"Uma abordagem interdisciplinar entre Geografia, História, Literatura e Artes Visuais que possibilite o prazer da leitura pela compreensão das manifestações culturais de cada povo, motivadas pelo seu espaço e tempo em que acontecem". Para alcançar sua nova produção, Chico Sampaio precisou reunir elementos que se destacaram em sua trajetória.
Professor, sociólogo, escritor, autor de 85 livros didáticos de Geografia e História e, acima de tudo, "curioso", construiu, ao longo de décadas, um projeto de existência dedicado ao saber. À frente de uma das principais marcas do Estado em educação, o Colégio GEO, ele desenvolveu a coleção "Os Brasis".
Com 12 volumes - cada um com cerca de 400 páginas -, o projeto apresenta informações sobre todos os estados brasileiros a partir de suas particularidades na Literatura, na História e na Geografia, todas entrelaçadas e levadas ao público de maneira didática. A coleção tem apoio da editora Armazém da Cultura e a pesquisa foi fomentada pelo Banco do Nordeste (BNB).
Para falar sobre o surgimento da coleção, é preciso voltar às origens de Chico Sampaio — ou melhor, ao início de suas ambições. Afinal, elas estão entrelaçadas com um aspecto importante: a curiosidade. "A pista de decolagem do ser humano é a pista da curiosidade. Quem não tem, não decola", anuncia.
Ele acrescenta: "Se você não tem curiosidade, trate de ter. Aumente-a cada vez mais a ponto de se tornar patológica. Quanto mais curioso, melhor". Por que esse destaque? A explicação passa pela sua trajetória profissional. Chico Sampaio é, pois, "muito curioso e gosta de saber de tudo".
No início dos anos 1970, se mudou para Salvador e cursou Sociologia. Entretanto, antes mesmo de finalizar a graduação, houve um dia no qual um dono de colégio apareceu na universidade em busca de um professor de Geografia, área pela qual Chico Sampaio tinha grande estima. A partir da Sociologia, "via o viés humano da Geografia". "Apesar de dialogar com o natural, é humana por excelência", pontua.
Assim, passou a ministrar aulas de geografia, se consolidou como professor da área e começou a escrever livros didáticos na Bahia. Em 1973, lançou o livro "Estudos Sociais" sobre a Bahia, pois, na época, como lembra, juntavam Geografia com História e chamavam de "estudos sociais". Depois, vieram obras sobre Sergipe, Alagoas e Ceará. No ano seguinte, já havia finalizado estudos sobre todos os estados nordestinos.
Em 1975, já graduado, docente e com nove livros didáticos publicados, se mudou para Fortaleza e começou a ensinar no Colégio Cearense. Além disso, em sua casa fez um auditório para dar aulas sobre Geografia do Brasil ilustradas por imagens e filmes. A iniciativa acabou culminando na criação do Colégio GEO.
Em 15 anos, a rede cresceu e chegou a ter mais de 40 unidades, alcançando outros estados brasileiros e também os Estados Unidos. Devido a um problema de coração, Chico precisou se afastar da administração dos colégios, mas a educação seguiu no seu horizonte.
Em 2000, lançou o livro "Brasil 500", para comemorar os 500 anos do Brasil. A obra estimulou o professor a "fazer aprofundamento maior sobre o País", sobretudo com a "linguagem que utiliza, sendo uma linguagem mais didática e mais próxima do leitor", fugindo de academicismos na forma de comunicar.
Dividindo o Brasil em "50 fatias", Chico apresenta o diálogo entre Geografia e História, em que uma influencia a outra. A partir dessa interação, há a confluência com a criação literária. "Geralmente, a literatura tem tudo a ver com o espaço geográfico ou com o momento histórico da vida do romancista ou do poeta. Rachel de Queiroz nunca teria escrito 'O Quinze' se não morasse no Ceará. O drama da seca estava explícito para ela e o lugar influenciou sua criação", argumenta.
Com esse "mesmo olhar" é possível se estender para outras partes do Brasil, como no Acre, com 12 romances escritos no começo do século XX em que "todos falam sobre o Ciclo da Borracha". Na Bahia, por exemplo, romances de Jorge Amado traziam relatos sobre o cacau. Desta maneira, Chico Sampaio aborda relações sociais, psicológicas, geográficas e históricas na sua coleção.
Cada capítulo traz particularidades. Há estados que possuem apenas um capítulo, como o Acre. "Todo o Acre é uma geografia só. Planície, coberta de floresta e clima equatorial. Não tem serra, não tem montanha… Entretanto, quando chego a São Paulo, vejo que existem várias 'São Paulos', cada uma com sua vocação, clima e literatura", afirma.
Assim, todos os estados são citados, mas de maneiras diferentes. O Ceará é apresentado a partir de diferentes romances, não só de Rachel de Queiroz, mas também de obras de Domingos Olímpio, por exemplo. Por meio da coleção, o sociólogo compreende que o material apresentado "será riquíssimo" nos próximos 50 anos, como fonte de pesquisa e de conhecimento "não decorativo".
Faltam poucos detalhes, porém, para o lançamento de "Os Brasis". Um deles é a divulgação de dados mais recentes do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) dos municípios. A partir deles, é possível observar a economia das cidades - se "estão pobres ou ricas", segundo Chico Sampaio.
Enquanto não são anunciadas as informações, "está de mãos atadas", pois não consegue atualizar os quadros sobre os municípios abordados. Uma vez em posse dos indicadores, levará cerca de um mês para renovar os textos e, enfim, poderá lançar oficialmente a coleção.
Para Chico Sampaio, o significado desse projeto passa por uma palavra: legado. "Tenho plena consciência de que muitas pessoas vão ser influenciadas por essa obra e estou lutando para que ela seja vendida ao Ministério da Educação. Sei do legado que estou deixando e a influência que vou exercer em professores do futuro. Para mim, isso basta", enfatiza.
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