Logo O POVO+
Cogumelos e a nova gastronomia cearense
Foto de Vanessa Moreira
clique para exibir bio do colunista

Antropóloga, pesquisadora de culturas alimentares, doutoranda UFBA e Coordenadora de Cultura Alimentar e Pesquisa da Escola de Gastronomia Social Ivens Dias Branco

Vanessa Moreira gastronomia

Cogumelos e a nova gastronomia cearense

Pesquisadora Vanessa Moreira explora a produção dos cogumelos e o consumo atualmente no Ceará
Tipo Análise
Cogumelos vêm sendo incorporados aos menus
 (Foto: Fungo de Quintal/Divulgação)
Foto: Fungo de Quintal/Divulgação Cogumelos vêm sendo incorporados aos menus

No Ceará, há uma crença popular que associa cogumelos a frieiras, reflexo da confusão entre fungos comestíveis e micoses. Ainda assim, esses ingredientes vêm conquistando espaço nos supermercados e nos cardápios dos restaurantes. O pesquisador autodidata Daniel Muskito aponta para a possibilidade de essa associação ter sido reforçada por médicos, que generalizaram o conceito de fungo. No entanto, nem todo fungo irá formar um cogumelo, embora todo cogumelo venha de um fungo.

Ao longo da história, os cogumelos foram explorados não apenas na culinária, mas também na medicina e nas artes — muitas espécies possuem esporos coloridos, usados como pigmentos naturais. Apesar de sua enorme diversidade, no Ceará os cogumelos comestíveis ainda são amplamente associados a variedades cultivadas, como shiitake, shimeji, portobello e champignon. Iniciativas como a Cogumelos de Guaramiranga vêm fortalecendo essa produção, mas o conhecimento sobre espécies nativas e seu potencial gastronômico ainda é limitado. Enquanto em países como a França a caça aos cogumelos silvestres é uma tradição que enriquece a culinária local, por aqui essa prática
ainda é incipiente.

Para mudar esse cenário, a Escola de Gastronomia Social Ivens Dias Branco desenvolve uma pesquisa sobre cogumelos silvestres cearenses, registrando espécies nativas, reproduzindo sua genética e cultivando-as em estufas. O projeto nasceu da proposta de Daniel Muskito e é orientado por Jorge Ferreira, parabotânico agrofloresteiro, que se dedica à sociobiodiversidade da flora e funga brasileira, na busca pela valorização de ingredientes nativos e silvestres.

A antropóloga Anna Tsing explora as relações entre cogumelos, ambiente e economia, destacando o matsutake, que cresce em solos empobrecidos e clareiras resultantes da ação humana.

No Ceará, restaurantes como Muatuá, Sabbar, Terrana, Verdura, Pimenta Vegana, Gingado e Pizzaria Cogumelos vêm incorporando cogumelos em suas receitas. Mais do que uma tendência, essa atenção aos insumos e à cadeia produtiva representa um movimento que fortalece a relação entre cozinha, território e sustentabilidade. Afinal, o futuro da alimentação passa pela redescoberta de sabores que sempre estiveram entre nós, à espera de um olhar mais atento.

Foto do Vanessa Moreira

Ôpa! Tenho mais informações pra você. Acesse minha página e clique no sino para receber notificações.

O que você achou desse conteúdo?