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Livro infantojuvenil 'Pedro, quase invisível' é lançado neste domingo
Vida & Arte

Livro infantojuvenil 'Pedro, quase invisível' é lançado neste domingo

Celebrando a memória coletiva e o patrimônio histórico de Fortaleza, o livro infantojuvenil "Pedro, quase invisível" é lançado neste domingo, 10, na Bienal
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Alê Oliveira (Foto: Jarbas Oliveira/Divulgação)
Foto: Jarbas Oliveira/Divulgação Alê Oliveira

“Tem esperança no horizonte”; “Observe os detalhes”; “Deixe rastros” são alguns dos dizeres que aparecem na fanzine que é entregue ao lado do exemplar de “Pedro, quase invisível”.

O livro, escrito pela jornalista Alê Oliveira, tem estreia aguardada neste domingo, 13, na Quadra Literária da XV Bienal Internacional do Livro do Ceará.

Com elementos da escrita infantojuvenil, mas suscitando questões que atingem leitores de diferentes idades, a narrativa é inspirada no Edifício São Pedro, ponto de referência da orla de Fortaleza, que teve sua demolição concluída em maio de 2024.

Na trama, Pedro ganha vida como um prédio que sabe que vai desaparecer. Com uma improvável amizade entre o edifício e uma erva daninha, juntos embarcam em uma jornada para desvendar o mistério por trás do desaparecimento de outros prédios históricos em Fortaleza, buscando evitar que o Edifício São Pedro seja o próximo.

Apesar do pano de fundo costurado no universo fantástico, “Pedro, quase invisível” se ancora e tem como propulsão questões mais tangíveis do que nunca na contemporaneidade: a memória coletiva da cidade, o abandono do patrimônio histórico e os efeitos da especulação imobiliária.

Resultado de anos de uma pesquisa acadêmica sobre o edifício, iniciada em 2015, o olhar de Alê deixou de ser acadêmico e se tornou literário com o nascimento do filho Jonas, em 2020.

"Foi quando Jonas nasceu que me despertou o interesse em escrever para crianças. Me deparei com uma vida nova, à qual eu tinha que fazer o processo de mediação com o mundo e que sempre me colocava muitas questões. Eu tinha muitas perguntas, às quais não encontrava respostas em canto nenhum, e fui me deparar com essas respostas apenas na literatura.”, destaca.

Como consequência dessa formação conjunta de um novo ser, Alê publicou seu livro de estreia, “Ester Conhece Paulo Freire”, em 2021 — uma homenagem ao centenário do autor e a todos os educadores que acreditam na educação como prática da liberdade.

No mesmo fôlego, em 2021, veio “Salomar”, um livro de contos fantásticos sobre a cidade de Fortaleza, escrito de forma conjunta com seus alunos da disciplina de Comunicação e Culturas Urbanas. Além de escritora, jornalista e mãe, há mais de dez anos Alê leciona nos cursos de Comunicação Social da Universidade de Fortaleza (Unifor).

Imaginando novas formas de vivenciar a cidade ao lado de seus alunos, a escritora busca trazer para a sala de aula os motivos pelos quais, em comparação com outros municípios, Fortaleza segue deixando à mercê do tempo diversos patrimônios históricos.

“Vivemos em uma cidade que, como muitas outras, tem a especulação imobiliária e o interesse econômico em remover construções antigas para levantar prédios mais altos e lucrar mais. Mas Fortaleza tem uma peculiaridade: somos a cidade que quer ser do futuro. Vivemos esse desejo de modernidade, que tem como principal característica o culto ao novo. E, nessa tentativa de deixar de ser provinciana, tentamos imitar Paris, tentamos imitar Miami. O próprio São Pedro nasce inspirado em um prédio de Miami, já com esse desejo de novidade”, exemplifica.

Se distinguindo de outras cidades que abraçam a modernidade mas seguem investindo na manutenção de seu patrimônio, a doutora em Educação faz um retorno ao período colonial para explicar sua possível tese.

“Fortaleza é uma cidade que, no seu processo de construção, foi diferente da maioria, pois foi povoada do interior para o litoral. Ela se torna essa cidade portuária, de passagem, mas que não era um lugar onde as pessoas queriam ficar. O cearense é historicamente um sujeito da partida, da diáspora, e Fortaleza se torna essa capital que deseja o que está fora, o que veio do navio, o que veio dos outros territórios. Acho que aí nasce esse processo de negação da história, da negação de si”, pontua.

Sob a iminência de destruição, a jornalista cita outros pontos, como a antiga ponte do Poço da Draga, o Farol do Mucuripe e o Edifício Lord, localizado na Rua 24 de Maio, que vive desde os anos 2000 temores relacionados à sua estrutura.

“Assim como o São Pedro, o Hotel Lord, na época, era a atração da cidade. Mas a novidade envelhece. E, quando envelhece, não serve mais pra cidade, que entra de novo na busca pelo novo. Fortaleza é meio fadada a esse ciclo de sempre buscar ser a novidade, demolindo o antigo em nome de uma modernidade que nunca vai existir", afirma.

Com sua estreia na Bienal neste domingo, 13, data que marca os 299 anos de Fortaleza, Alê explica que, apesar de outras possibilidades, insistiu na data pela simbologia e conexão com os ideais que ela acredita rumo ao terceiro centenário da Terra da Luz.

“O principal caminho pra mim é que as pessoas possam ir pra rua, saiam dos espaços fechados dos shoppings e vivenciem a cidade, o outro, o diferente, o estranho. É levar crianças, jovens e essa nova geração para vivenciar as ruas, andar a pé, se perder, conhecer os espaços públicos e comer no banco da praça. Isso constrói memória — e, quando quiserem derrubar esse banco, essa criança não vai deixar, porque vai se sentir pertencente”, argumenta.

Com ilustrações em carvão vegetal realizadas por Alê e Daniel Vasconcelos, cada edição do Pedro vem acompanhada de um bottom com a silhueta do prédio e de uma fanzine que relembra ao leitor a importância de deixar seus rastros. Ao ser questionada sobre o feito de estrear na Bienal contando a história do edifício para crianças, Alê afirma:

"A história de Pedro continua. Esse livro é um manifesto de amor à cidade, um pedido de socorro que está clamando para que as novas gerações conheçam a cidade".

Lançamento do livro 'Pedro, quase invisível'

  • Quando: domingo, 13, às 15 horas
  • Onde: Quadra Literária da Bienal do Livro do Ceará - Centro de Eventos (avenida Washington Soares, 999 - Edson Queiroz)
  • Entrada gratuita
  • Valor do livro: R$ 40
  • Mais informações: @aleoliveiraara

 

Indicações de Alê Oliveira para ler na Bienal

  •  ⁠"Sangue no Olho D’agua", de Glória Diógenes
  •  "Memórias Interrompidas", de Lianne Ceará
  •  "Buraco de dentro", de Ana Márcia Diógenes
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