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| Novelas | Com a popularização de streamings, as telenovelas brasileiras passaram a disputar audiência com um novo tipo de folhetins: o das plataformas
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Foto: Estevam Avellar/Globo/Divulgação Novela "Todas as Flores", da Globoplay

"Eu sou o futuro. Eu sou o streaming e ele é a TV aberta. A TV aberta está morrendo e eu estou aqui vivíssima", alfineta Lola, personagem de Camila Pitanga em "Beleza Natal", novela da Max. Apesar de ser apenas uma provocação divertida, a metalinguagem aponta para a efervescência das novelas criadas para plataformas digitais, que têm tido grande adesão do público tradicional de folhetins.

Esse comportamento do espectador foi impulsionado pela quarentena da covid-19 no Brasil, quando as gravações de novelas da TV foram paralisadas e o público procurou outros formatos audiovisuais, já consolidados nos streamings com filmes e séries. No caso da Globoplay - plataforma digital da TV Globo - aumentaram as buscas por novelas já transmitidas antes no "ao vivo", além de dizis (séries de televisão turcas). Já na Netflix, os sucessos entre os brasileiros foram os doramas, como são chamadas popularmente as séries de TV asiáticas.

Foi nessa "onda" que produções melodramáticas brasileiras passaram a "surfar". Logo em outubro de 2021, estreou exclusivamente na Globoplay "Verdades Secretas 2", continuação da novela mais assistida na plataforma até então. Apenas um ano depois, foi lançada "Todas as Flores", novela original da Globoplay que disputou audiência diretamente com a trama "das nove" que estava no ar, "Travessia". A comparação entre as produções repercutiu com a do streaming tendo vantagem em qualidade.

Diante desse sucesso, outras novelas de grande peso cultural e digital estrearam em diferentes streamings, como "Pedaço de Mim" (Netflix), "Beleza Fatal" (Max) e "Guerreiros do Sol", prevista para chegar em 1º de abril na Globoplay.

Mas por que essas produções ganharam tanto destaque em comparação às tradicionais telenovelas? O diretor e autor de "Beleza Fatal", Raphael Montes, argumenta: "sem dúvida, o número menor de capítulos faz diferença". Para ele, "vivemos um mundo muito mais ágil e com informações que circulam de maneira muito mais rápida", que faz com que histórias mais curtas se destaquem.

"Eu consigo dar um ritmo bom para uma história de 40 capítulos. Até brinco que 'Beleza Fatal' é uma novela que fez lipo lad, porque ela não tem barriga. É uma novela que não enrola para as coisas acontecerem", explica o autor, que destaca que as produções para streaming não são o único futuro do gênero novela, visto que há diferentes públicos para cada obra. "Acho que são produtos distintos. De modo algum, acredito que uma coisa exclui a outra", pontua.

O jornalista e crítico de novelas Marcos Michalak converge com Raphael. "O público do streaming é, em parte, o mesmo da TV, mas também atrai novos espectadores. O consumo sob demanda facilita para quem tem uma rotina mais corrida e não consegue acompanhar um folhetim diariamente no horário tradicional. Além disso, há um público jovem acostumado ao modelo de maratonar episódios, o que não era comum nas novelas tradicionais. Mas é claro que também existe aquele público da TV tradicional, exclusivo do sofá", diz.

Conforme o especialista destaca, produções para plataformas digitais possuem a vantagem de serem assistidas segundo a disponibilidade do público: "a experiência de assistir sob demanda oferece mais liberdade, o que pode fazer com que parte do público migre para esse modelo".

"Isso não significa que a novela perdeu relevância, mas que seu consumo está se transformando", resume Michalak, que cita fatores essenciais para um folhetim fazer sucesso apesar do meio que é transmitido: "bom roteiro, direção eficiente e elenco talentoso".

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