“Um projeto repleto de participações especiais”: é dessa forma que é definido o novo álbum de um dos grandes nomes do R&B dos Estados Unidos, o grupo The Stylistics. Com lançamento previsto para sexta-feira, 21, o trabalho conta com nomes como Shania Twain (ícone country), Ronnie Wood (The Rolling Stones), Gene Simmons (Kiss) e Billy F Gibbons (ZZ Top).
Intitulado “Falling In Love With My Girl”, o álbum serve também como coroação de quase 60 anos de trajetória desde que foi formado o The Stylistics. Criado em 1968 na cidade de Filadélfia, o grupo teve enorme popularidade na década de 1970, colecionando hits como “Betcha by Golly Wow”, “I'm Stone in Love With You”, “You Make Me Feel Brand New” e “You Are Everything”.
Muitas das canções do The Stylistics foram regravadas por nomes como Prince, Marvin Gaye, Diana Ross e Simply Red. Hoje formado por Airrion Love, Herb Murrel e Jason Sharp, o grupo se mantém ativo e em 2024 fez turnê com passagens em seis cidades brasileiras. Na última sexta-feira, 14, foi lançado o single “Yes, I Will”, com Shania Twain.
Em entrevista por videoconferência ao Vida&Arte, o cantor Airrion Love destacou como a base de fãs do grupo tem se renovado, adiantou a “identidade” do novo álbum, comentou sobre a parceria com Shania Twain e declarou seu amor pelo Brasil.
O POVO - O que podemos esperar de novos elementos e da identidade do novo álbum do The Stylistics?
Airrion Love - Estávamos preocupados no início, quando nos apresentaram a ideia de gravar este álbum. O álbum foi produzido por Tom Cridland, e Tom é um artista por si só. Na verdade, ele já abriu shows para nós algumas vezes durante turnês no Reino Unido. E quando Tom veio até nós com a ideia de produzir um álbum, apresentou algumas ideias e nós pensamos: "Uau, seria ótimo!", porque tudo o que fizemos no passado nunca teve um artista convidado ou alguém participando. Então, ele trouxe essas ideias, e as primeiras músicas que gravamos, acho que foram três, e naquela época ele apresentou uma música da Shania Twain como um dub. Quando ele reproduziu, eu disse: "Eu conheço essa voz!", e ele disse: "É a Shania". Eu respondi: "Não precisa tocar mais. Vamos gravar." Então, eu me apaixonei por aquela música na hora. Todas as pessoas com quem trabalhamos no passado sempre quiseram capturar “o som da Filadélfia”, “os Stylistics”. Então, eles pensam que, por terem os Stylistics, vão ter o som da Filadélfia. Eu pessoalmente não concordo, e eu disse ao Tom: "Você tem os Stylistics gravando, mas precisamos garantir que escolhemos músicas que sejam identificáveis como música dos Stylistics. Se for algo muito contemporâneo, não vai funcionar para nossa base de fãs, e não queremos perder isso". Então, passamos muito tempo escolhendo músicas, ouvindo elas e garantindo que não fosse uma mudança tão drástica em relação ao que as pessoas estão acostumadas a ouvir dos Stylistics. E, ouvindo o produto final, acho que fizemos um bom trabalho.
O POVO - O que pode nos dizer sobre a presença de Shania neste álbum? O que achou dessa parceria?
Airrion - Bem, infelizmente não tivemos a chance de conhecê-la. Ela nos enviou um vídeo agradecendo por gravarmos a música dela. Mas acho que isso abre um novo gênero para os Stylistics. Com a Shania sendo uma cantora country aqui nos Estados Unidos, acho que isso pode abrir esse mercado para nós e talvez gerar mais interesse em nossa música através do público country. Esperamos que seja bem-sucedido o suficiente para podermos fazer outra música com a Shania. Adoraríamos fazer isso. Mas estamos planejando tudo com cuidado, porque essa é uma nova direção para nós. Então, vamos ver no que dá.
