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Após corrida vitoriosa, Brasil faz história e ganha Oscar com "Ainda Estou Aqui"
Vida & Arte

Após corrida vitoriosa, Brasil faz história e ganha Oscar com "Ainda Estou Aqui"

Primeiro filme brasileiro a conquistar uma estatueta do Oscar, "Ainda Estou Aqui" faz história e merece todas as celebrações a nível de Copa do Mundo com a alegria e fevor do Carnaval do Brasil
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Walter Salles ganha 1º Oscar do cinema brasileiro com
Foto: MIKE COPPOLAGETTY IMAGES NORTH AMERICAGetty Images via AFP⁠ Walter Salles ganha 1º Oscar do cinema brasileiro com "Ainda Estou Aqui"

Em maio de 2024, "Ainda Estou Aqui" surgia nos noticiários como o filme em que Walter Salles e Fernanda Montenegro retornariam com a parceria audiovisual após 26 anos da estreia de "Central do Brasil". A produção baseada na obra do escritor Marcelo Rubens Paiva - que resgata a história da própria mãe, Eunice Paiva, durante os anos da ditadura militar - lança luz à memória de um dos períodos mais obscuros da história do Brasil e reforça o conceito de "lembrar para não repetir".

"Governos autoritários surgem e desaparecem no esgoto da história, enquanto livros, canções e filmes ficam conosco", afirmou o diretor carioca no discurso que escreveu para a noite de premiação. Visivelmente nervoso, ao receber o troféu de Melhor Filme Internacional, Walter chegou a colocar os óculos - mas não conseguiu encontrar o papel com os apontamentos. De improviso, emocionado, dedicou o prêmio a três mulheres: Eunice Paiva, Fernanda Montenegro e Fernanda Torres.

A subida do cineasta no palco do tradicional Dolby Theatre, em Los Angeles, na noite de domingo, 2, ampliou os diversos sentimentos que cercavam a primeira conquista brasileira no principal prêmio de cinema internacional: orgulho, esperança, alegria, entusiasmo, empatia e união. Sentimentos esses que foram crescendo e ganhando forma desde o lançamento do filme, em novembro de 2024, no Festival de Veneza, e eram revigorados a cada nova participação no circuito cinematográfico.

O filme também concorreu na categoria Melhor Filme e Fernanda Torres concorreu como Melhor Atriz. Até a indicação oficial na 97ª edição do prêmio da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, "Ainda Estou Aqui" marcou presença em diversas celebrações, participou de festivais e arrecadou vitórias relevantes - como o Critics Choice Awards, o Globo de Ouro, o Festival Internacional de Cinema de Veneza, o Festival de Roterdã, o Prêmio Satellite e o Prêmio Goya.

O caminho percorrido por "Ainda Estou Aqui" carregava a mesma ansiedade e agitação de estar acompanhando a Seleção Brasileira de Futebol nas oitavas, quartas, semifinais e grande final de uma Copa do Mundo. A realização da cerimônia do Oscar em um domingo de Carnaval acalorou os ânimos e energizou todos os que assistiam à transmissão banhados a glitter, suor e cerveja.

A emoção engrandecia a cada nova postagem de Selton Mello em suas redes sociais com os bastidores de um evento, trazendo todos os ângulos de um mesmo momento e aproximando os brasileiros dos menores detalhes. Com o carisma de um legítimo mineiro, Mello era a representação de todos os cidadãos durante esse período que ficará marcado na história do cinema nacional.

O marco não é feito apenas pela estatueta inédita, mas, e talvez principalmente, pela exibição em 9.552 sessões de cinema de todo o País, tendo somado 5 milhões de espectadores e se tornado uma das 15 maiores bilheterias nacionais de todos os tempos, segundo dados da Agência Nacional do Cinema (Ancine). Para a organização, os números expressivos são essenciais para a "repercussão artístico-cultural da nossa indústria" além de "marcar o novo encontro do cinema brasileiro com a sociedade, consolidando o retorno do público às salas de cinema, que crescem para o interior e para novas cidades".

Reencontro esse performado durante quatro dias de Carnaval nas cidades que promoveram a festa brasileira, com direito a estatuetas do Oscar de plástico, bonecos gigantes de Fernanda Torres, máscaras com o rosto da artista e vestes de seus personagens que devem se transformar em fantasias carnavalescas oficiais.

Atriz mais jovem a ganhar um prêmio no Festival de Cannes - feito pouco lembrado por aqueles que não acompanham o circuito audiovisual com tanta frequência -, Fernanda Torres, se assim podemos declarar, reescreve seu nome na atuação brasileira e está pronta para seguir os passos de Fernanda Montenegro, sua mãe, como a "dama da dramaturgia brasileira".

Por "dama", podemos relembrar uma das atitudes mais gentis feitas por um artista para com seu personagem. Ao iniciar as participações em eventos, passarelas e tapetes vermelhos, Torres informou que suas produções "não poderiam ser maiores que a história Eunice Paiva". O pedido da artista, recebido com atenção pelo estilista Antonio Cajado, foi visto durante toda a campanha de "Ainda Estou Aqui" com o uso de vestidos de tons e cortes discretos, sempre respeitando a mensagem que era transmitida no filme.

A imagem que Fernanda comunicava andava ao lado de suas atitudes generosas com as atrizes com as quais competia. Desde Demi Moore, considerada a principal concorrente da brasileira nas premiações; Karla Sofía Gascón, que equivocadamente iniciou uma campanha negativa contra "Ainda Estou Aqui"; e Mikey Madison, criticada por vencer a categoria de Melhor Atriz no Oscar. Fernanda Torres abraçou, elogiou e deu apoio às mulheres, independente dos resultados.

E ainda sobre mulheres, o resultado positivo para o Brasil, para o cinema, a arte e cultura nacional foi reforçado por Walter Salles no discurso de agradecimento: "Este prêmio também pertence a duas mulheres extraordinárias, Fernanda Torres e Fernanda Montenegro. Elas não apenas elevaram nosso filme, mas representam o fato de que a arte resistiu no Brasil".

 

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