, Helena Barbosa fez balanço do primeiro mês, detalhou metas previstas para o Carnaval e os impactos da descentralização para a Cidade.
O POVO - Chegamos ao primeiro mês da gestão. Qual balanço você faz desse período, entre os principais desafios e as principais ações?
Helena Barbosa - Tivemos que nos apropriar minimamente de tudo para poder colocar um Carnaval na rua. Foi um grande desafio, porque tivemos que fazer uma avaliação da estrutura, ao mesmo tempo que já montamos uma equipe base para poder rodar o que estava pendente e o que era de grande urgência. Gastamos pelo menos uma semana levantando o “raio-x” da secretaria. Muitas coisas descobrimos após a nomeação, porque não havia informações no momento do relatório de transição.
Fizemos um mergulho bem profundo em relação a tudo: secretaria, composição, organização interna e dados institucionais. O prefeito deu um prazo e ficamos nesse desafio, até para saber o que era mais urgente e o que mais merecia nossa atenção diante de um curto tempo. Estou falando de 30 dias. Então, para nós, foi bem desafiador, por exemplo, rodar editais do Carnaval. A antiga gestão lançou tardiamente, no final de dezembro. Não teríamos um cronograma para contratar a tempo para o Pré-Carnaval. Se tivesse sido nos trâmites normais, de investimento do nosso trabalho em dias úteis e em dois turnos… mas precisamos mais do que isso. Tivemos que fazer uma cooperação entre as secretarias envolvidas.
O POVO - Poderia citar exemplos?
Helena - Falo do grande empenho da secretária Laila Freitas, da Central de Licitações da Prefeitura de Fortaleza (CLFOR), e de sua equipe; da minha equipe da Secultfor, em especial as coordenadorias de Patrimônio e de Fomento; e de um empenho muito especial da secretaria de Governo nas pessoas do secretário Júnior Castro e do secretário executivo Gustavo Vicentino. Essas três estruturas precisaram fazer horas e dias a mais de trabalho. Houve mutirão para poder cumprir o que é exigido em edital, como tempo mínimo de avaliação, recursos, contrarrazão… Nos unimos em um conjunto de esforços para que déssemos o último resultado do Carnaval, que seria o credenciamento dos artistas, no dia 6. São quatro editais: Desfile das Agremiações Carnavalescas, Apoio Financeiro aos Blocos de Rua Independentes, Pesquisadores do Ciclo Carnavalesco e Credenciamento de Artistas — a espinha dorsal do Carnaval.
Além disso, é preciso avaliar os contratos de licitados, o que precisava para o rodar o Carnaval, ao mesmo tempo tendo reuniões bilaterais com as coordenadorias… Algumas crises estavam estabelecidas a priori, como o pessoal do audiovisual que não recebeu, então recebi todo mundo para entender a situação e a partir disso tirar uma agenda resolutiva. Fiz reuniões com os fóruns de linguagens. O que era politicamente urgente fomos atrás. Fora isso, conseguimos mudar a presidência do Instituto Iracema. As Organizações Sociais (OS) são muito importantes para a execução. Conseguimos pensar nos nomes para os equipamentos dirigidos pela OS.
O POVO - E quanto aos equipamentos?
Helena - Ainda não conseguimos rodar por eles. Pretendemos visitar nesta semana os equipamentos administrados diretamente pela Secultfor e aqueles gerenciados pela OS, como Vila das Artes, Casa do Barão de Camocim, Escola de Música, Artes Visuais… Fiz a primeira visita à sede da Secultfor e, em paralelo a tudo isso, trouxe para o centro a discussão em torno do patrimônio, porque essa é uma urgência. Se você não agir logo, há desdobramentos negativos batendo na sua porta. Tenho todo o levantamento do que é urgente, em escalas de gravidades, mas já conseguimos intervir na demolição do Bangalô de Aristides Capibaribe e avançamos no processo de tombamento definitivo da Casa de Frei Tito.
