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|LUTO| Décima mulher a integrar a Academia Brasileira de Letras (ABL) e pensadora do feminismo, Heloísa Teixeira morre aos 85 anos
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10ª mulher a integrar a Academia Brasileira de Letras (ABL), Heloísa Teixeira morre aos 85 anos
 (Foto: DANI PAIVA FOTOGRAFIA/DIVULGAÇÃO ABL)
Foto: DANI PAIVA FOTOGRAFIA/DIVULGAÇÃO ABL 10ª mulher a integrar a Academia Brasileira de Letras (ABL), Heloísa Teixeira morre aos 85 anos

A escritora, crítica cultural e imortal da Academia Brasileira de Letras (ABL) Heloísa Teixeira morreu nesta sexta-feira, 28, aos 85 anos de idade. A informação foi confirmada pela ABL em comunicado nas redes sociais. "Lamentamos profundamente informar a morte da Acadêmica e escritora Heloísa Teixeira, aos 85 anos, na manhã desta sexta-feira, em decorrência de uma insuficiência respiratória aguda causada por pneumonia", iniciou a nota.

A autora foi eleita em 2023 para ocupar a cadeira de número 30, anteriormente ocupada por Nélida Piñon, tendo sido a decima mulher a integrar a instituição literária. "Heloisa trouxe à ABL não apenas sua brilhante sagacidade intelectual, mas também um espírito de acolhimento e fraternidade que marcou profundamente todos com quem conviveu.", acrescentou a Academia.

À época da posse, Heloísa realizou um discurso pontuando as mulheres que integraram a ABL - passando pela cearense Rachel de Queiroz e pela imortal Nélida. "Comigo, ficam as impressões pessoais que levei vida afora da menina, de linhagem galega, nascida em Vila Isabel. Lembro que Nélida não se cansava falar sobre a época em que vivia perto dos avós. Repetia, encantada, os casos que ouvia nas refeições de domingo, dos temperos e cheiros de além mar, das histórias de outras terras, das tantas visões de um paraíso perdido. A imaginação de Nélida florescia nesse compasso", proferiu a autora durante a cerimônia.

Também foi em 2023 que Heloísa abandonou a assinatura de Luiz Buarque de Hollanda, advogado e galerista com quem foi passada, e passou a usar o sobrenome materno: Teixeira.

Considerada uma das maiores intelectuais do País e relevante voz do feminismo brasileiro, Heloísa nasceu em Ribeirão Preto, no interior de São Paulo, em 26 de julho de 1939, destacando-se por sua atuação e pesquisa nas áreas de relações de gênero e étnico-raciais, culturas marginalizadas e cultura digital, conforme relembra a ABL.

"Formou-se em Letras Clássicas pela PUC-Rio, com mestrado e doutorado em Literatura Brasileira na UFRJ e pós-doutorado em Sociologia da Cultura na Universidade de Columbia, em Nova York", pontua o perfil da autora divulgado pela ABL.

No discurso de posse da academia, Heloísa chegou a citar a passagem pela universidade estrangeira e a importância do estudo realizado para a solidificação do pensamento: "Mais adiante, pesquisando e ensinando na Universidade de Columbia, em Nova York, vi nascer uma área de conhecimento num espaço intelectual masculino, proprietário. Foi o nascimento dos estudos feministas e de gênero como espaço disciplinar".

"Naquele momento, as mulheres acrescentavam, à luta por seus direitos, um direito novo, o O Direito de Interpretar. Os currículos eram postos em questão, as bibliografias repensadas, os departamentos invadidos por demandas até então impensáveis. Os livros de teoria de gênero saiam das livrarias com rapidez incomum. Traziam novos olhares que interpelavam o pensamento marxista, teológico, psicanalista, enfim, todo um edifício epistemológico de concreto armado que molda / a produção de conhecimento universitário. Pressenti o barulho de uma onda gigante se aproximando", disse a pesquisadora.

Em sua trajetória, Heloísa foi autora de "Explosão feminista: Arte, cultura, política e universidade", "Interseccionalidades: pioneiras do feminismo negro brasileiro", "Asbrúbal Trouxe o Trombone: Memórias de uma Trupe Solitária de Comediantes que Abalou os Anos 70", entre outras publicações.

Até o fechamento desta página, informações sobre o enterro da escritora e pesquisadora não haviam sido divulgadas. O velório está sendo realizado neste sábado, 29, na sede da ABL, no Rio de Janeiro.

 

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