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Quais são os impactos da descentralização do Carnaval em Fortaleza?
Vida & Arte

Quais são os impactos da descentralização do Carnaval em Fortaleza?

Lema do Ciclo Carnavalesco 2025 em Fortaleza, descentralização dos polos da festa é debatida por artistas que participam dos festejos
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Fortaleza- CE, Brasil, 01-02-25: Solange Almeida abre a temporada de pré-carnaval de Fortaleza com show no Conjunto Ceará.(Fotos: Lorena Louise / Especial para O POVO) (Foto: Lorena Louise/Especial para O POVO)
Foto: Lorena Louise/Especial para O POVO Fortaleza- CE, Brasil, 01-02-25: Solange Almeida abre a temporada de pré-carnaval de Fortaleza com show no Conjunto Ceará.(Fotos: Lorena Louise / Especial para O POVO)

Há uma semana, o Conjunto Ceará recebeu multidão para show de Solange Almeida no segundo dia do Pré-Carnaval de Fortaleza 2025. Para além da relevância da atração, o momento foi histórico pela estreia do lugar como polo do ciclo carnavalesco.

A iniciativa integrou o planejamento da Prefeitura de descentralizar a festa, alcançando todas as regionais. Ao O POVO, a artista destacou os potenciais da descentralização: "vi muitas barracas, a economia local sendo movimentada. É importante".

A afirmação da cantora não foi solitária. Para Jéssica Viana, trabalhadora ambulante do ramo de bebidas, foi "uma forma de fazer renda extra, trabalhar mais próximo de casa e movimentar o comércio da região". Já para a espectadora Nadine Salgueiro, 32 anos, ir ao show foi uma oportunidade de conhecer o Conjunto Ceará.

Sob diferentes aspectos, a descentralização do Ciclo Carnavalesco foi vista como positiva tanto para quem trabalha no período quanto para quem desfruta. Em entrevista ao O POVO publicada na terça-feira, 4, Helena Barbosa, titular da Secretaria da Cultura de Fortaleza (Secultfor), observou como grande impacto da política "a promoção da experiência de acesso à Cultura e arte para todos".

Mas, afinal, quais contextos são demarcados com a ampliação de 10 para 20 polos no ciclo carnavalesco? Entre maior alcance de público e a importância de fortalecer polos já consolidados, artistas experientes no Carnaval de Fortaleza refletem sobre as dinâmicas da política.

Nome marcante do Carnaval na Capital, o compositor e pesquisador Pingo de Fortaleza "recebeu de forma muito positiva" a informação de que o ciclo carnavalesco se espalharia por mais polos. "Era preciso ter o olhar mais atento para que não só a fruição, mas a produção de toda a Cidade, incluindo as periferias, fossem incluídas nas programações", pondera.

O músico lembra como o evento consegue envolver toda a cadeia econômica, trazendo contribuições que vão além do consumo cultural. Coordenador do Maracatu Solar, ele está acostumado a participar dos festejos carnavalescos. Como afirma, a celebração sofreu mudanças nas últimas décadas. Nesse leque estão os olhares para as agremiações, que trabalham durante todo o ano e carregam "conjunto de heranças étnicas, ancestrais e artísticas" de seus bairros. Por isso, é importante, em sua visão, pensar cada segmento dentro de seu contexto histórico - o que se expande para os polos.

"As agremiações vêm de lugares distintos, então há um empoderamento muito grande da população. É importante pensar na descentralização, mas também garantir o fortalecimento desses polos e espaços historicamente constituídos". Para ele, a descentralização pode deixar como legado a marca de pensar a Cidade na totalidade e valorizar espaços que durante muito tempo foram esquecidos.

