A arte pode surgir na vida de alguém pelo desejo de possuir um peça, mas não ter condições financeiras. Wagner Rodrigues, gestor da Filum Art, marca de acessórios feitos de arame artesanal, conta que foi assim que se tornou um artista. "Eu queria ter peças que eu não tinha acesso, por falta de dinheiro, então, eu comecei a criar para mim sozinho mesmo", relata.
A marca autoral surgiu após palavras de incentivo de amigos que admiravam a arte de Wagner. A Filum Art é composta por acessórios artesanais e autênticos "diferentes do que a gente vê no convencional". São peças que vêm ganhando espaço na cena artesanal e na moda local.
Com referências do rap feminino e da cultura negra, Wagner constrói adereços que vêm do seu imaginário. "Acho que é um dom de Deus, eu vou criando e vão nascendo as peças", brinca. É um processo rápido, ele explica, e são necessários, em média, 15 minutos para confeccionar um acessório.
A explicação da escolha de Filum Art é o significado que vem do latim: "Arte com arame". "Um nome memorável e que tinha tudo com a proposta, fácil de pronunciar e difícil de esquecer", explica o jovem criador.
Sua idealização vai além dos negócios. Ele elucida que faz arte por gostar do processo de criação, por prazer em ver as pessoas usarem suas obras e "por contentamento em receber um elogio sincero do meu trabalho, por satisfação em trazer autoestima, realçando a beleza de quem compra".
Para ele, o maior desafio tem sido aprender tudo sozinho, desde o próprio processo de criação até as questões burocráticas de venda. "Acredito que por isso tem muito de mim na Filum", diz. Wagner é a única pessoa que está presente em todo o percurso da sua marca, ele vai da criação até a realização das vendas.
O sentimento de gratidão é muito presente em sua fala: "Faz eu me sentir vivo". E seu desejo como criador e empreendedor da cena local é crescer cada vez mais e levar o arame artesanal para mais pessoas. "Eu sinto que está ganhando mais espaço agora, e espero que a moda local possa receber mais o nosso trabalho", completa.
A prática proposta por Wagner Rodrigues integra o "slow fashion", conforme explica Germana Fontenelle, doutora em Design de Moda e professora aposentada da Universidade Federal do Ceará (UFC). Ela aponta que o "slow fashion" é considerado uma moda mais duradoura e trabalhosa. "É algo atemporal", diz ao falar da diferença do "fast fashion", que é uma moda rápida, "descartável", em que o propósito é a quantidade e não a qualidade.
Por mais que a prática artesanal se caracterize muitas vezes por um exercício demorado, a criação de joias de arame é algo rápido, como conta Wagner. No entanto, esse processo ainda permite a mistura da ancestralidade com atualidade, elucida o criador da Filum Art. A estudante universitária Grasieler Martins, que possui diversas peças de arame artesanal entre suas preferências, conta que "a gente se reafirma enquanto uma pessoa sujeito no mundo, o nosso estilo e vivência". "Normalmente, quando você usa, você usa várias e eu acho isso muito lindo", elabora Grasieler.
As peças de arame são fundamentais para a perpetuação do "slow fashion" na cena da moda local, reforça a pesquisadora Germana Fontenelle. Para ela, "temos que defender essa causa porque estamos vendo os efeitos na natureza desse consumo exagerado". "A moda não pode ser esse produto descartável, tem que ser duradouro e que ela possa passar de geração para geração", finaliza Germana Fontenelle.
Filum Art