Uma seção inteira de livros para colorir bem em frente à entrada das maiores livrarias do Brasil. O público que chega ao espaço para escolher quais desenhos vai pintar, no entanto, não são as crianças, mas adultos que descobriram o material nas redes sociais. Essa não é uma história fictícia.
Os "Bobbie Goods", como ficaram conhecidos, tomaram conta das mídias sociais e impulsionaram a venda de livros para colorir em todas as livrarias do Brasil. Eles se tratam de cadernos para colorir animais fofinhos e vêm tendo destaque principalmente entre a geração Z (nascidos de 1997 a 2010).
No TikTok, o perfil oficial "Bobbie Goods" já acumula mais de 1,3 milhão de seguidores e 23,8 milhões de curtidas. Além disso, a hashtag #BobbieGoods, que reúne mais de 142,6 mil publicações na mesma plataforma. Já #coloringbook - "livro de colorir" - está em mais de 700 mil conteúdos.
O nome que se popularizou é uma referência à marca criada pela ilustradora norte-americana Abbie "Bobbie" Goveia, que divulga seu trabalho como "um reflexo do amor pela natureza, empatia pelo próximo e uma reconfortante nostalgia". Depois dela, outras opções similares ao projeto da artista ganharam espaço nas prateleiras.
Conforme a PublishNews, portal de notícias sobre o mercado editorial brasileiro, na semana de 24 a 30 de março, 12 dos 20 livros mais vendidos no Brasil eram obras para colorir.
Até março de 2025, foram vendidos mais de 150 mil livros de colorir no País, segundo o Nielsen Bookscan, serviço que monitora e analisa dados sobre as vendas de títulos no Brasil.
O sucesso desse hobby é associado a outra tendência atual: a busca pelo "off-line". A procura por atividades fora das telas é uma estratégia que vem ganhando adesão na educação das crianças em casa e nas escolas.
Para os adultos, colorir é incentivado como uma atividade para desacelerar a rotina agitada. É o caso, por exemplo, da artesã Laura Correia, 26 anos, que diz que utiliza os livros "para relaxar".
"Meu primeiro livro de pintar foi 'Jardim Encantado', que tinha mandalas. Foi a primeira vez que pintei em traços impressos, mas antes eu já coloria desenhos que meu tio fazia", diz a jovem sobre sua relação antiga com a pintura.
Laura compartilha que ela e sua enteada começaram a pintar por se identificarem com a atividade. "Os 'Bobbie Goods' eu conheci pelo TikTok, achava muito fofinho e fiquei com vontade de comprar o livrinho", acrescenta ela, que comprou as obras após a repercussão.
Apesar de os ursinhos para colorir estarem em destaque atualmente, esta não é a primeira vez que adultos saem de casa para escolher seus próprios lápis de cor e canetinhas. Há dez anos, em 2015, o já mencionado livro "Jardim secreto", da ilustradora escocesa Johanna Basford, fez história ao ganhar destaque nas livrarias entre o público "crescido". A obra era vendida com a mesma proposta: causar relaxamento.
Segundo o Nielsen Bookscan, os livros de colorir para adultos foram responsáveis por 6,5% das vendas de exemplares e 4,65% do faturamento das livrarias no primeiro semestre de 2015. No momento de auge desses produtos, eles representaram, em abril e maio daquele ano, 17,34% de todas as obras vendidas no Brasil e 14,21% do faturamento total.
No caso do livro de Johanna Basford, os desenhos retratavam casas e jardins com bastante detalhamento nas plantas e objetos. Já o estilo "Bobbie Goods" traz principalmente ursinhos em ambientes simples, como casas, cafeterias e barracas de comida.
Além de estarem disponíveis no site oficial, os Bobbie Goods podem ser encontrados em livrarias físicas e em lojas digitais.