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Slam: competição de poesia falada encontra vozes no interior cearense
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Slam: competição de poesia falada encontra vozes no interior cearense

Caracterizado como "poesia falada", o slam chega à programação da XV Bienal Internacional do Livro do Ceará com destaque para artistas mulheres
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Sarau Cerol Navalha (Foto: Josy Beserra/Divulgação)
Foto: Josy Beserra/Divulgação Sarau Cerol Navalha

Do teatro à música, estar diante de um grupo de pessoas e ser o alvo da atenção delas é algo bastante comum. Levar suas palavras e emoções para o público, sem ter ideia de como serão suas reações, traz a quem está no centro do palco a ideia de que aquele determinado período do tempo pode ser, sim, infinito. Um novo formato artístico, ainda não tão popularizado, vem se destacando entre a população jovem ao os fazer lidar com olhares e ouvidos voltados para si durante três minutos.

Nomeada “slam”, a prática se baseia na simples declamação de poesias autorais. Quase que em uma batalha, os participantes, chamados de slammers, são instigados a falarem sobre assuntos que circulam suas vidas e experiências enquanto são avaliados por um júri e o público. Aberta para quaisquer temas, a atividade originada na cultura urbana e que começou na década de 1980, nos Estados Unidos, destaca falas sobre preconceito, violência, futuro, sociedade, família e juventude.

Chegando ao Brasil no início dos anos 2010 pela atriz e MC Roberta Estrela D’Alva, a atividade literária ganhou dimensões territoriais e hoje é parte do cotidiano de jovens de diversas regiões. “Boa parte dos slams do Brasil surgiram em São Paulo, então muitas das referências que as outras regiões tiveram, além do primeiro contato de uma grande quantidade de slammers foi por meio de vídeos no YouTube desses praticantes do sudeste do País”, explica Kieza Fran Nascimento, coordenadora e uma das idealizadoras da Rede Slam Ceará.

O Slam na Bienal do Livro

Pelo coletivo, Fran relata a presença do slam nas cidades de Sobral, Crato, Itapipoca e Fortaleza, tendo sido criados 18 grupos por todo o Estado até então. “Desses, atualmente, sete seguem ativos. A partir desta cena, em rede, já foram lançados quatro livros sobre o slam, um documentário: ‘Slam Sobral’ (2024) e um espetáculo teatral.” A escritora sobralense, responsável pela organização da programação relacionada ao slam na XV Bienal Internacional do Livro do Ceará, detalha que a produção do slam no Estado, atualmente, está “buscando outras possibilidades”.

“Há uma diferença que estamos construindo anível estadual, da poética que nos representa. A gente sempre teve muitas influências vindas do cordel, do repente e dessas variadas culturas tradicionais de repasse da história pela oralidade presentes no Ceará. Seja uma rima, um verso diferenciado, nós trazemos um ‘gingado’ que só é feito por aqui”, avalia Fran, ao destacar a cearense Virgínia Oliveira como uma dessas personalidades que trazem outros ritmos à sua declamação.

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Inspirado no lema “a disputa é a desculpa para o encontro”, o slam elaborado no Ceará tem como base a coletividade, que surge desde a realização no Interior do Estado à promoção e preocupação com o bem-estar dos slammers. Originado em meados de 2019, Fran explica que a Rede Slam Ceará busca movimentar as periferias e unir a juventude das cidades cearenses: “Por uma escolha política, realizamos ele em Sobral e não na Capital. O evento foi muito impactante desde o início, porque sempre pensamos nele para ser realizado em rede. Todas as decisões passam por discussões coletivas e pela aprovação das pessoas que estão realizando o slam em diversas cidades do Ceará”.

E afirma: “Ter esse momento de escuta uma vez por mês, de uma forma fixa, acredito que fez diferença no crescimento e também na vivência de muitas pessoas da região”. A poetisa então assegura que o slam impactou positivamente quem participa, contribuindo para suas descobertas, amadurecimento e desenvolvimento. “O que essas pessoas encontram nessa cultura é a chance de expor seus medos, angústias, denúncias, como também amores, alegrias e risadas. Tudo isso se torna uma expansão das nossas comunidades.”, conclui.

XV Bienal Internacional do Livro do Ceará

  • Quando: até domingo, 13 de abril
  • Onde: Centro de Eventos do Ceará (av. Washington Soares, 999 — Edson Queiroz)
  • Gratuito
  • Programação completa: bienaldolivro.cultura.ce.gov.br/programacao/

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