Foi há mais de duas décadas que a revisora Luciana Sousa, 48 anos, começou a forjar um hábito que a acompanharia até hoje. Quando estava na graduação, teve contato com feiras de livros realizadas no campus da universidade. Ao visitar uma Bienal do Livro, porém, veio o espanto: "Era como entrar no país das maravilhas". A admiração se deu tanto pelo mundo a ser desbravado quanto pelos efeitos proporcionados por uma feira literária. Além de descobrir obras, intensificava o contato com a leitura. Hoje, continua a visitar esses eventos, que reúnem milhares de visitantes - entre leitores (e aspirantes a leitores) e escritores.
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Não só de "bienais", porém, são constituídas as feiras literárias. Realizadas de forma independente ou não, têm relevâncias asseguradas por quem participa, ainda mais em um País que perdeu quase 7 milhões de leitores em quatro anos, segundo a pesquisa "Retratos da Leitura no Brasil".
Apesar de mobilizarem milhares de frequentadores — como a última edição da Bienal do Ceará, que recebeu quase 400 mil pessoas —, esses eventos ainda têm margem para serem desbravados. Segundo pesquisa do Instituto Datafolha sobre hábitos culturais nas capitais brasileiras, 45% dos fortalezenses nunca foram a uma feira ou festa literária.
Faltando poucas semanas para a maior delas no Estado - a Bienal do Ceará -, vale discutir sobre seus alcances e desafios. "O objetivo das feiras sempre tem uma dimensão econômica e cultural. A intenção é conseguir acolher e atrair o maior número de leitoras e leitores possíveis e que esses se divirtam, enquanto os feirantes aprendem e trocam entre si". A fala é do editor Talles Azigon.
Um dos fundadores da editora Substânsia, ele tem larga trajetória na frequência e no trabalho em feiras, passando pela Bienal do Ceará, sendo curador da Feira Literária do Ceará e criador da Publico: Feira de Impressos e Publicações. "As feiras são muito importantes, principalmente para pequenas e médias editoras, pois o interesse do público está concentrado nesses eventos", compartilha. Como afirma, cada uma tem porte e estrutura diferentes umas das outras. Em algumas, as vendas são o foco. Em outras, "o maior capital é a chance de aprender com outros expositores e estabelecer contato".
Neste ano, Talles Azigon é coordenador da Quadra Literária na Bienal do Ceará. O estande visa democratizar o acesso de pequenas editoras, autores e autoras independentes à Bienal, com oportunidade de comercialização sem custo de locação de espaço. "Em eventos muito grandes estar em um bom lugar é fundamental, pois isso conta muito para disputar a atenção do público, que tem tantas opções ao seu dispor", elenca.
No caso da Bienal do Ceará, a visibilidade é destacada por Wilson Jr, escritor, professor de escrita literária e fundador da Editora Escambau. Com estande próprio, ele lança no evento o livro "Trama Ancestral: Fios de Ferro e Sal". A escolha se deu pelas possibilidades comerciais abertas por essa "grande feira".
"Não tem para onde escapar. Se você quer fazer um lançamento, por mais que a competição seja grande, porque muitos outros autores estão fazendo lançamentos na mesma época, a bienal acaba concentrando essa atenção da literatura no Ceará. As pessoas estão mais abertas a gastar dinheiro com livros. Isso facilita o processo de distribuir melhor sua obra. No fim das contas, é o nosso objetivo como autores: queremos alcançar mais pessoas. Esses grandes eventos acabam trazendo grandes holofotes para a cena literária", pontua.
O primeiro contato com a Bienal se deu há 20 anos, mas sua presença em feiras literárias não se restringe ao evento. Ele vê essas ações como oportunidades para descobrir obras e autores - já tendo participado da Bienal de São Paulo e da Festa Literária Internacional de Paraty. Enquanto autor, percebe que as feiras conseguem democratizar mais a divulgação de trabalhos de escritores. Outro exemplo de evento é a Feira da Literatura Independente do Ceará (Flice). "O interessante das feiras é a possibilidade de jogar uma atenção para a Literatura. É um formato de arte que perde cada vez mais espaço na nossa sociedade, que está mais acelerada", argumenta.
Quais são, então, os benefícios de leitores participarem de feiras de livros? Luciana Sousa explica: "Além da oportunidade de lançamentos em primeira mão, há a possibilidade de conhecer autores e autoras que tanto admiramos, só conhecidos por nome, muitas vezes. Também há espaço para muito aprendizado, como a descoberta de novos gêneros ou formatos, estilos, instigando, inclusive, ao desafio da escrita".
XV Bienal Internacional do Livro do Ceará
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