A expressão "conheço de outros Carnavais" significa que você conhece alguém há muitos anos ou que uma pessoa fez parte da sua vida em alguma época do passado. Esse é o sentimento que a tradicional festa Carnaval da Saudade, realizada no Náutico Atlético Cearense, quer passar: relembrar as músicas e os momentos de folia de décadas anteriores.
A edição deste ano, intitulada "O Carnaval de Todas as Saudades", acontece neste sábado, 22, e celebra os 40 anos de existência do axé com presença da pioneira do gênero, a cantora baiana Sarajane.
A festa clássica de Fortaleza ocorre todos os anos desde 1968 - exceto em 2021, devido à pandemia motivada pelo Covid-19. O público-alvo costumava ser a chamada "terceira idade", mas, em 2025, os realizadores pretendem atrair também outras faixas etárias e conexões.
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Atual vice-presidente social do clube, Ricardo Aquino conta que participou de quase todas as edições do evento celebrativo. "Apesar de ser 'Carnaval da Saudade', com músicas mais antigas, o evento sempre trouxe um grande interesse das pessoas", pontua ao falar sobre a repercussão da celebração.
Esta edição marca a primeira gestão de Ricardo na organização do evento e, segundo ele, a proposta é misturar a tradição com a modernidade. "Queremos que mais pessoas possam ter espaço para aproveitar um Carnaval das antigas. Nosso público-alvo são pessoas com mais de 60 anos e queremos trazer pessoas mais novas, entre 40 anos e 50 anos, para relembrar seus Carnavais", explica.
A programação deste ano terá a presença de Sarajane, pioneira do axé music, além de apresentações da banda Xêrus e Beijos e da banda Pimenta Malagueta.
"É uma mistura de ritmos, de células rítmicas"
Em entrevista ao O POVO, a cantora Sarajane fala sobre a celebração de 40 anos do ritmo baiano. Cantora é a atração principal da festa que acontece neste sábado, 22, no Náutico Atlético Cearense.
O POVO - Como a música surgiu na sua vida?
Sarajane - Sempre esteve presente. Comecei aos 12 anos gravando jingle, música para comerciais e cantando na igreja evangélica. Aos 14, eu cantei no trio pela primeira vez, fiz o meu primeiro Carnaval em Salvador. Comecei minha carreira solo aos 17, estourei no Norte e Nordeste e, logo depois, nacionalmente. Então, segui a carreira fazendo o trabalho que faço até hoje. Já são 42 anos de carreira de música e esse ano celebramos 40 anos de axé.
OP - O que representa celebrar os 40 anos do axé music e a importância desse ritmo?
Sarajane - O axé music foi um trabalho que foi desenvolvido quando eu era uma menina no meio de rapazes, alguns hoje famosos. Nós queríamos movimentar o turismo de Salvador, que na época só o Rio de Janeiro aparecia quando se falava de Carnaval, principalmente. E aqui (Nordeste) tinha muitos artistas que trouxeram para a música popular brasileira diversos estilos, mas as pessoas precisavam sair daqui para poder fazer sucesso. No entanto, nós queríamos que o sucesso fosse aqui. E fomentar o turismo, fazer Salvador, a Bahia virar o que é hoje. O axé, que depois virou axé music, foi uma mistura de células rítmicas: a música do gueto, a música dos bairros pobres em que vivíamos, que era onde tinha os candomblés, onde tinha o povo da ancestralidade. Levamos para os grandes salões, misturando com merengue, com salsa, e não teve muito mistério. A gente fez uma nova música trazendo o legado desse povo preto que possui muita cultura para compartilhar. O nome axé music veio de um termo pejorativo, chamavam a gente de 'axezeiro', porque gostávamos desse estilo, que até então só tocava em prostíbulo, era um preconceito muito grande. Depois virou axé music. Axé é uma palavra em iorubá (grupo étnico e linguístico da África Ocidental) que quer dizer energia, e music ("música", em tradução para o português), virou música de energia. Não é um estilo de música, é uma mistura de ritmos, de células rítmicas. A importância do axé music para mim é que fui é a primeira mulher a cantar esse tipo de música, pioneira, lutei pela cultura e pelo turismo, pelo empreendedorismo dentro dessas funções.
OP - Quais são suas expectativas para retornar a Fortaleza e participar pela primeira vez do Carnaval da Saudade?
Sarajane - As melhores possíveis, porque pelo que pesquisei, é uma festa lindíssima. O clube eu já conheço, há uns anos toquei nele, é lindo, o público do local é maravilhoso. O cearense, na verdade, é um público muito especial, traz e transmite muita alegria. A cidade é linda, tem um povo acolhedor e carinhoso. Estou preparando um show super especial, dentro da conotação do que é a festa, para a gente trazer os axés das antigas. Também convidei a cantora da Pimenta Malagueta, uma das bandas que vai se apresentar, para cantar comigo. Fortaleza, como eu disse, é um dos lugares muito importantes do meu coração e eu estou super feliz de estar voltando aí.
OP - O que o Carnaval representa?
Sarajane - Sou uma cantora que nunca cantei em baile, nunca cantei em bares, que eu acho maravilhoso e é uma grande escola. Essa trajetória e o Carnaval são duas grandes escolas. Eu caí de paraquedas no trio elétrico, o Carnaval para mim é a minha casa. A gente trabalha no verão, mas trabalha muito, a gente não para. É muita entrevista, propaganda, são shows pelo Brasil inteiro, programas nacionais. É o meu momento, para mim é maravilhoso, eu amo.
"Um presente para Fortaleza"
Quem caminhou pela Beira-Mar nas últimas semanas foi presenteado com um show gratuito.
A campanha intitulada “Um presente para Fortaleza”, realizada pelo Clube Náutico Atlético Cearense, levou música nos fins das tardes de sábado para o público que está no calçadão.
As apresentações aconteceram de uma sacada que fica virada para a Avenida Beira Mar, permitindo que aqueles que visitaram o local apreciassem o show. A iniciativa era uma ação atrelada ao Carnaval da Saudade - como forma de incentivar o público a participar da festa e "presentear" a população de Fortaleza com boa música.
O Carnaval de Todas as Saudades