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Em Fortaleza, o artesanato rompe a agilidade do mercado e transforma a vida de jovens
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Em Fortaleza, o artesanato rompe a agilidade do mercado e transforma a vida de jovens

O artesanato rompe a agilidade do mercado e faz da arte um mecanismo de vida. Em Fortaleza, é possível encontrar artesãs com trabalhos diversificados
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Peças artesanais encantam pela delicadeza da produção  (foto: Fabio Lima/ OPOVO) (Foto: FÁBIO LIMA)
Foto: FÁBIO LIMA Peças artesanais encantam pela delicadeza da produção (foto: Fabio Lima/ OPOVO)

Horas, dias ou até meses. O tempo para uma peça artesanal ficar pronta não pode ser calculado nas linhas de produção. Isso porque, como o nome delimita, é uma técnica manual de transformar a matéria-prima em objetos úteis e artísticos sem o uso de máquinas. Neste sábado, 8 de março, Dia Internacional da Mulher, o Vida&Arte conta as histórias de três jovens cearenses que escolheram a prática artesanal como profissão.

O artesanato reflete as diferentes culturas do mundo e, muitas vezes, é atrelado a pessoas mais velhas. A prática surgiu na Pré-História com os primeiros artesãos produzindo utensílios para o seu cotidiano. Em Fortaleza, subvertendo o senso comum, jovens mulheres fazem do artesanato uma profissão viável.

O gerente de certificação da Central de Artesanato do Ceará (CeArt), Erysson Gonçalves, conta que o equipamento procura incentivar a "união de saberes tradicionais". Ou seja, quando a prática do artesanato passa de mãe para filha, permanecendo na família.

"Nós vemos a importância de ter contato com a juventude para que ele não perca a raiz e a tradição", explica. Ele também destaca como a investida de jovens no artesanato é importante para a permanência de tradições. "Nós sabemos que, no Ceará, são muito fortes algumas técnicas enraizadas e nós somos o único Estado que comercializa de forma direta o produto artesanal", comenta.

Mas Erysson percebe que, apesar desse aumento, a juventude no artesanato se identifica com processos mais rápidos: "As práticas mais demoradas, ainda percebo uma proximidade com os artesãos da terceira idade". No entanto, ele explica que, dentro dos grupos de artistas da CeArt, os jovens estão presentes em fases que vão além da produção. "Além deles acompanharem muito de perto todo o processo, são eles que movimentam a visibilidade do artesão, que geralmente são integrantes da família", aponta.

No Ceará, é comum observar bordados, garrafinhas de areia e peças de barro em pontos turísticos. Existem diversos tipos e técnicas de artesanato. Porém, na Revolução Industrial - iniciada na Inglaterra por volta de 1760 - essa prática começou a sofrer forte desvalorização, com o surgimento de produções massivas e de tiragens em larga escala.

Emanuelle Kelly, professora e coordenadora do curso de Design de Moda da Universidade Federal do Ceará (UFC), explica que o artesanato entra como um diferencial da moda e "dependendo do contexto em que ele é abordado, é tido até como objeto de luxo".

"A gente consegue perceber como é valioso o que a gente tem aqui no Ceará em relação a outros tipos de produção ofertadas no mundo", comenta a professora.

A moda rápida é injusta e alimenta um círculo que não valoriza quem a produz, como define Lariça Lopes, artesã e dona da marca Tropicana Feito à Mão. "Tirar a população dessa proposta do descartável.

Fazer uma reeducação cultural para que as pessoas agarrem o artesanato como uma herança nossa e paguem o preço justo". "Eu acho que uma das minhas grandes conquistas vai ser esse processo do 'slow fashion' ser valorizado e ter o preço justo", comenta a empreendedora local fazendo referência ao "movimento lento" que busca respeitar o meio ambiente e os consumidores.

A professora Emanuelle Kelly também explica que, cada vez mais, jovens estão consumindo e produzindo artesanato na contramão do processo massivo da moda rápida: "A construção da moda autoral busca por processos diferentes da indústria, nesse contexto, vemos o retorno ao artesanato e a materiais produzidos localmente".

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