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Com peça em Fortaleza, Denise Fraga fala sobre processo criativo e as reflexões do ser
Vida & Arte

Com peça em Fortaleza, Denise Fraga fala sobre processo criativo e as reflexões do ser

Denise Fraga apresenta o monólogo "Eu de Você" em Fortaleza e em entrevista ao O POVO fala sobre o processo criativo por trás da peça e as lições valiosas que a narrativa oferece ao público
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Monólogo "Eu de Você", estrelado por Denise Fraga", é apresentado no Theatro José de Alencar
 (Foto: Cacá Bernardes/Divulgação)
Foto: Cacá Bernardes/Divulgação Monólogo "Eu de Você", estrelado por Denise Fraga", é apresentado no Theatro José de Alencar

A peça "Eu de Você", escrita e estrelada por Denise Fraga, propõe uma reflexão sobre identidade e os desafios do cotidiano. No monólogo, a atriz dá vida a uma mulher que, ao tentar lidar com os problemas de sua rotina, se vê diante de uma experiência inusitada: a oportunidade de viver a vida de outra pessoa, adotando uma identidade diferente.

O espetáculo, primeiro trabalho solo de Denise, será apresentado desta quinta-feira, 20, até o domingo, 23, no Theatro José de Alencar (TJA), em quatro sessões. Em entrevista ao O POVO, a atriz compartilha o processo criativo da peça e a narrativa, que oferece lições sobre como compreender melhor a nós mesmos e aos outros.

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O POVO - O espetáculo lida com a troca de identidades. Como você enxerga a construção e desconstrução de sua própria identidade como atriz ao longo do tempo?

Denise Fraga - Eu achei bonito que você falou isso sobre a troca de identidades. Na verdade, eu sempre penso que é um vestir a pele do outro, até esse nome "Eu de Você", que eu gosto muito. Eu por dentro de você, eu vestido de você, eu encarnando você. E é mesmo mais do que representar personagens. A peça tem uma direção linda do Luiz Villaça, que insistia com isso: "Não represente demais, se deixe atravessar pela experiência do outro". E, na verdade, o espetáculo é isso - não só para mim, mas eu proponho isso para a plateia: para você se deixar atravessar pela experiência do outro.

OP - O que você acredita que o espetáculo diz sobre a fragilidade das relações humanas?

Denise - Você sabe que, quando criamos a peça, na questão da fragilidade das relações humanas, eu acho que até substituiria a palavra "fragilidade" por "delicadeza", porque eu acho que as relações são muito delicadas, quase como um cristal. E eu sinto que há algo, quando estávamos ensaiando, sobre um lugar ao qual todos nós pertencemos, naquele País dividido em que estamos agora. Eu fico pensando o que é comum a todos nós? Realmente, tem um lugar que pertence a todos nós, do qual ninguém escapa. E essa peça me faz perceber isso, vendo pessoas que, pelo figurino ou pela primeira impressão, parecem pertencer a lados diferentes, rindo da mesma coisa e chorando juntas, ali, lado a lado.

OP - Durante a construção da personagem, você encontrou algo sobre a sua própria percepção de identidade que te surpreendeu ou te fez repensar algumas coisas?

Denise - Quem muda de identidade sou eu, na medida em que a peça me propõe, como disse, esse atravessamento pela experiência dos outros. Mas sou eu, Denise, que estou ali conversando com o público e vivendo aquelas outras vidas. Eu acho que todo ator tem essas múltiplas identidades desconhecidas, que ele empresta a esse personagem ou a outro. Todos nós, eu acho, temos recantos que não usamos.

OP - Existe alguma cena que traz uma reflexão mais profunda sobre o que é "ser" alguém em um mundo cada vez mais fragmentado?

Denise - Então, eu acho que a peça fala dessa filigrana das relações humanas, que nós temos pontos em comum e diversas formas de lidar com eles. O tecido humano é muito rico e fascinante de investigar. E eu acho que a vida, com a vida digital, ficou muito mais veloz. Todos nós nos sentimos sobrecarregados por uma velocidade inumana. Estamos incapazes de acompanhar. Terminamos todos os dias frustrados, com tantas coisas que deveríamos ter feito e não fizemos, por causa de uma velocidade impossível que foi imposta em nossas vidas, e ao mesmo tempo, uma vida que se tornou muito mais escancarada pelas redes sociais, pela internet.

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OP - Em uma época onde a busca por autêntico se mistura com as redes sociais e as facetas que mostramos ao mundo, como você acredita que peças como "Eu de Você" nos ajudam a refletir sobre o impacto das máscaras que vestimos na vida cotidiana?

Denise - Eu acho que a peça é a experiência mais linda da minha vida. E eu vejo o que acontece com as pessoas. Cada noite eu vou para o teatro com muito ânimo, como se fosse um jogo com a plateia, e eu vou ver o que vai acontecer naquela noite. A peça me ensinou muito sobre essa disposição para o outro, essa disposição de escuta também.

Espetáculo "Eu de Você" em Fortaleza

  • Quando: quinta-feira, 20, sexta-feira, 21, e sábado, 22, às 20 horas; domingo, 23, às 18 horas
  • Onde: Theatro José de Alencar (rua Liberato Barroso, 525 - Centro)
  • Quanto: a partir de R$ 21 (meia-entrada) e R$ 42 (inteira)
  • Vendas: Sympla e bilheteria presencial do TJA
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