Fomos para as regionais para pensar a descentralização, nos reunimos com os secretários e estamos programando a finalização das reuniões bilaterais das coordenadorias. Abrirei diálogo com os artistas na sede da Secultfor, mas andarei em cada regional para escutar seus artistas, no sentido de mostrar o que a secretaria faz, o que é o conselho, mostrar o que é o fórum de linguagem enquanto grupo político organizado da sociedade civil e convidar todo mundo para discutir a partir disso. Mas sabemos que na Cidade as pessoas talvez nem compreendam o que é isso. O primeiro momento, então, é de abrir esses caminhos para ouvir toda a cidade e ter um planejamento em cima dessa escuta.
Há uma série de coisas que temos que fazer, como atualizar o plano municipal de Cultura, ver a questão do Cinema, a reativação do mapa de Cultura de Fortaleza… Há muitos movimentos de agenda política institucional que começamos a partir de agora. Passando a abertura do Ciclo Carnavalesco, é estruturar tudo do ponto de vista de licitada, de equipe, contratação de artistas… Tivemos que assumir tudo isso. Liguei para os managers, negociamos, investimos grande energia nisso, não à toa conseguimos aumentar para 20 polos e ainda assim tivemos orçamento mais barato que do ano passado. Economizamos mais de R$ 1 milhão, mesmo com a ampliação de polos.
O POVO - A que se deve isso? O que foi feito para reduzir?
Helena - À competência da equipe que está perto de mim. São pessoas muito experientes, que conseguem olhar para um processo ou orçamento e detectar o que não é necessário, partindo, assim, para a negociação. Foram 31 dias em torno dessas demandas. Fico bem feliz, porque, apesar de encontrar uma secretaria fragilizada, estão todos em um pacto de entusiasmo, conseguindo se motivar a partir desse sentimento. Quanto à redução, acho que conta muito a experiência executiva. Fomos para queda de braço com todo mundo. Os licitados também contribuíram bastante, porque, apesar dos cortes, quiseram continuar com a parceria. Houve o convite para todos serem sensíveis com a situação (orçamentária). Acho que há muita relação com o capital que trazemos de trabalho. As pessoas sabem que não estamos fazendo isso só por um corte, mas por uma questão de viabilizar.
Sabem da seriedade do nosso trabalho. Há uma credibilidade muito grande, porque já temos muita experiência, e foi feito de uma forma muito comprometida. Conseguimos chegar no teto que o prefeito determinou como gasto para ação. Agora é esperar as avaliações. Estamos inovando no formato — bastante complexo. Liderar uma equipe com vários órgãos institucionais, cada qual com sua demanda, e ao mesmo tempo ouvir todo mundo com muita atenção… Uma equipe inteira trabalhando para entender o tamanho do desafio. Toda a equipe do Evandro tem muito respeito pelo que fazemos, e isso se reflete quando converso com minha equipe. O prefeito colocou como prioridade, então todas as secretarias estão envolvidas. Imagina, cada uma com suas demandas particulares. É uma orquestra, comigo à frente comandando o Carnaval, mas há uma orquestra do próprio prefeito, do Júlio Castro, atendendo demandas urgentes. Se não tivéssemos essa união de forças e as pessoas que vieram comigo, com a expertise de colocar uma ação na rua, não teria saído. É experiência, muita negociação.
O POVO - Quais são as metas previstas do Carnaval para a gestão? O que se pretende alcançar neste ano?
Helena - Até pensamos inicialmente em ter mais dias de Ciclo Carnavalesco nas regionais, mas adaptamos até caber no orçamento, com uma defesa muito grande de pelo menos um dia para experimentar esse formato. A descentralização foi bem recebida pela cidade, há toda uma festividade em torno dessa decisão. Agora, veremos como funciona na prática. Farei uma avaliação da logística, da participação efetiva das regionais, do público, se acolheu bem ou não, se acertamos nos locais. Tudo é experimento de uma primeira tomada de decisão sobre como descentralizar as ações dos eventos estruturantes da secretaria. O aniversário entrará nesse formato.
