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Luz, câmera e clique: conheça o fotógrafo cênico Tim Oliveira
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Vida & Arte

Luz, câmera e clique: conheça o fotógrafo cênico Tim Oliveira

Tim Oliveira celebra uma década atrás das coxias, narrando por meio de suas lentes as histórias do teatro cearense
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Espetáculo
Foto: fotos Tim Oliveira Espetáculo "Co.VIL", do CPBT

Que a fotografia representa a escrita da luz, os teóricos já anunciam desde a sua consolidação enquanto arte, por volta de 1883. O que poucos sabem é que a mesma luz que incide sobre as lentes fotográficas é a luz que dita e pauta os movimentos em um palco de teatro.

Unindo a fotografia às artes teatrais, foi assim que o artista Tim Oliveira migrou de sua carreira como publicitário para imergir no mundo da até então desconhecida fotografia cênica, em 2015.

O termo, também chamado de fotografia de cena, caracteriza o ato de registrar espetáculos de teatro, shows musicais, apresentações circenses e performances artísticas. Configura-se como um nicho no mercado fotográfico, mas de grande relevância à medida que captura imagens de manifestações e expressões corporais efêmeras.

Graduado em Comunicação Social, o contato de Tim com a fotografia teve início na adolescência, quando se encantou pelo universo dos químicos, filmes e câmeras analógicas da irmã. Participou da febre das cybershots nos primórdios dos anos 2000, mas sempre reservando à fotografia o lugar de hobby.

Imerso no mercado publicitário como diretor de arte, Tim resolveu fazer o curso de Princípios Básicos de Teatro no Theatro José de Alencar (TJA), aos 25 anos, com o intuito de melhorar sua oratória e encontrar a desinibição. Sem saber se teve seus objetivos atingidos, mas agora ator, Tim encontrou nas coxias do teatro o seu lugar no mundo e uma oportunidade de trabalho. Observando a necessidade que os grupos tinham de fotografias em cena para divulgação dos espetáculos e o número escasso de fotógrafos nesse ramo, ele virou profissional autônomo.

"Foi a primeira escolha que eu fiz, sem influência alguma de ninguém. Ninguém me disse que existia esse mercado, que eu poderia viver disso. Me veio quase como uma intuição, e tive que sair da publicidade para focar na fotografia cênica", diz.

Dez anos se passaram, mais de 2000 espetáculos foram fotografados entre a Capital e o Interior, e Tim segue sendo predominante naquele nome lateral que acompanha as fotos artísticas que circulam na divulgação para a imprensa.

Apesar dos números lhe colocarem como veterano, o artista segue mantendo um ritual de preparação, que lhe lembra sempre que cada espetáculo é único e transitório, e por isso, seus cliques resguardam a importância do registro histórico.

"Além de estar constantemente consumindo teatro, quando é possível, tento assistir à última passagem do elenco antes do espetáculo. Nela, começo a entender o figurino, a maquiagem, a iluminação e consigo imaginar algumas imagens prévias podendo circular pelo teatro", ressalta.

Às vezes inimiga e às vezes aliada, com o passar dos anos, a preparação de Tim foi se voltando para a compreensão da luz. Desde o uso terminantemente proibido de flashes, até a aquisição de lentes mais claras que captam mais luz, Tim relembra que a iluminação é a base da fotografia.

"Para mim, a foto sempre foi luz. Se não há luz, não há foto. Então eu precisei criar um entendimento de como a luz é utilizada dentro do teatro. Se é em um show, tento compreender de onde ela vem, qual a sua intensidade, para não competir com a iluminação e sim usá-la a meu favor", pontua.

O cenário de fato se modifica quando o trabalho de Tim se direciona para as fotos de divulgação. Nesta outra vertente de sua atuação, o intuito é promover a obra, comunicando a experiência estética que ela poderá proporcionar ao público quando encenada.

Ao contrário das fotos de cena, as fotos de divulgação são planejadas e montadas em um ensaio fotográfico, que geralmente ocorre em locações externas ou em estúdio, com uma iluminação e cenário pensados para criar uma identidade visual para a obra.

"Nesses casos, assisto a um ensaio e apresento uma proposta de sessão fotográfica. O diretor e o elenco entram nesse processo e, juntos, discutimos uma identidade que converse com a maquiagem e os figurinos da peça. Essas fotos serão utilizadas para chamar o público, por meio da divulgação em cartazes, flyers e nas redes sociais", conta o fotógrafo e diretor artístico.

Apesar de considerar a comunicação visual indispensável para o êxito de uma peça, a realidade dos grupos e companhias de teatro cearenses nem sempre permite a contratação de um profissional que se dedique exclusivamente a esses registros.

No rol das dificuldades, com o início da pandemia em 2020, o trabalho desenvolvido por Tim sofreu com a dificuldade do fechamento dos teatros e as consequências perenes que o período de isolamento deixou no meio artístico.

"A pandemia pisou no teatro. Nós fomos os primeiros a fechar e os últimos a abrir. E quando voltamos, diversos grupos haviam desistido, perdido sua sede, muitos equipamentos culturais em reestruturação e, principalmente, havia se perdido o vínculo com a plateia. Então acredito que ainda estamos nesse processo de retomada", defende.

Procurando enxergar a vida sempre sob a lente mais clara, na adversidade, o artista encontrou maneiras de adaptar seu trabalho e expandiu o que antes era restrito à fotografia para linguagens que se conversam.

"Com a pandemia, tudo virou vídeo. O teatro passou a ser filmado e transmitido, a dança virou videodança e muitos desses materiais se transformaram em curtas-metragens. Fui me envolvendo nesses projetos, já tinha alguma experiência por trabalhar com edição nas agências e acabei também me especializando na área de orientação teatral, adaptação de roteiros e performances em vídeo", elucida.

Apesar de afirmar que seu lugar no mundo é no teatro, hoje, Tim atua com artistas, cantores e performers que desejam assimilar seu trabalho no formato de videoclipes.

"Hoje em dia também assino o roteiro, direção, fotografia e edição de videoclipes. Mas reconheço que meu lugar é no teatro e tudo que vem por fora é em decorrência das pessoas enxergarem algo que encanta na minha fotografia de cena. Elas me procuram buscando esse algo a mais nos vídeos também", destaca.

Congregando linguagens e sempre disposto a se reinventar, é assim que Tim relembra o passado e vislumbra seu futuro após atingir o marco de dez anos de carreira, em 2025.

Para as celebrações, o artista planeja reunir a produção de uma década em uma exposição fotográfica, um livro no formato de catálogo fotográfico e compartilhar seus conhecimentos técnicos com um ciclo de oficinas de fotografia cênica, visando aumentar a formação específica na área.

Ao espiar pelas coxias, relembrando o trabalho construído ao lado de diversos grupos cênicos em prol do teatro cearense, Tim reforça o encantamento de trabalhar com o que se gosta: "Além de poder contribuir com os atores e para a divulgação do teatro enquanto arte, hoje me vejo também como um artista".

 

Para conhecer o trabalho de Tim Oliveira

  • Mais informações: @timemmovimento

 

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