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Projeto transforma a vida de crianças e jovens do Barroso, em Fortaleza
Vida & Arte

Projeto transforma a vida de crianças e jovens do Barroso, em Fortaleza

Instituto Além dos Olhos, no Barroso, amplia horizonte de crianças e jovens da comunidade através do esporte e da arte
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Fortaleza- CE, Brasil, 30-01-25: O Instituto Além dos Olhos realiza atividades de leitura, pintura e artes marciais com crianças e adolescents do Barroso. (Fotos: Lorena Louise / Especial para O POVO) (Foto: Lorena Louise/Especial para O POVO)
Foto: Lorena Louise/Especial para O POVO Fortaleza- CE, Brasil, 30-01-25: O Instituto Além dos Olhos realiza atividades de leitura, pintura e artes marciais com crianças e adolescents do Barroso. (Fotos: Lorena Louise / Especial para O POVO)

Por trás de um portão azul, em um bairro que muitos consideram violento, existe um lugar que vai na contramão de tudo o que é noticiado nos jornais. Um espaço onde os sonhos de crianças e jovens podem se tornar realidade - seja praticando algum esporte, pintando seu personagem favorito de um desenho animado, ou embarcando em um mundo imaginário que, às vezes, só um livro pode proporcionar.

O Instituto Além dos Olhos mostra que, ao envolver a comunidade em diferentes atividades, é possível desenvolver habilidades que transcendem o cotidiano da periferia, ampliando horizontes e criando novas perspectivas de futuro.

Localizado no Barroso, o projeto social nasceu em 2018. Foi idealizado pelos jovens Ruth dos Santos, Edson Ronner e Halina Jeniffer, que juntos pensaram em criar uma "ferramenta de transformação social" para dar voz e visibilidade aos moradores do bairro, contribuindo assim para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária.

Tudo começou com ações sociais para ajudar e acolher pessoas em situação de rua. Logo depois, surgiu a ideia de proporcionar atividades para crianças e jovens - que, atualmente, incluem jiu-jitsu e vôlei (realizado nas quadras de duas escolas do bairro), além de oficinas de fotografia, pintura e desenho.

150 crianças atendidas

O projeto, que  atende 150 crianças, possui uma sede cedida pela mãe de um dos fundadores e funciona por meio de doações de moradores, que contribuem para cobrir os custos com água e energia.

A pedagoga Ruth dos Santos conta que o bairro é conhecido por muitos por ter sofrido a maior chacina da história moderna de Fortaleza, com 14 pessoas mortas em 2018, fato que assombra os moradores até hoje, mas ela acredita que isso precisa mudar. A professora também destaca que a ausência de equipamentos culturais e esportivos na região é preocupante.

"Vemos o trabalho do instituto como uma ferramenta para tirar essas crianças dessa visão, dessa realidade da criminalidade, e mostrar para elas que existe um outro sonho possível", diz Ruth.

"Infelizmente, elas crescem pensando que não terão emprego ou que vão se envolver com o crime. Mas essas não são as únicas opções. Aqui no instituto, com o jiu-jitsu, o vôlei e outras atividades, mostramos que há outra realidade, em que os jovens podem seguir caminhos diferentes. Por isso, vemos o instituto como uma ferramenta de transformação social", enfatiza.

Quando questionada sobre os impactos que a instituição observa na vida das crianças e jovens após sua participação nos programas, a idealizadora responde: "as atividades esportivas e as rodas de conversa ajudam a melhorar a comunicação, o trabalho em equipe e a convivência, sendo também uma forma de manter nossos jovens afastados de situações de risco".

Fortaleza- CE, Brasil, 30-01-25: O Instituto Além dos Olhos realiza atividades de leitura, pintura e artes marciais com crianças e adolescents do Barroso. (Fotos: Lorena Louise / Especial para O POVO)
Fortaleza- CE, Brasil, 30-01-25: O Instituto Além dos Olhos realiza atividades de leitura, pintura e artes marciais com crianças e adolescents do Barroso. (Fotos: Lorena Louise / Especial para O POVO)

O impacto na vida de uma criança

Correndo para todos os lados e com o desejo de fazer todas as atividades ao mesmo tempo, o pequeno Miguel, 4 anos, chama a atenção pela desenvoltura e, principalmente, pelo interesse pela câmera fotográfica.

Ele é autista e também possui TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade). Sua mãe, a jornalista Ana Karoline Rodrigues, conta que o Além dos Olhos é um espaço onde seu filho consegue se sentir à vontade para explorar suas habilidades.