Como todos os nossos programas e ações podem se espalhar pela cidade? Sabemos que todos gostaram muito, foi uma decisão bastante vibrada, mas agora veremos como será na prática. Se as pessoas vão se instalar nos polos, se o que pensamos como plano operacional deu certo. Nossa ideia é, após a abertura, sentar e fazer avaliação por semana, se a equipe é suficiente. Avaliaremos onde foram nossos erros e acertos e aprimoraremos essa tecnologia de gestão, que é se espalhar pela cidade. Estamos colocando pela primeira vez um palco daquele tamanho da Solange. O que pensamos como equipe, como operação, deu certo? Nossos relacionamentos deram certo? É esse tipo de curadoria? É uma grande aposta, mas não é infundada, pois já temos experiência nisso, tanto que conseguimos colocar em tão pouco tempo na rua. Entretanto, agora é avaliar o impacto. Com o positivo, aprimorar, e o negativo transformar em outra estratégia.
O POVO - Quais são os impactos da descentralização para a Cidade? O que ganham estes bairros com essa política?
Helena - Acho que o grande impacto agora é promover a experiência de acesso à Cultura e arte para todos. Fazer com que, através da cultura, a mão da gestão do nosso gestor maior, o prefeito, que tem como projeto político para essa cidade chegue a todos os lugares. Estamos colocando no Carnaval, mas reitero, sou a pessoa que vai percorrer todas as regionais para ouvir os artistas. Precisamos projetar o que essa secretaria faz e fazer com que outras pessoas tenham acesso à discussão em torno dela e possam ter acesso ao que ela propõe como oferta de experiência em cultura e arte. Esse será o grande impacto positivo. O desafio é a metodologia que estamos construindo para chegar até lá. Essa metodologia envolve articulação política, estratégia de logística, avaliação da estrutura técnica, curadoria, e tudo isso será analisado para ver o que deu certo ou não. Será pelas regionais mesmo?
Teríamos mais tempo para as lideranças? Após nos encontrarmos com os artistas, vamos dizer se não tem nada a ver com o dia que você pensou ou foi legal, como podemos participar mais de perto? Então, acho que o impacto positivo é isso. Estamos levando a prefeitura, através da Secretaria de Cultura, para todos os lugares, o que ela coloca como serviço, nesse primeiro momento, através da ação, da programação do Carnaval, e o desafio é a avaliação da metodologia para essa extensão. São as duas coisas que estão na minha cabeça no momento, e a partir daí vamos construir que tipo de relação teremos com essa cidade, por meio de eventos, editais, dos serviços propostos pelas OS.
A descentralização não é uma marca do Carnaval, é uma marca da gestão do prefeito Evandro. A programação é mais uma ferramenta de extensão dessa política, mas a digital pode ser, as atividades oferecidas pelos equipamentos também virão, em tudo que estou pensando, penso como essa gestão se territorializa. É algo que discuti muito no Dragão do Mar. Precisamos fazer uma gestão territorializada, porque agora estou em uma cidade inteira. O nosso desafio é traçar esse caminho e construir metodologia e avaliação. Não tenho expectativa de que tudo será perfeito, mas estou preparada para os desafios. Não é fácil entrar no território e construir algo do zero e ser avaliado como “a coisa mais linda do mundo” por todos na primeira experiência, mas temos que entrar. Entramos? Então avaliamos e qualificamos essa política de proximidade.
O POVO - Quando Evandro Leitão anunciou cortes de gastos na Prefeitura, o Ciclo Carnavalesco não foi atingido. Em redes sociais, houve, porém, alguns comentários críticos à decisão de não incluir o Carnaval, como se o evento fosse algo “supérfluo”. Como sua gestão trabalhará para um reconhecimento maior do potencial da cultura em Fortaleza?