Assim como Pingo de Fortaleza avalia como necessário também pensar no fortalecimento de polos historicamente constituídos, a especialista em Gestão e Políticas Culturais, Norma Paula Moreira, pontua a importância de todos os polos serem igualmente contemplados com estrutura física, organização urbana e de produção. "Diferente disso, a inclusão fica comprometida", diz. Ela ressalta que a descentralização das diversas políticas é primordial em uma gestão, e lembra como o ciclo carnavalesco gera economia para além da difusão cultural. Descentralizar provoca a inclusão "da periferia que não consegue chegar aos outros polos" por vários motivos.

Maracatu

Profissional da Cultura há 25 anos em diferentes linguagens, Norma é brincante de Maracatu e Afoxé desde 2009, bem como coordenou os Carnavais de Fortaleza entre 2018 e 2020. Hoje, é produtora do Bloco do Zé Almir, Afoxé Omõrisà Odé e do cantor Jean Dumont e Banda Farra Dusbons.

O bloco surgiu da brincadeira de amigos que se encontravam para "tirar um samba" depois das giras no Terreiro Reis Tupinambá, na Granja Lisboa. Com os pedidos da comunidade foi criado o Cordão do Zé Almir, que fazia um cortejo pelo bairro. Depois, houve a evolução para bloco, passando também a desfilar na Avenida Domingos Olímpio.

Para Norma, a descentralização pode contribuir para a formação de nova plateia: "o Bloco do Zé Almir é democrático e inclusivo. Tocar em outros polos onde nunca estivemos será uma alegria. Difundir cultura de paz, antirracista e em defesa da liberdade religiosa é nosso papel - e a Cidade ganha".

Quem compartilha de visão semelhante é a cantora Cris Malagueta, com carreira musical iniciada em 1998 e repertório de apresentações por polos como Mercado dos Pinhões, Benfica e Mocinha. Em sua visão, os músicos poderão levar seus trabalhos a outros públicos. "Todo mundo vai sair ganhando: a população, que vai ter acesso com mais facilidade a um entretenimento gratuito, e nós, músicos, que vamos poder mostrar nosso trabalho por toda a Cidade", diz. Cris - que se dedica ao samba e é do Bairro de Fátima (Regional 4) - destaca a quantidade de empregos que serão gerados.

Criada no Planalto Ayrton Senna (Regional 8), a banda Feed Semana chega a mais um Ciclo Carnavalesco. No cenário musical cearense há mais de sete anos, o grupo formado por Rodrigo Silva e Adriano Barba é credenciado pela Secultfor para o Carnaval de Fortaleza há quatro anos. As apresentações nesse período incluem também a Região Metropolitana e outras cidades vizinhas. Para Rodrigo Silva, uma festa de Carnaval deve ser, acima de tudo, inclusiva. Por isso, vê como positiva a descentralização do Ciclo Carnavalesco e avalia que a ação trará benefícios para a Capital. "Com participação do Fortalezense em massa, movimentando a economia local e trazendo emprego direto e indireto para todos os envolvidos com essa festa". (Colaborou Gabriel Damasceno)


Pré-Carnaval de Fortaleza

Praia de Iracema

  • Agremiações e Moacyr Luz & Samba do Trabalhador
  • Quando: das 16h às 22h30min
  • Onde: Aterro da Praia de Iracema (avenida Historiador Raimundo Girão, 800 - Praia de Iracema)
  • Gratuito

Polo de Lazer da Avenida Sargento Hermínio

  • DJ Thalu, Samba do Zé e Banda Dó Ré Mi
  • Quando: 16h às 18h30min
  • Onde: avenida Srg. Hermínio Sampaio, s/n - São Gerardo
  • Gratuito

Lagoa de Messejana

  • DJ Adrian Brasil, seguido por Prabalá e Tropa do Rubão
  • Quando: 16h às 18h30min
  • Onde: rua Padre Pedro de Alencar, s/n - Messejana
  • Gratuito

Confira a programação dos polos Mocinha, Praça do Ferreira, Benfica e Praça do Mirante

Acompanhe a agenda do Pré-Carnaval deste fim de semana clicando aqui

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