“A história precisa ser recontada”, afirma a historiadora Ana Sara Ribeiro Parente em determinada cena de “Nordeste Insurgente”, novo documentário do O POVO+. O longa-metragem homônimo mergulha em um capítulo da história cearense e brasileira que frequentemente passa despercebido em meio ao volume de conteúdos da educação básica.
Ocorrido logo após a independência do Brasil, o movimento se ancorava em torno no medo do retorno do controle da Coroa Portuguesa. E é sobre esse receio que a produção fala, revelando que é muito mais sobre a perda de poder do que sobre um governo que considerasse as necessidades básicas da população.
Assista 'Nordeste Insurgente' no O POVO+
A história é então recontada, como dito no início, por meio de um jogo de tabuleiro que ilustra de modo eficiente a disputa política. As peças são movimentadas conforme a trama é desenvolvida em um roteiro didático e conciso, que mescla muito bem a narração com as explicações dos historiadores que juntos costuram as complexidades em torno do episódio.
Há um cuidado perceptível para que essa revisita não caia nos mesmos olhares de romantização do levante e das personalidades envolvidas. Fica compreensível e explícito o que os revoltosos da Confederação do Equador almejavam e evita maniqueísmos comuns a qualquer enredo que envolva a humanidade.
Por exemplo, o documentário não foge das questões que surgem sobre populações que existiam naquela época mas sequer são citadas no contexto do levante, como as pessoas negras escravizadas e os indígenas. Inclusive, revelando que boa parte dos revoltosos eram donos de escravizados e só estavam lutando para garantir sua fatia na torta que era o Brasil.
É uma abordagem interessante principalmente para ser levada para sala de aula, quer sejam de futuros docentes de História ou Jornalismo ou alunos da formação básica. Traz referência de conhecimento sobre o que houve e também levanta uma discussão sobre o poder da imprensa na época, afinal, a o movimento só conseguiu força através da publicação de jornais, sendo o primeiro do Ceará.
Além disso, a produção não se limita ao estúdio para mergulhar no fato histórico ao trazer especialistas que são nativos das localidades de onde o movimento passou como Quixeramobim, falando diretamente desses locais. O que auxilia a não deixar o longa maçante e contribuir com o imaginário de quem assiste.
Os acontecimentos se tornam mais palpáveis, concretos e até mais relacionáveis com o hoje, mesmo estando em um passado relativamente distante. Teria sido interessante haver mais imagens das cidades combinadas com as falas dos professores, a fim de intensificar ainda mais a imersão na história que é recontada ali. Mas a ausência disso não diminui a qualidade da obra.
Ainda assim, a fotografia faz um bom trabalho ao captar detalhes que servem de complemento à trama. Como as imagens de apoio no Arquivo Público e no Museu do Ceará, mostrando como é uma história que pode ser acessada e que de algum modo permanece viva.
No fim, “Nordeste Insurgente” é uma conversa interessante sobre como os acontecimentos do passado ainda permanecem no presente. Do que uma elite é capaz para se manter relevante no jogo de poder e de como a população no geral precisa estar atenta a isso.
Nordeste Insurgernte
Onde e quando: Já está disponível no O POVO+