“Tivemos uma oficina de fotografia e ele se apaixonou de imediato, embora eu nunca tenha mostrado nada relacionado a isso para ele. Isso é muito legal de observar, ele realmente se encantou, e o fato de ser sempre muito bem recebido faz toda a diferença; todo mundo criou um vínculo com o Miguel”, conta.

Ela também ressalta a importância do projeto em mostrar outra realidade do Barroso, fazendo com que as crianças não se percam na “facilidade” que o mundo oferece hoje.

“A mídia sempre retratou o Barroso como um bairro perigoso, como se só houvesse coisas ruins. E o projeto vem justamente para mostrar a outra realidade daqui: um lugar onde existem atletas, jogadores de futebol, uma bailarina que está, inclusive, participando de um reality show. O projeto vem para mostrar essa outra realidade e fazer com que essas crianças não se percam na facilidade que o mundo oferece hoje”.

Biblioteca comunitária

Outro diferencial do projeto foi a criação da biblioteca comunitária Professora Margareth, que oferece oficinas e mediação de leituras para as crianças e jovens. A auxiliar administrativa Maria Cecília frequenta o projeto desde sua fundação e hoje é responsável por organizar algumas atividades.

Ela conta que a ideia de criar o espaço surgiu com a ajuda da Biblioteca Viva, também localizada no Barroso, e que todos os livros disponíveis no local foram doados por familiares de alunos ou por outras bibliotecas comunitárias de bairros da cidade.

“Atualmente, realizamos o clube do livro, que acontece aos sábados, de forma quinzenal, e, quando alguma ONG ou projeto entra em contato conosco, organizamos um encontro em grupo”.

“Não possuímos um acompanhamento fixo para identificar se os jovens estão melhorando na leitura, mas percebemos que, quando eles vêm para o treino de jiu-jitsu, demonstram grande interesse em visitar a biblioteca, ficando lá, olhando os livros. Só o fato de ter a biblioteca já desperta um certo interesse, eles pegam, leem ou olham as imagens dos livros, e sempre incentivamos o hábito da leitura”.

Fortaleza- CE, Brasil, 30-01-25: O Instituto Além dos Olhos realiza atividades de leitura, pintura e artes marciais com crianças e adolescents do Barroso. (Fotos: Lorena Louise / Especial para O POVO)
Fortaleza- CE, Brasil, 30-01-25: O Instituto Além dos Olhos realiza atividades de leitura, pintura e artes marciais com crianças e adolescents do Barroso. (Fotos: Lorena Louise / Especial para O POVO)

Repassando o que se aprende

Um exemplo de como repassar o que se aprende para o próximo dentro do projeto está nas histórias dos jovens Gabriel Santana e Ana Carolina dos Santos. Atualmente, ambos são responsáveis pelas atividades de desenho, pintura e jiu-jitsu no instituto.

"Comecei a frequentar o Além dos Olhos em 2019, fui logo para o jiu-jitsu e não parei mais de vir. O que mudou bastante na minha vida foi o meu comportamento, me deu mais calma para lidar com as coisas e conversar com meus amigos. Hoje, eu ensino as crianças a desenhar, já que entendo um pouco sobre isso, e, particularmente, é muito melhor ficar aqui do que na rua", expõe Gabriel.

"Tem muitas crianças que estão na rua fazendo nada, e isso é uma oportunidade de tirá-las de um ambiente perigoso e colocá-las em um local que oferece várias atividades. No instituto, elas ficam mais seguras, a gente transmite mais educação, e é uma oportunidade boa para aqueles que não têm condição de pagar para praticar essas atividades, que aqui são gratuitas", relata Gabriel.

Já Ana Carolina revela que frequentar o Além dos Olhos a fez prosperar, criar amizades e despertar a vontade de ser professora. "O projeto me ajudou a amadurecer, porque fui criando responsabilidade. Encontrei novos amigos, uma família que me acolhe. Foi um projeto que realmente me ocupou, preencheu meu tempo", elucida.

"Eu nunca tive muitos amigos antes de vir para cá, então o projeto realmente expandiu as minhas amizades e me tornou uma pessoa mais aberta com os outros. Estou vendo que tenho uma vocação para ensinar, o que está me inspirando", projeta Carolina para o futuro.

 

Acompanhe o Instituto Além dos Olhos

  • Instagram: @institutoalemdosolhos
  • Ajude através do pix: 51006251000114
  • Mais informações: (85) 99449-3196

 

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