Helena Barbosa - Nossa proposta, inclusive por meio de um mapeamento, é identificar quem são os agentes culturais e quais são os polos criativos de cada localidade, de modo a fortalecê-los por meio de uma política pública voltada para a cultura. Sempre defendi que uma boa gestão é aquela que amplia as possibilidades. Ainda que alguém não tenha interesse, o essencial é que essa escolha seja feita conscientemente. Nossa obrigação é proporcionar o acesso, permitindo que as pessoas possam dizer: “Gostei, achei interessante” ou “Não gostei, mas tive a liberdade de escolher”. Sobre essa questão que você levantou, acredito que é fundamental tornar cada vez mais evidente o impacto gerado ao se levantar um palco em determinado local. Quando me questionam: “Quanto está sendo investido em artistas?”, minha primeira resposta é que sim, estamos investindo nos artistas, até para qualificar a cena.
Os cachês desses editais são muito altos para o mercado desse tipo de programação para os artistas da Cidade. Esse edital valoriza muito os artistas credenciados, e digo com base em uma análise do mercado atual. No entanto, é importante ressaltar que, quando se fala de cultura, não estamos falando só de artistas. Há uma ampla rede de trabalhadores da cultura, e ao ativarmos esse setor, movimentamos direta e indiretamente outras cadeias produtivas.
O POVO - Em quais aspectos?
Helena - Quando um palco é montado, não há apenas artistas em cena. Há produtores, técnicos, fornecedores, cerimonialistas e comunicadores, e esse circuito só roda porque foi montada uma programação estruturada. Indiretamente, eu aciono rede de economia do próprio lugar. Você mexe com tudo ali. Além de promover essas experiências e trocas, também estamos investindo fortemente em uma rede econômica. E isso não se restringe ao turismo de praia, cujo impacto é significativo, mas são ativados diversos polos da economia criativa dos lugares. Eventos culturais movimentam vendedores ambulantes, comerciantes locais e trabalhadores informais, gerando uma ampla cadeia econômica.
A comparação entre cultura e saúde, por exemplo, não cabe, pois existem orçamentos para cada pasta. A cultura tem um papel fundamental na formação da mentalidade da população também. Muitas vezes, não compreendemos todo o ciclo criativo. O primeiro contato com a cultura pode transformar vidas. Eu mesmo sou fruto de uma experiência com arte e cultura, que iniciou por meio da formação, levou à experimentação e, posteriormente, à inserção no mercado da economia criativa. Precisamos comunicar melhor essa importância.
Sempre reforço com a nossa comunicação que o Carnaval não são só artistas, são trabalhadores da cultura. São R$ 2,5 milhões para atrações nacionais, mais de R$ 3 milhões para artistas locais e R$ 16 milhões com os trabalhadores da cultura. Sem essa rede de profissionais, não dá. Tem que parar com essa mentalidade de que artista é o único trabalhador da cultura visado. Estamos investindo R$ 16 milhões. Do cordeiro ao diretor de palco, são todos trabalhadores da cultura. Temos que saber cada vez mais nos comunicar para que isso ganhe outro tipo de peso.
O POVO - Em 30 de janeiro, foi assinado o tombamento da casa do Frei Tito. Como a Secultfor trabalhará para a preservação da memória histórica de Fortaleza?
Helena - A coordenadoria de patrimônio da Secretaria de Cultura é muito qualificada. As pessoas que estão lá já têm trabalho muito bem fundamentado de política de patrimônio. O Conselho de Patrimônio desempenha um papel sério e essencial. Logo nos primeiros dias de gestão, me encontrei com ex-secretários de cultura para entender o que funcionou, o que não funcionou e quais erros podemos evitar. Algo que foi dito foi para olhar com cuidado para o patrimônio, porque sempre é uma grande luta, especialmente em uma cidade carente de memória como Fortaleza.
