O Carnaval é uma época em que a tradição e a criatividade se reúnem nos bloquinhos. Seguram as mãos dos amigos e, juntos, tomam goles de empolgação e animação para aproveitar os dias mais coloridos e eufóricos do ano.
E, para aqueles que fazem as próprias fantasias, os famosos DIY (sigla em inglês para "Do It Yourself" ou "faça você mesmo"), o momento vai além da escolha de um traje.
Para alguns, confeccionar as roupas de Carnaval não é somente criar visuais chamativos, mas também perpetuar tradições culturais e resgatar o sentimento de pertencimento e identidade. Vale destacar a praticidade: desde a produção das roupas, a liberdade de escolher seu estilo carnavalesco até a adaptação às necessidades pessoais. Para o social media Felipe Caetano, a tradição e a paixão por criar fantasias vêm da infância.
"Cresci em um bloco de Pré-Carnaval organizado pela minha família e era quase natural ter o compromisso de escolher fantasias para o período carnavalesco. Já adulto, segui com a tradição e até hoje penso e crio minhas fantasias", conta. Ele relata que tenta adaptar as roupas conforme o momento que o mundo está vivendo, seja com um meme que está em alta ou uma sátira política.
"Criar a própria fantasia proporciona uma identificação mais especial com as pessoas que a gente encontra, pois elas geralmente ficam surpresas, por ser algo fora do esperado", diz Felipe.
Ele acredita que a melhor forma de montar uma boa fantasia é com itens básicos encontrados em casa, mas enfatiza que vale recorrer ao Centro da Cidade para garimpar os acessórios sem gastar muito. Seus investimentos ficam entre R$ 30 e R$ 200.
(Foto: Arquivo Pessoal )A estilista Marianna Calixto descobriu na faculdade a paixão por confeccionar suas próprias fantasias carnavalescas
(Foto: Arquivo Pessoal )A estilista Marianna Calixto descobriu na faculdade a paixão por confeccionar suas próprias fantasias carnavalescas
(Foto: Lorena Louise/Especial para O POVO)Fortaleza- CE, Brasil, 11-02-25: Folião produz fantasias de carnaval há anos. (Fotos: Lorena Louise / Especial para O POVO)
(Foto: Lorena Louise/Especial para O POVO)Fortaleza- CE, Brasil, 11-02-25: Folião produz fantasias de carnaval há anos. (Fotos: Lorena Louise / Especial para O POVO)
"Quase tudo se resolve com cola quente, alfinete, glitter e E.V.A. Tendo esses materiais, você tem um verdadeiro protótipo de ateliê carnavalesco. É importante testar a fantasia antes para entender se ela vai ter o conforto necessário para aguentar a festança".
Responsável pela página no Instagram Tropicália Viva, Felipe conta que a fantasia precisa ser confortável e criativa, podendo ir desde o mais simples, com uma frase de impacto, até o mais elaborado.
"Todas as fantasias retratam os meus pensamentos, gostos e humor. Geralmente, eu homenageio figuras de quem sou fã. Este ano, dediquei parte das minhas fantasias para homenagear Fernanda Torres e Rita Lee. Em outros Carnavais, já foi Gal Costa, Ivete Sangalo e Beyoncé. É como se eu pudesse materializar meus gostos em forma de fantasia", diz.
Já a estilista Marianna Calixto, cuja paixão por criar fantasias para o Carnaval começou na faculdade e de forma espontânea, revelou que foi nesse período que ela percebeu a necessidade e o desejo de se expressar criativamente. Todo o processo de confecção se tornou uma forma de empoderamento, já que, ao tomar as rédeas da própria produção, não depende de marcas ou de empresas - apenas das suas habilidades para moldar sua identidade.
"Gosto de dar um toque mais 'over' e vibrante nas minhas produções, então, para mim, sempre tem que ter brilho. Seja com glitter ou com pedrarias, não pode faltar. Além disso, acho que tem que ter um toque exagerado, seja com muitos acessórios, muitas cores ou modelagens mais amplas", explica.
Mas nem todo mundo tem dinheiro para investir em uma grande produção. Quando se junta maquiagem, glitter e fantasia, os preços podem acabar subindo no fim das contas. Por isso, Marianna, assim como Felipe Caetano, gosta de apostar em itens que já possui em casa. Ela relata que não sabe ao certo quanto gasta por fantasia, mas que os custos devem girar em torno de R$ 80 e R$ 170.