O POVO - O senhor falou sobre “o som da Filadélfia”. Gostaria de relembrar quando os Stylistics alcançaram um grande sucesso, a música era diferente de agora. O que pensa sobre o cenário atual da música?
Airrion - Como em qualquer lugar, há coisas boas e ruins. Sou da velha escola. Há certas músicas que eu ouço. Algumas músicas mais jovens eu até consigo curtir, mas não sou muito fã de rap, embora eu tenha sobrinhos e primos que ouvem isso, e eles entendem mais do que eu. Mas sou uma pessoa mais velha. Sou um idoso, sabe? Meu gosto musical é diferente. E, felizmente, temos uma base de fãs que identifica a música dos Stylistics. Então, eles não são muito abertos a mudanças. Acho que, enquanto mantivermos a música identificável como dos Stylistics, estamos bem. Mas lançar algo totalmente novo, como o que está acontecendo hoje, acho que não funcionaria, pelo menos não para nós.
O POVO - O senhor falou sobre a base de fãs do grupo, e o The Stylistics alcançou mais de 1,5 milhão de ouvintes mensais apenas no Spotify em 2024. O que significa para o senhor a música da banda alcançar novas gerações?
Airrion - Vemos isso também em nossos shows, porque o público está ficando cada vez mais jovem. Em alguns casos, fomos informados por esses jovens que: "Uau, a música de vocês era a única música que meus pais tocavam". Tivemos um casal que trouxe seus filhos para o show, e acho que o mais velho tinha 24 anos. Disseram que cada um deles foi concebido ao som dos discos do The Stylistics. Isso nos deixa orgulhosos, saber que nossa música significou tanto para essas pessoas que elas despertaram o interesse em seus filhos. E nós os vemos lá. Mas acho que boa música é boa música. Seja você jovem ou velho, boa música vai agradar a todos. Aqueles jovens que compram nossa música estão comprando todo tipo de música. Eles compram rap, compram tudo e, felizmente, nossa música está incluída nisso. E os Stylistics fazem boa música. É bom ver isso.
O POVO - Em 2024, o The Stylistics fez turnê pelo Brasil. Como foi essa experiência?
Airrion - Eu amo o Brasil. No ano passado foi a primeira vez em aproximadamente seis anos que estivemos lá. Já fui ao Brasil cinco vezes, e cada vez é sempre pouco tempo. Estamos tão ocupados que não tenho a chance de aproveitar a cultura e o país. É um país lindo. No primeiro ano que fomos ao Brasil, a gravadora organizou passeios, e tivemos a chance de ver um pouco do país. Mas eu gostaria de ir sozinho, sem trabalho, nada. Apenas passar um tempo viajando pelo país e conhecendo mais. Mas o Brasil é um dos meus lugares favoritos.
O POVO - Com mais de cinco décadas de carreira, em 2028 os Stylistics vão completar 60 anos. Quais foram as principais mudanças na forma da banda fazer música? O senhor falou sobre a identidade dos Stylistics, mas acha que de alguma forma isso mudou ao longo dos anos?
Airrion - Eu não acho que mudou, mas não tínhamos um novo álbum em 17 anos. Este é o primeiro álbum produzido por um cara branco. Basicamente todos os produtores que tivemos eram produtores negros, e eles trouxeram um som urbano e contemporâneo. Então, essa era nossa preocupação ao trabalhar com o Tom, vindo de uma cultura branca. É um pouco diferente. É como um ritmo brasileiro. Sabe, dependendo da cultura, as pessoas podem sentir um certo ritmo. E não queríamos perder isso ao trabalhar com o Tom. Mas definitivamente é um estilo diferente de música neste álbum, mas acho que, quando ouvirem, vão dizer: "Oh, isso é dos Stylistics". Ou soa como os Stylistics. Acho que algumas pessoas vão dizer isso. E, depois de ouvir o álbum inteiro, acho que tem algo para todo mundo. Então, se alguém não gostar de uma música, pode gostar de outra. Vamos ver. Estou torcendo.
Falling In Love With My Girl