O festival de cinema Ceará Voador estreia nesta segunda-feira, 5, com programação de filmes cearenses seguidos de debates para a comunidade Poço da Draga e para o público geral no Dragão do Mar.
A programação vai até o sábado, 10, com a exibição de projetos 100% cearenses. Para isso, cerca de 35 pessoas trabalharam para dar vida ao Ceará Voador. A idealizadora Sara Síntique conta que o nome do festival foi uma sugestão do artista Manoel Ricardo de Lima.
“Para mim, foi como um presente, porque esse nome representa o Ceará do sonho, da imaginação, do voo. Quando assistimos a um filme no cinema, viajamos na imaginação, voamos com ele. Brincamos que ‘tem cearense em todo lugar’, porque esse povo realmente voa, tanto na imaginação quanto na criação e na ousadia, sempre indo longe.”, diz a diretora.
No festival, 15 curtas-metragens são homenageados na mostra competitiva; já os longas-metragens são dois: "Todas as Vidas de Telma" e "A Luta de Nzinga", que não competem entre si, mas serão homenageados com o troféu Ceará Voador.
“Ambos os filmes dialogam com o tema do feminino, que é muito importante para o festival: histórias de mulheres, personagens femininas fortes, e memórias que foram silenciadas ao longo do tempo”, explica Sara sobre os filmes de Adriana Botelho e Eduardo Cunha, respectivamente.
A curadoria da mostra é assinada pelo alagoano Ulisses Arthur e pelos cearenses Rúbia Mércia e Pedro Diógenes. Este último, que é diretor de filmes como “A Filha do Palhaço” e “Inferninho”, conta que pode mergulhar na produção contemporânea de cinema cearense.
Pedro afirma: “foi muito bom ver a diversidade, a qualidade e a multiplicidade dos filmes. Principalmente nos curtas, que são filmes muito inventivos, criativos, com temas relevantes e modos de fazer que buscam seu próprio caminho, sem necessariamente repetir fórmulas ou regras”.
Para ele, festivais de cinema como o “Ceará Voador” são “extremamente importantes” porque são ferramentas para fazer filmes independentes nascerem, existirem e serem vistos, especialmente no caso dos curtas, que “têm poucos espaços de exibição”.
“O circuito de festivais, mostras e eventos é onde esses filmes acontecem, onde são discutidos e onde podem alcançar o público. Aqui em Fortaleza e no Ceará, temos poucos festivais, e, entre eles, poucos com um foco no cinema local”, argumenta o cineasta, que destaca a qualidade das produções cearenses.
Ele pontua: “a produção local já atingiu um nível de quantidade e, principalmente, de qualidade suficiente para preencher uma programação inteira com sessões fortes, com filmes potentes feitos por cineastas daqui. O festival Ceará Voador, por exemplo, simboliza esse momento especial que o cinema cearense está vivendo agora”.
“Quando a gente foca no cinema cearense, a gente direciona o olhar do público: ‘Olha só, tem cinema sendo feito no Ceará’. E isso permite uma atenção especial à linguagem, às temáticas, às estéticas que estão sendo desenvolvidas por aqui”, acrescenta Sarah.
Quem divide a mesma opinião com Diógenes é Wara, que integra o júri do festival. “Na minha opinião, festivais de cinema no Ceará — especialmente os que exibem produções do próprio estado — são cada vez mais necessários. Pensar o cinema cearense passa também por criar políticas públicas que viabilizem mostras, cineclubes e festivais em regiões onde o acesso é mais difícil, seja por falta de equipamentos, infraestrutura ou mesmo pela ausência de iniciativas culturais regulares”, afirma.
Wara defende ainda que os festivais de arte da Cidade precisam chegar a espaços descentralizados, assim como as atividades do Ceará Voador no Poço da Draga: “sinto que há muita produção acontecendo aqui, com gente da periferia, de comunidades tradicionais, do interior e também da capital. Mas ainda é preciso descentralizar mais a realização dos festivais. Levar o cinema para o interior, para espaços acessíveis, é essencial”.
Pensando em aprofundar o debate sobre os filmes que serão exibidos, o festival promove também debates acerca dos temas apresentados ao fim de cada sessão.
“Acreditamos no cinema como uma ferramenta de educação e transformação. Um dos eixos do nosso festival é justamente o elo com a educação. Acreditamos que o filme, por si só, já promove uma experiência estética e reflexiva, mas o debate amplia essa vivência. É uma oportunidade de encontro entre público e realizadores — diretores, produtores, atores, atrizes e demais membros da equipe”, explica Sara, sobre a programação que acontece até a quarta-feira, 7.
Todo o festival foi financiado com recursos da Lei Paulo Gustavo, incentivo federal ao desenvolvimento artístico. Descanso isso, o patrocínio da ESPAÇOPROJETOS e as parcerias do Instituto Dragão do Mar, do Instituto Velaumar, do Atelier Rural e da Editora Substânsia, a diretora do Ceará Voador finaliza: “é sempre importante lembrar que aproximar o público cearense das salas de cinema é um gesto político e cultural, valoriza quem está fazendo e forma plateia”.
Ceará Voador