Paralelamente ao Carnaval, as demandas da equipe de Patrimônio me tomaram um grande tempo nesse primeiro mês. Esse avanço só foi possível porque já existe uma equipe preparada, que elaborou um dossiê detalhado sobre cada bem material e imaterial, o que temos de desafios… Só conseguimos avançar porque temos, na Procuradoria Geral do Município, a figura do Hélio Leitão, que tem o mesmo entendimento da importância da manutenção do patrimônio para a memória desta cidade. Isso, para nós, é uma grande prioridade. Temos uma lista de itens que estão no alto nível de urgência e tem lutas que vamos ganhar e lutas que vamos perder, porque envolve muitos interesses.
Em torno de um bem tombado há muitos interesses e muita articulação política. Não é fácil em um mês conseguir o tombamento definitivo da casa de Frei Tito. Há uma disposição política nas pessoas do procurador, do prefeito e de sua equipe na importância do patrimônio. Estou bastante animada. Nos encontramos também com o reitor da Universidade Federal do Ceará (UFC) e o pró-reitor de Cultura da instituição, que compartilham uma visão semelhante à nossa. Esse é o momento de fortalecer entidades que serão muito úteis nessa articulação política voltada à preservação. Hoje, estamos em um momento de articulação, já temos uma lista do que ‘iremos para cima’, e vamos fazer um plano para saber as estratégias de avanço da política de patrimônio.
O POVO - Estendendo a discussão para a preservação de equipamentos culturais, há um olhar também sobre o Teatro São José, a Biblioteca Municipal Dolor Barreira…
Helena Barbosa - As três bibliotecas. Volto para o ponto da descentralização: para mim, é inadmissível que as bibliotecas municipais não tenham relação direta com as bibliotecas comunitárias, assim como os museus municipais deveriam estar conectados aos museus orgânicos. Não é possível abrir um equipamento cultural em cada bairro. Temos que nos conectar com esses polos de criação e incentivá-los. Ainda temos editais a serem lançados pela Política Nacional Aldir Blanc (Pnab) de Pontos de Cultura, de povos e comunidades tradicionais…
Onde estão esses polos e como, através do que temos de estrutura, fomentamos isso? Recebi algumas autoridades políticas, e estamos construindo um plano. Para isso ser finalizado, preciso encontrar outras pessoas e fazer circuito com artistas, mas como todas essas forças políticas conseguem fortalecer esse plano? Ainda não temos na Secultfor uma política bem estruturada sobre livro e leitura. Para mim, é fundamental. Não há uma política bem estruturada de cidadania cultural, que também é fundamental. Temos esse desafio de imprimir essa marca a partir de uma releitura da estrutura e de um novo plano de ação da secretaria.
O POVO - Então, especificamente sobre essas bibliotecas, ainda será analisado o que será feito?
Helena - Sim, porque ainda não consegui ir aos equipamentos. Estávamos organizando o funcionamento interno da Secultfor e da OS. Agora, irei para o externo, com visitas aos equipamentos. Já tenho um levantamento, mas quero escutar todos. Vamos construir isso juntos. Vamos fazer grupos de trabalho, que vão avaliar o que está dando certo e o que pode ser implementado. Estamos enfrentando uma redução orçamentária. Então, vamos construindo dentro do possível, e sem agonia. Nessa escuta, há a preocupação de saber como as demandas serão atendidas pelas políticas já estabelecidas, e o que podemos fazer para atendê-las. Há coisas que poderemos atender e coisas que não, mas vou dizer. É preciso ter transparência nesse diálogo. A minha postura é dizer até onde pode ir e até onde não dá para ir. É muito bacana, porque você pelo menos sabe que tipo de expectativas você tem que alimentar. Estamos nesse momento.
O POVO - Falando sobre investimentos, quais foram os principais gargalos percebidos para a cultura em Fortaleza ao longo do primeiro mês à frente da Secultfor? Há redução orçamentária, mas em quais pontos considera haver maiores dificuldades?
