Terça-feira, 25 de março, é celebrada no Ceará a Data Magna. Ela surge em alusão ao que aconteceu neste dia em 1884: o Ceará formalizou que não seria mais permitida a entrada de pessoas escravizadas no território. O marco aconteceu quatro anos antes da Lei Áurea, assinada no dia 13 de maio de 1888, abolindo a escravidão em todo o País.
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Neste dia, feriado cearense, será lançado o livro "Ceará Negro e outros temas de África", de Flávio Paiva, cronista do O POVO. O evento ocorre às 11 horas no Campus da Liberdade, da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab), localizado em Redenção.
Na obra, o escritor reúne uma coletânea de 50 artigos, discorrendo sobre a influência africana no território cearense. Cada texto é acompanhado de um comentário realizado por um estudante da universidade onde ocorre o lançamento, vindos de países do continente africano como Angola e Moçambique.
A semente da ideia de publicar a obra foi plantada com o desejo de que a data se tornasse mais do que apenas uma efeméride no calendário público do Estado — institucionalizada em 2011. "Isso foi um grande avanço, mas precisamos dar o passo seguinte. E ele (seria) tornar o feriado da Data Magna um dia comemorativo", sustenta.
"Resolvi tomar uma atitude para concretizar o que estou defendendo. Fiz o que está ao meu alcance, que foi um livro. Fui aos meus arquivos, selecionei 50 textos que tratam exatamente sobre isso", completa.
No livro, Flávio traz "um apanhado de olhares" sobre questões que envolvem o continente africano, saindo da visão colonizadora, mas também explorando a riqueza cultural e de assuntos que as diversas regiões do território apresentam. "É um aprendizado que venho tendo. Coloquei (os textos) de forma cronológica, do mais recente para o mais antigo, porque se a pessoa acompanhar de trás para frente, vai ver como também amadureci a minha percepção sobre questões da cultura negra, da África — tudo que precisamos ter mais sensibilidade envolvida para poder ter a atitude de ser anti-racista", arremata.
Além dos textos e comentários dos estudantes, o livro traz uma música, algo já comum nos trabalhos do autor, também intitulada "Ceará Negro". "Acho que aumenta o ponto de atração ao combinar essas linguagens: literatura e música", defende.
A canção foi feita em parceria com Paulo Lepetit, um contrabaixista amigo do escritor, que sugeriu Virgínia Rosa para ser a intérprete oficial. Ao ser questionado sobre "o conceito da música", Flávio justificou: "Essa música é a semente de uma festa que espero que aconteça".
"Estou acreditando tanto que faremos essa festa algum dia, de preferência a partir do próximo feriado da Data Magna, que já fizemos a música — de uma festa que ainda não existe, mas acreditamos que existirá", prospecta.
Flávio também defende que é necessário trazer essa simbologia de ser o primeiro estado a libertar os escravizados para a luta contra o racismo. Ele usa como exemplo o título "Terra da Luz", dado ao Estado por José do Patrocínio, jornalista fluminense a favor da abolição da escravidão no Brasil.
"José do Patrocínio esteve aqui no Ceará e, por conta do ato de libertação do Estado, criou esse título de Terra da Luz. Como não é uma coisa muito trabalhada, muita gente acha que é porque aqui tem muito sol", explica.
E conclui: "A proposta do livro, além de abrir essas janelas para aproximar mais as questões do nosso dia a dia, é (mostrar) que sendo um dia de eventos, vamos ter oportunidades múltiplas de tratar esse tema nas suas diversas frentes".
Lançamento "Ceará Negro e outras temas de África"