Antes de ser um equipamento cultural, a antiga Estação Ferroviária João Felipe foi ocupada por uma importante e premiada peça de teatro intitulada "Cama de Baleia". O espetáculo aconteceu em 2017 com estudantes do curso de teatro da Universidade Federal do Ceará (UFC) e volta simbolicamente para o espaço por meio de uma exposição fotográfica.
A mostra "EntreTempos" inicia nesta quinta-feira, 27, a celebração de aniversário de três anos do complexo cultural Estação das Artes. São expostas, no total, 30 imagens feitas por Felipe Sales e Tim Oliveira acerca da produção e realização da peça mencionada.
"O desejo de fazer a exposição partiu do reconhecimento que a arte produz memória e pode nos colocar em contato com diferentes tempos, por meio de ativação pelos espaços. Quem viveu o espetáculo naquele período tem lembranças sobre o lugar", explica Francis Wilker, diretor da peça "Cama de Baleia" e curador da mostra com Lúcia Andrade.
Há oito anos, o espetáculo foi idealizado e produzido a partir do sentimento do diretor e de seus alunos da UFC sobre o momento político em que viviam: o recente impeachment de Dilma Rousseff, a ameaça às artes com o governo Temer e a eleição de Jair Bolsonaro.
Francis rememora: "o Brasil estava vivendo uma época muito triste, muito desafiadora, muito preocupante e eu estava numa sala de aula de uma universidade pública com jovens. Jovens que se preocupavam com seus projetos de vida e transformações. Era uma grande ebulição".
Na época, foi escolhida a Estação Ferroviária João Felipe como palco da montagem pela antiga representação que o espaço tinha com a ideia de progresso, já que os trens faziam a conexão ferroviária do Brasil. Todavia, apesar de ser um patrimônio tombado, era um ambiente esvaziado, que precisou da autorização do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) para ser usado na peça.
"Antes a Estação estava fechada, desativada e em ruínas. E, mesmo assim, a gente fez a peça. Hoje, o espaço comemora três anos, sendo um equipamento cultural extremamente importante para a cidade", celebra Francis.
Para Cosmo de Almeida, que fez parte do espetáculo em 2017 e hoje produz a exposição, é empolgante ver a transformação que a Estação Ferroviária João Felipe viveu após a ocupação da peça.
"Mostrou o poder do teatro, não somente em interpretar ou criar ficções da sociedade, mas também de interferir na própria sociedade. Eu acho que 'Cama de Baleia' pode ter sido a primeira fagulha visível que fez as pessoas perceberem que aquele espaço poderia ser ocupado com arte", argumenta.
O artista defende que a Estação das Artes se tornou um exemplo de política pública a ser seguido: "mostra para a Cidade que é possível ver esses espaços históricos sem um olhar de demolição, mas sim como de ressignificação, reapropriação".
Na exposição, é possível encontrar fotos de peças sob duas perspectivas diferentes, pois parte delas foi feita para a divulgação da montagem, com fotografias dos ensaios, e outra com a performance para o público. Os registros dos bastidores são assinados por Tim Oliveira; enquanto os da apresentação levam o crédito de Felipe Sales.
"Tim Oliveira acompanhou os ensaios, diagramou o livro com o texto dos estudantes sobre o processo de criação da peça e, até hoje, continua fazendo registros muito importantes da cena de Fortaleza", destaca Francis sobre a parceria do artista.
Sobre as imagens de Felipe, ele complementa: "São registros que carregam o calor da apresentação, São duas poéticas de fotografia que trazem riqueza para a exposição".
Exposição EntreTempos
Quando: abertura nesta quinta-feira, 27, às 18h30min; em cartaz até 11 de maio
Onde: Plataforma da Estação das Artes (rua Dr. João Moreira, 540 - Centro)
Gratuita
Mais infos:
@estacaodasartes.ce