A trajetória de Maria Bonita no cangaço já foi contada sob diferentes perspectivas, mas a série "Maria e o Cangaço", que está disponível na plataforma de streaming Disney , busca um novo olhar para essa história. Com Ísis Valverde no papel da icônica cangaceira e Júlio Andrade como Lampião, a produção mergulha na vivência feminina dentro do bando e na complexidade das relações que moldaram esse período histórico.
LEIA TAMBÉM | Análise de 'Maria e o Cangaço'
Inspirada no livro "Maria Bonita: Sexo, Violência e Mulheres no Cangaço", da escritora e jornalista Adriana Negreiros, a série resgata um lado muitas vezes silenciado das mulheres que estiveram no cangaço não apenas como acompanhantes, mas como protagonistas ativas da resistência.
Além de trazer cenas de ação intensas, "Maria e o Cangaço" se destaca pela imersão no sertão, com gravações em locações autênticas e uma fotografia que valoriza a aridez e a imponência da paisagem nordestina. O Vida&Arte conversou com os intérpretes Júlio Andrade e Isis Valverde, que compartilharam os desafios de dar vida a uma história tão emblemática, e com Adriana Negreiros, escritora que residiu no Ceará.
Isis Valverde
O POVO - Isis, dar vida a Maria Bonita é uma responsabilidade. Qual foi o maior desafio para você ao interpretar essa mulher icônica?
Isis Valverde - Acho que primeiro foi me esvaziar pra que ela existisse de alguma forma. Depois nos reconhecermos nesse feminino que todas nós carregamos, que é trazer a vida e essa delicadeza que a mulher tem, mesmo em alguns momentos sendo forte, a gente tem essa delicadeza ali por trás de pano de fundo. Isso vem da gente. E é sempre uma responsabilidade, como você acabou de dizer.
Você fazer um personagem histórico é um frio na barriga, sempre. E eu tentei, de alguma forma, me aproximar ao máximo que consegui com a ajuda dos meus colegas, com a ajuda dos professores, com a ajuda de Adriana (Negreiros), que escreveu o livro no qual a série se baseia, com a ajuda do meu colega Júlio. Eu falo que a maior dor do artista é a gente não poder tirar a nossa pele, tirar o nosso corpo e virar a pessoa perfeitamente.
Mas a gente tenta chegar o mais próximo possível. Então, eu acho que, respeitando as dores, as perdas e a violência que essa mulher viveu, eu espero ter honrado a história dela de alguma forma é contado da melhor maneira possível.
Julio Andrade
O POVO - Júlio, interpretar Lampião já é grandioso por si só, mas como foi explorar também o lado mais íntimo desse líder, o homem por trás da lenda?
Júlio Andrade - Cara, no primeiro momento, quando eu recebi o convite e, eu li o roteiro, eu falei, imagina como eu, como ator que tem uma trajetória já na cinebiografia, já fiz tantos personagens cine biográficos, como eu não vou aceitar esse personagem?
Eu fiquei apaixonado pela história e pelo personagem. Só depois que aceitei, vi onde eu tinha me metido. Porque eu falei "caramba, eu vou ter que honrar esse cara". Todo mundo no Nordeste ama esse cara, ele faz parte da nossa cultura, do nosso imaginário. Eu vou ter que correr atrás. Mas, assim, é um sonho. Viver Virgulino assim, pra mim foi um presente incrível. E eu acho que o mais difícil disso tudo foi lidar com a violência dele, entender a alma violenta desse homem, o que ele pensava, como que ele conseguiu lutar por tanto tempo, como o grupo conseguiu sobreviver naquele lugar tão difícil.
Adriana Negreiros
O POVO - Adriana você morou muito tempo no Ceará, escreveu para jornais daqui. Como essa vivência influenciou na escrita da história?
Adriana Negreiros - Embora tenha nascido em São Paulo, eu cresci em Fortaleza, os meus pais são nordestinos, meus avós, toda a minha família é nordestina. Então eu sempre ouvi histórias de cangaço, desde muito pequena. A minha avó, ela é de Mossoró, em uma cidade que em 1927 sofreu a ameaça de ser invadida pelo grupo de Lampião, e havia um temor muito grande, especialmente entre as meninas, de que elas pudessem ser raptadas pelo grupo, para integrá-lo, pra ser mais uma das mulheres daquele meio.
Então, as histórias do cangaço, você sabe muito bem, elas fazem parte da nossa formação, do nosso caráter. A gente escuta histórias de cangaceiro desde pequeno, dos nossos avós, e o cangaço é absolutamente presente em nossas vidas, inclusive na estética do Nordeste. Então, eu sempre tive muito interesse pelo cangaço e fiquei muito satisfeita de conseguir contar essa história, que sempre foi tão masculina, pelo ponto de vista de uma mulher, pelo ponto de vista de Maria Bonita.
Ler e assistir
Maria Bonita - Sexo, violência e mulheres no cangaço
Valor do livro: R$ 69,90
Maria e o Cangaço
Os episódios estão disponíveis em disneyplus.com