"Vou sair pra ver o céu/ Vou me perder entre as estrelas/ Ver daonde nasce o Sol/ Como se guiam os cometas pelo espaço/ E os meus passos/ Nunca mais serão iguais" — este trecho é da música "Busca Vida", da banda Paralamas do Sucesso. Ele é usado neste texto para ilustrar como as pessoas apreciam o que está fora do Planeta Terra.
Paralamas cantaram essa, mas inúmeras outras foram entoadas por artistas do mundo afora, seja em português, inglês, espanhol ou mandarim. No cinema, o fascínio se mantém com narrativas de exploração ou outras sociedades vivendo em galáxias distantes.
Isso não é de agora, como lembra Larissa Paiva, conhecida como Larittrix nas redes sociais — povos antigos já observavam o céu e tentavam encontrar respostas em diferentes áreas do conhecimento. Cientista cidadã da Nasa, a cearense destaca que o avanço tecnológico e as redes sociais aumentaram a visibilidade para eventos astronômicos, o que atrai curiosos que nunca haviam "parado para o céu antes".
"Além disso, a astronomia tem um encanto natural: ela nos faz sentir pequenos diante da imensidão do universo, mas ao mesmo tempo nos conecta com algo grandioso", pontua a astronauta análoga (com treinamento, mas que não viajou ao espaço ainda).
Larissa começou a observar o céu ainda criança no quintal da casa onde vivia no interior do Ceará. Aos oito anos, descobriu a constelação das Três Marias e ficou "fascinada pelo universo".
Pois é, leitor, da sua casa você pode descobrir fatos sobre o espaço. Já se perguntou o motivo dos astros terem nome de deuses da antiga mitologia romana? Esta repórter já, e gastou horas em um dia qualquer da quarentena da Covid-19 para entender.
Mas retomando, o telescópio é necessário para a observação de fenômenos específicos, mas alguns podem ser vistos a olho nu, como chuvas de meteoros, conjunções planetárias, eclipses "e até a passagem da Estação Espacial Internacional". "Para acompanhar esses eventos, recomendo seguir perfis de divulgação científica nas redes sociais", aconselha Larissa.
Outro ponto positivo para o fortalezense é a proximidade da Cidade com a Linha do Equador, o que facilita "observar tanto o céu do Hemisfério Norte quanto do Sul (em partes), algo que não acontece em lugares mais afastados dessa linha imaginária". No entanto, a Cidade enfrenta uma questão: a poluição.
O professor e diretor do Planetário Rubens de Azevedo, Dermeval Carneiro, aponta a poluição luminosa como uma grande questão para a observação do universo. "O homem aprendeu a iluminar a noite, com a necessidade de trabalho, estudar, se mexer. Temos um planeta completamente iluminado durante as noites, principalmente nas capitais", afirma.
E continua: "Há um movimento mundial no sentido de orientar as cidades e administrações públicas que não precisa iluminar o céu, tem que iluminar o chão". De acordo com gestor, algumas cidades já adotaram a medida e, caso se popularize, a observação astronômica será facilitada.
Por isso, alguns fenômenos só podem ser observados longe de centros urbanos. Dermeval cita a passagem do cometa C/2024 G3 (Atlas), que ficou visível por dias, mas não foi possível observar da capital cearense. "Infelizmente, os grandes centros urbanos não permitem a observação astronômica de galáxias e nebulosas", lamenta.
Então, não é possível observar nada de Fortaleza? Calma, é possível. No planetário, por exemplo, além das projeções que acontecem no domo aos fins de semana, permitindo uma viagem educativa pelo universo sem sair do chão, há também a tradicional Noite das Estrelas, que acontece uma vez por mês.
Nesse evento, sempre marcado para o dia de quarto crescente lunar, podem ser observadas gratuitamente as crateras da lua, e Júpiter e suas luas. O brilho desses astros é o que permite essa observação. Em março, a programação acontece nesta quinta-feira, 6, a partir das 19 horas, no pátio do planetário.
Outro local que oferece esse tipo de observação é a Seara da Ciência, localizada na entrada do Campus do Pici da Universidade Federal do Ceará. Alana Nascimento, integrante do grupo de astronomia do equipamento, conta que todo mês ocorre a observação da lua e planetas por meio de telescópio, intitulado Céu da Seara.
Além disso, o equipamento realiza cursos e palestras, oferecidos pela equipe de astronomia do local. Essas atividades costumam atrair curiosos, um público que não se resume apenas aos professores e estudantes da universidade, mas também famílias que sabem sobre a programação. "Recebemos um público bem vasto, com muitas crianças e idosos também", elabora.
Para acompanhar
Noite das Estrelas
Cuidado com a desinformação
Algo que o pesquisador Dermeval Carneiro ressaltou durante a entrevista ao O POVO são as informações falsas que rondam a divulgação científica e curiosidades sobre eventos astronômicos. "Isso traz um prejuízo muito grande", destaca.
Ele menciona o fenômeno divulgado como alinhamento de planetas, que aconteceu na sexta-feira, 28 de fevereiro. Mas, segundo o gestor, "não existe isso". "É um desserviço à divulgação científica. Não é um alinhamento do jeito que estão propagando, é uma coincidência de termos os cinco planetas no céu na mesma noite", elabora.
"É uma desinformação e cabe a nós, da área científica, mostrar isso. O planetário é um veículo que mostra (informações verídicas) de forma mais popular e lúdica para o público", completa.
Por isso, é importante acompanhar perfis profissionais e sérios, que se comprometem em checar fatos e informar de maneira correta.