Ela cita materiais mais leves e coloridos como preferidos na hora da escolha, como tules, chiffon (tecido leve e translúcido, conhecido por sua textura suave e fluída), tecidos naturais e sintéticos, que acabam sendo mais resistentes - principalmente em caso de chuva - e que não pesam no corpo.
"Quando uso uma fantasia que fiz, sinto que estou vestindo o lado mais extravagante de mim, que, por vezes, mantenho mais escondido. O fato de ser algo único, feito por mim, torna a experiência ainda mais especial", finaliza Marianna.
Tudo leva ao Centro da Cidade
O Centro da Cidade é, sem dúvidas, o lugar que todos recorrem quando precisam dar vida às ideias mais inusitadas que fervem na cabeça nesta época do ano. Local frutífero para encontrar todos os acessórios desejados, até aqueles que você nem sabia que precisava. Em cada esquina, uma possibilidade pode se transformar em dez. E é com essa ideia que o designer Zé Filho sempre embarca no caminho do Centro para produzir as fantasias.
Ele descreve que já está no seu DNA produzir suas próprias roupas: "desde criança, lembro de estar escolhendo a cor do tecido no Centro da Cidade, pensando nos detalhes do que eu queria, no bolso, na cabeça, colando tudo com minha avó, e aquilo sendo único. Lembro de chegar na escola e saber que não ia ter ninguém igual a mim porque aquilo foi pensado por mim e eu acho que isso é muito especial, é o meu lugar de assinatura".
Entre as inúmeras produções feitas por Zé Filho estão as fantasias de "Entre a Serpente e a Estrela", música de Zé Ramalho; "A Loba", música de Alcione; e "Exagerado", música de Cazuza.
"Eu sempre gosto de usar paetê. Não é toda fantasia que tem paetê, mas a maioria das fantasias que quero fazer tem. Amo o paetê, o efeito e o brilho. Porque gosto do efeito de dia e à noite", explica.
Com os anos de prática, ele conta que possui preferência por alguns artefatos que facilitam a vida na hora da confecção. E, no Carnaval de 2025, o investimento chegou em um valor mais alto do que em anos anteriores: R$ 300 por fantasia.
"Olha, eu sou devoto da cola quente, acho que cola quente resolve tudo. Não tenho nenhum truque ou técnica exata de como usá-la, ela é muito intuitiva, você vai tacando e vai colando, e ela se torna a minha melhor aliada nessa época. Nem tudo dá para costurar, como no meu chapéu de palhaço que usei este ano, que foi todo feito à mão, com E.V.A, tecido, paetê e cola quente. Isso facilita muito a vida".
Para o designer, o que torna uma fantasia de Carnaval realmente original e criativa é o fato de ela ter sido pensada e desenvolvida por quem usa.
"Foi você que juntou aqueles materiais, que pensou naquela modelagem. Eu não tenho muitas questões com isso, acho que fazer fantasia é um pouco da nossa imaginação. Eu amo fazer as minhas fantasias e mostrar para as pessoas como meu processo criativo funcionou, porque elas olham e logo percebem algo original, pois não tem ninguém na rua com algo semelhante", afirma.
O Carnaval me fez muitas
"Meu encanto por Carnaval rebentou no meio de uma ladeira de Olinda. Era 2013, eu era uma Princesa Leia improvisada e adaptada ao calor pernambucano, quando descobri que não haveria mais Carnaval para mim sem fantasia.
Das possibilidades mais comuns, como arco-íris, sereia, constelação; as mais inusitadas, como um casal de passarinhos, O Beijo de Klimt e A Noite Estrelada de Van Gogh. Já encarnei muitas versões gliterinadas de mim.
E o mais legal: eu quem fiz. Sempre tem alguém que pergunta o que eu vou inventar e, um mês antes dos quatro dias mais divertidos do ano, começo a pensar e planejar. Fantasias escolhidas, me muno de ideias e criatividade - mantenho uma pasta constantemente atualizada no Pinterest e revisito meus Carnavais passados para ver o que é possível reaproveitar do meu acervo -, organizo uma ida longa e proveitosa ao Centro, perco o medo de cola quente, peço ajuda a alguém mais habilidoso com máquina de costura e faço da minha casa meu barracão. Das magias que só o Carnaval permite, neste ano, pelas ruas do Benfica, talvez você aviste um Farol do Mucuripe".
Ponto de vista da jornalista Domitila Andrade
Produzir seu chapéu de palha em casa
A estilista Marianna Calixto dá dicas fáceis para preparar seu chapéu de palha em casa antes de sair para a folia.