Helena - Hoje, preciso pelo menos ter braço para conseguir levantar isso. Tivemos que fazer redução de 30%, de acordo com decreto do prefeito, nos comissionados e terceirizados. Estamos um pouco sobrecarregados para fazer este levantamento. Há editais para rodar. Não consigo dizer agora, por exemplo, qual linguagem está mais fragilizada. Acho que o momento é de fortalecer a secretaria institucionalmente. Não dá para sair por aí quando o fundamento está pantanoso. Tenho que fortalecer essa base, ouvir todo mundo para saber onde está essa fragilidade, e a partir disso partir para um plano de ação. Hoje, preciso fortalecer a secretaria.
Como atualizo as coordenadorias, programas, editais, fluxos de processos… Lançar editais é fácil demais, quero ver é rodar e pagar. Então, é preciso estar qualificado institucionalmente. Fizemos a força-tarefa para rodar o Carnaval, mas não é bacana para ninguém, até porque não precisamos colocar os trabalhadores da Cultura da secretaria em um grau de sobrecarga para atender a uma demanda que poderia facilmente estar rodando em seu tempo normal. Fizemos isso em um modelo de urgência, mas em nenhum momento quero colocar ninguém nessas condições de trabalho. O momento hoje é de fortalecer a institucionalidade — e já estamos fazendo. A partir disso, desenhar essas fragilidades e suas resoluções.
O POVO - Você mencionou ainda ser necessário realizar um levantamento, mas, idealmente, como a Secultfor pretende fortalecer as diferentes linguagens artísticas presentes na Cidade? Haverá destaque para festivais de teatro, de música, por exemplo?
Helena - Já existem festivais consolidados. Acredito que, por meio da nossa aproximação com o conselho e com os Fóruns de Linguagem, devemos definir o que é mais estratégico atualmente. Há eventos estruturantes, como os festejos juninos, a Paixão de Cristo, o Carnaval, o aniversário de Fortaleza, além dos festivais de teatro e música, que já estão estabelecidos. No entanto, é essencial identificar o que é mais estratégico para a Cidade no momento. Não tomarei essa decisão sozinha. Por isso, falo sobre o fortalecimento institucional. Como o conselho está representado? Como o Fórum de Linguagem está representado? E como apresentaremos as opções a esses conselhos?
A decisão será tomada de forma conjunta. Obviamente, há aspectos que precisam ser atualizados, como o "Edital das Artes", de grande importância para a cena cultural. Também é preciso fortalecer a Vila das Artes, que desempenha um papel fundamental. Temos que fortalecer a OS, o Centro Cultural Belchior. Tenho achado os equipamentos mais frágeis ainda, como se precisassem de uma "grande vitamina" de gestão, pois estão desatualizados, “menores” do que eles são. É preciso aplicar um pensamento de gestão em cima deles. A Vila das Artes é uma grande referência. Participei da primeira turma em 2007. Existia um conselho para discutir o que é a Vila, o que é esse complexo. Precisamos fortalecê-la institucionalmente, pois os recursos estão aí, não mudaram muito. Deveria estar em outro grau de debate, formação crítica, profissionais.
É essencial fortalecer esses equipamentos, principalmente por meio da atuação de bons gestores, experientes. O que fizemos para colocar de pé o Carnaval conseguiremos fazer em outros desafios se contarmos com pessoas experientes à frente, que tenham conexão com a cena cultural, capacidade de articulação política, gestão de processos e execução financeira. É necessário reunir diversas habilidades em um só profissional. Para mim, é muito triste ver que a Vila das Artes, por exemplo, não está entregando o mesmo que ela sempre entregou.
O Centro Cultural Belchior, que já foi muito ativo em seu auge, com shows e eventos, sendo palco para a Cidade, conduzindo o Férias na PI, se relacionando com os territórios... É fundamental que as pessoas envolvidas tenham em mente a importância de mobilizar a comunidade e os territórios.O Centro Cultural Belchior precisa se relacionar com o posto da Draga, com os ambulantes da Praia dos Crush, com a comunidade da Graviola. Ter bons gestores é o que vai mudar o rumo das coisas. No lado financeiro, vamos atrás de manter o orçamento. Depois de seis meses, veremos como qualificaremos a expansão deles.