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Bienal do Livro: debate sobre cordel geek é realizado no evento
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Bienal do Livro: debate sobre cordel geek é realizado no evento

A roda de conversa "Cordel Geek: releituras criativas entre o sertão e o mundo mágico" ocorre neste sábado, 5, na programação da Bienal Internacional do Livro do Ceará
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Mateus Lins é o mediador da roda de conversa realizada na programação da Bienal (Foto: Davi Maia/divulgação)
Foto: Davi Maia/divulgação Mateus Lins é o mediador da roda de conversa realizada na programação da Bienal

A XV Bienal Internacional do Livro do Ceará vai até o dia 13, no Centro de Eventos do Ceará. Com o tema "Das fogueiras ao fogo das palavras: mulheres, resistência e literatura", o evento gratuito inclui saraus, lançamentos, debates, oficinas e atividades que unem literatura e moda.

Dentro dessa diversidade cultural, um fenômeno tem se destacado cada vez mais: o "cordel geek". Tradicionalmente, é uma forma de literatura popular nordestina que mistura poesia com ritmos e temas da cultura local, sendo muito utilizada para contar histórias sobre o cotidiano, lendas e mitos.

Para debater esse tema, haverá a roda de conversa "Cordel Geek: releituras criativas entre o sertão e o mundo mágico", mediada pelo escritor Mateus Lins, com a presença do professor e escritor Bruno Paulino e do artista Patrick Lima, neste sábado, 5.

O "cordel geek" surge como uma fusão do tradicional cordel com elementos da cultura pop e da tecnologia, trazendo temas como super-heróis, videogames, ficção científica, universos digitais e cultura nerd.

Em entrevista ao O POVO, o professor e poeta Bruno Paulino explica como o cordel geek mistura elementos do sertão nordestino com o universo geek. Para ele, é importante frisar que a literatura de cordel é uma tradição que se renova e, por isso, é tão viva.

"O cordelista é um poeta universal em sua verve criativa e sempre dialogará a partir do seu local com o que está posto na realidade. Daí abundam cordeis sobre Lampião abduzido, reencarnações de Michael Jackson, pelejas entre Harry Potter e Percy Jackson, ou uma luta entre o Antônio Conselheiro e o Darth Vader… É preciso entender que, com todas essas possibilidades, o poeta dialoga, recebe a influência, incorpora ao seu repertório e devolve para o público, através dos folhetos, uma obra muito original", explica.

Ele considera natural o diálogo entre o universo do cordel e a cultura geek. "O cordel sempre trabalhou com elementos do fantástico e da ficção científica em sua tradição. Basta pensar num dos clássicos do gênero, como 'O Pavão Misterioso', de José Camelo. E não existe paisagem natural e humana que inspire mais o mítico, o fantástico, o sobrenatural do que a do sertão nordestino", aponta.

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Bruno Paulino também acredita que é fácil para esse gênero se estabelecer no mercado. "Acho que é fácil, pois os consumidores da cultura geek têm verdadeira adoração por todo produto que envolve seu universo. Quando lancei as adaptações de 'A Guerra dos Mundos' e 'A Máquina do Tempo', de H.G. Wells, em cordel, muitos leitores compraram meu trabalho pela internet e me convidaram a falar em eventos sobre eles, pois já eram aficionados pelo escritor britânico. Imagine um cordel de Star Wars, certamente ia vender bastante", opina.

Já o professor e coordenador de pós-graduação em Escrita e Criação da Universidade de Fortaleza (Unifor), Mateus Rodrigues Lins, tem visões diferentes. Para ele, como todo novo gênero, estabelecer o cordel geek no mercado pode, sim, apresentar desafios.

"A dificuldade dependerá de vários fatores, como a aceitação do público, a adaptação da forma tradicional do cordel a temas contemporâneos e a maneira como esse gênero será promovido", explica.

Ele também enfatiza que o cordel geek pode ser uma ferramenta para popularizar a literatura de cordel entre os jovens. "Uma vez que explora temas que se aproximam do que os jovens consomem hoje, pode ser um instrumento para apresentar o cordel a eles e manter viva essa tradição nordestina", acrescenta.

Questões sociais e atuais também podem ser abordadas no gênero, explorando todas as possibilidades: desde desigualdade social e econômica, mudanças climáticas e sustentabilidade, tecnologia, diversidade.

"O Cordel Geek pode ser uma forma criativa de representar temas contemporâneos através da ótica nordestina, ao misturar a tradição do cordel com assuntos atuais, como tecnologia, cultura pop, ciência, política, questões sociais e outros elementos do 'mundo geek'", explica o professor.

XV Bienal Internacional do Livro do Ceará

  • Quando: até domingo, 13
  • Onde: Centro de Eventos do Ceará (av. Washington Soares, 999 - Edson Queiroz)
  • Programação completa: bienaldolivro.cultura.ce.gov.br/programacao
  • Acesso gratuito
  • A conversa sobre o cordel geek será realizada às 9 horas no espaço Literatura e Juventude.

 

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