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Do México à Turquia: novas formas de consumo de novela são destaque no Brasil
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Do México à Turquia: novas formas de consumo de novela são destaque no Brasil

As formas de consumo de novelas e produções se renovaram, atendendo novos públicos, mostrando novas culturas e fazendo sucesso no Brasil
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'A Usurpadora' ganha exibição diária no canal Viva a partir de segunda-feira, 27 de junho (Foto: Divulgação)
Foto: Divulgação 'A Usurpadora' ganha exibição diária no canal Viva a partir de segunda-feira, 27 de junho

Ainda que doramas e dizis (séries e novelas turcas) tenham ganhado grande adesão durante a pandemia, o consumo de novelas estrangeiras está presente há pelo menos 40 anos na cultura brasileira. Esse costume começou na TV, com a exibição da novela "Os Ricos Também Choram" no SBT, emissora que até hoje inclui telenovelas mexicanas em sua programação.

Até outubro de 2020, a emissora exibiu 121 novelas do México, entre estreias e reprises dos maiores sucessos. Por essa razão, o SBT se tornou referência em importação de telenovelas, com destaque para produções como "Maria do Bairro", "A Bela Mais Feia", "Usurpadora", "Rebelde" e "Betty, A Feia".

Assim como as mexicanas, produções do Japão, Coreia do Sul, China, Tailândia e Turquia também entraram no gosto dos brasileiros por terem propostas diferentes dos melodramas brasileiros. "Porque são histórias leves, conteúdos com pessoas bobinhas até demais, que passam uma certa pureza. Uma coisa que você não vê mais hoje em dia. A gente perdeu um pouco da empatia, do amor ao próximo", explica Rose Mazza, aposentada, fã de dorama.

"(As novelas brasileiras) são muito sem graça, têm muita violência, corrupção, mentiras, muitas coisas fora do que eu acredito. Perdi mesmo o interesse, achava bobagem. No dorama, você fica mais à vontade, relaxa, assistindo", acrescenta a dorameira, que não vê novelas brasileiras há pelo menos 25 anos.

Para Layla Smaili, comunicadora, sua relação com as dizis aconteceu no começo da pandemia, a partir do desinteresse por produções brasileiras e do encantamento pelas novelas turcas.

"O enredo das novelas brasileiras começou a ficar muito repetitivo, muito sem graça, quase igual a Hollywood. Eles estão começando a fazer remake, remake, remake, e histórias parecidas com as outras, sem pé nem cabeça", esclarece Layla, que destaca que as comédias românticas turcas "explodiram" depois da pandemia.

Ela expõe: "A Turquia não fazia muita comédia romântica, mas, depois que estourou, em 2020, estourou de verdade. Agora, no geral, eu acho que eles fazem produção em massa do gênero e muitas são canceladas. Nem chegam a ter muitos episódios ou ser conhecida porque cancelam devido ao sistema. Lá, o sistema de audiência deles é bem obsoleto".

 

A versatilidade do streaming, por Rubens Rodrigues

A TV aberta demorou a perceber o streaming como ameaça e, principalmente, como mais uma janela de público. Não que o público da novela, seja ela global, bíblica ou infantil, seja o mesmo das séries queridinhas do Emmy. E não é que não possa ser. Mas enxergar outras plataformas para contar uma história é uma ferramenta importante para impactar um público que tem se distanciado dos programas com horário marcado. E trabalhar para outras plataformas exige versatilidade na forma de contar essas histórias.

Veja bem, eu não perco uma boa novela, mas tornar-se refém de programação fixa não é mais uma opção na minha rotina e na de muitas pessoas. Não fosse pela Globoplay, não estaria acompanhando a melhor novela atualmente no ar: "Garota do Momento". Mesmo com poucas novelas originais ("Verdades Secretas 2" e "Todas as Flores"), a Globoplay se sobressai ao possibilitar ao público rever ou ver pela primeira vez clássicos da teledramaturgia e outras novelas que acabaram sendo esquecidas pelas janelas de reprises da Globo, como a ótima "Cara & Coroa" (atualmente no ar também no Viva). Ter o streaming nos faz também mais criteriosos com o que queremos e escolhemos assistir.

"Beleza Fatal", da Max, a trama descompensada de Raphael Montes, por exemplo, é uma delícia de maratonar. Não porque seja brilhantemente escrita, pois está longe disso, mas pelo apelo camp (exagerado, artificial) que dá charme à narrativa. Há em "Beleza Fatal", de certa forma, uma ousadia de mostrar cenas que a TV aberta se acovarda. E a graça do streaming está aí também. Se eles não mostram lá, mostram aqui.

 

O Oriente é logo ali, por Lillian Santos

Ainda lembro a primeira vez que assisti "Pousando no Amor" na Netflix. O choque cultural, os sustos com as falas rápidas e vozes altas, a dificuldade de entender nomes e lembrar quem era quem, e o encantamento com aquele "mundo" totalmente novo e inexplorado. A afeição ao enredo se fortalecia a cada nova canção que encaixava perfeitamente com o capítulo - mesmo sabendo nada de coreano.

O outro lado do planeta logo deixou de ser tão distante e indiferente assim. Como toda "dorameira" sabe, a iniciação leva a uma sequência viciante em tentar consumir o que já foi feito pela Coreia do Sul: dramas clássicos, escolares, históricos, com idols de k-pop e, por fim, com aquele ator ou atriz por quem você tem um crush no momento.

As portas das novelas internacionais abertas pelo entretenimento sul-coreano então deu espaço a um novo produto audiovisual ainda mais complexo: os c-dramas. A China, antes lembrada por mim devido ao Jackie Chan, a Grande Muralha e ao "Kung Fu Panda", foi responsável por um novo tipo de fascínio.

Assistir sobre como os e-Sports são tidos como profissão, aprender mitos e lendas enquanto deuses lutam artes marciais ou reconhecer a atriz que é rosto da marca de luxo e também dá voz à novela em que é protagonista se tornou uma nova forma de passar o tempo.

Sem promover intrigas entre os países da Ásia Oriental e as suas belas e surreais paisagens, porém Busan (KOR) que me perdoe, mas Yunnan (CHN) é o que me faz desejar passar mais de 24 horas em um avião para ver de perto aquilo que pude descobrir por meio de uma tela.

 

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