Logo O POVO+
Artista cearense Brenda Guimarães transforma resíduos em arte
Vida & Arte

Artista cearense Brenda Guimarães transforma resíduos em arte

Criadora do Bekka Studio, a cearense Brenda Guimarães transforma resíduos em obras de arte e ressignifica o conceito de lixo
Edição Impressa
Tipo Notícia Por
A artista cearense
Brenda Guimarães é criadora do Bekka Studio (Foto: Beto Roma/Divulgação)
Foto: Beto Roma/Divulgação A artista cearense Brenda Guimarães é criadora do Bekka Studio

Uma caixa de ovo, garrafas PET, embalagens de amaciantes, latinhas de atum. À primeira vista, o que todos esses resíduos teriam em comum seria apenas o fato de estarem na fila de espera para descarte em um Brasil que recicla apenas 8,3% de todo o material produzido, segundo dados da Associação Brasileira de Resíduos e Meio Ambiente (Abrema), emitidos em dezembro de 2024.

Contudo, graças ao trabalho da cearense Brenda Guimarães, estes e outros materiais encontram nova vida em estantes espalhadas pelo Brasil. Fundado há um ano, o Bekka Studio - apelido de infância da artista - cria objetos decorativos que se propõem a mudar a visão do que é lixo.

LEIA TAMBÉM | Artista cearense estreia exposição visual conjunta em São Paulo

A cearense, graduada em Estilismo e Moda, conta que parte de sua inclinação artística surgiu na infância. "Era uma criança inventora, estava sempre fazendo experimentos com meus brinquedos ou na natureza. Cresci em uma casa com um jardim que me abrigava por horas e minha família estava sempre viajando pelas praias e pelo interior, então sempre estive conectada entre o mar e o sertão. Quase todas as minhas memórias são solares e ligadas à natureza", diz a designer de 39 anos.

Seguindo essa veia criativa, após a graduação, ela começou a trabalhar no ateliê de alta-costura de Naura Franco, se especializando em bordados e nas manualidades. Em 2008, a fim de seguir um sonho de infância, juntou croquis, alfinetes e manequins e se mudou para São Paulo, em busca de uma vaga como estilista nas empresas do varejo.

Após anos no mercado, uma viagem de autodescoberta para a Tailândia, um curso na London College of Fashion e uma temporada em Barcelona, Brenda retornou ao Nordeste em 2018 para integrar a equipe de uma grande fábrica de vestuário. Foi durante a pandemia, reflexiva sobre o ritmo consumista do varejo, que a artista pediu demissão e se mudou para o Rio de Janeiro, pois já cultivava um relacionamento à distância e flertava com a Escola de Artes Visuais do Parque Lage.

"O grande norte e fio condutor da minha vida é sempre sentir se aquele trabalho ou aquele estilo de vida está me fazendo bem, se estou sendo coerente com meus sonhos. Se não está, me mexo para mudar e, na época, senti fortemente que precisava voltar a entrar em contato com as minhas manualidades", pontua.

Além da formação na escola, Brenda entrou em um curso de pintura e outro de desenho, inaugurando um período de desaceleração. "Estar ali, cercada pela natureza, experimentando materiais sem a pressão de entregar nada, só vivendo o presente... abriu um portal dentro de mim. E foi nesse solo fértil que o Bekka Studio começou a nascer".

Hoje, o estúdio, que tem sede no Rio de Janeiro, atua na frente socioambiental, por meio do programa Bekka.REC. A partir de uma parceria com uma ONG, oferece capacitação para mulheres em situação de vulnerabilidade na Rocinha e parte dos resíduos utilizados na produção é coletada por uma cooperativa do bairro.

"A ideia de atuar nessas duas frentes é contribuir também com o setor da reciclagem e envolver o território da Rocinha, com as pessoas que sofrem diretamente com aquele resíduo. Compartilhando nosso processo, podemos transformar por meio do contato com a arte e gerar renda", explica. Brenda trabalha sob encomenda. Cada peça leva de duas a três semanas para ser entregue, já que ela faz sozinha e artesanalmente - mas com a ajuda de amigos que fornecem caixas de ovos e papelão.

LEIA TAMBÉM | A união do artesanato com o design

Em 2025, para a edição do festival de design DW! Tour no Rio de Janeiro, inaugurou outra vertente do estúdio, por meio da pintura em quadros decorativos. "Acho que as ideias vão se desdobrando, uma peça que leva a outra", conta. Ainda estreante, mas abarcando as ressonâncias de ser uma marca que transita entre diferentes linguagens, Brenda fala sobre os desafios de se ter um propósito em uma sociedade do consumo.

"Viver de um projeto autoral e sustentável hoje é, muitas vezes, remar contra a maré. Porque a cultura do consumo ainda é muito pautada na velocidade e no imediatismo. As pessoas querem tudo 'pra ontem' e, de preferência, barato. Só que o barato custa caro. Custa para quem produz, custa para o planeta, custa para o futuro. E esse talvez seja o maior desafio: fazer com que as pessoas compreendam o valor de um trabalho que não é feito em escala, mas sim em profundidade", argumenta.

 

Saiba mais sobre o Bekka Studio

Mais informações: @bekka_studio

O que você achou desse conteúdo?