Morador do bairro há mais de duas décadas, seu Evilasio Ferreira da Silva, 46 anos, acompanha de perto as transformações pelas quais o Santa Filomena tem passado. Pai de quatro filhos e já avô, ele fala com orgulho da evolução da comunidade — tanto na estrutura quanto no espírito coletivo.
"Nosso bairro vem melhorando muito. Hoje temos asfalto, a areninha onde as crianças brincam com segurança, e até uma base da Polícia Militar aqui na esquina", relata. Para ele, a nova fase do bairro traz também uma chance de relembrar o passado e refletir sobre os caminhos da juventude.
"Infelizmente, muitos adolescentes da minha época seguiram por caminhos errados. Mas agora a gente vê o bairro crescendo, com mais oportunidades e projetos sociais importantes, como o Menino de Deus, que já é bem antigo aqui", comenta.
Um dos marcos dessa transformação tem sido a instalação de exposições visuais em espaços públicos, como a parada de ônibus e os muros da comunidade. Seu Evilasio participou ativamente da montagem da exposição "Da Terra Batida ao Gramado", ao lado do fotógrafo Léo Silva.
"Fui eu que coloquei as tábuas, furei e montei com ele. É muito bom ver essas imagens por aqui. Faz a gente lembrar de muita coisa", afirma.
Para ele, iniciativas como essa mudam a forma como o bairro se enxerga. "Essas exposições trazem uma nova imagem pra gente. É bonito de ver. E mostra que nosso bairro tem história, tem valor".
A exposição também emocionou o gestor público Jardel Cunha Silvestre, 36 anos, que, ao se deparar pela primeira vez com as fotos, reviveu momentos da infância.
"Ver aquele campo retratado em fotografias tão grandes, no meio do nosso bairro, foi como entrar num túnel do tempo", relata. Ele lembra com carinho dos momentos vividos ali, desde a infância até a vida adulta. "O campo foi palco de tudo: do esporte à luta por moradia. A gente cresceu ali, aprendeu ali".
As imagens que compõem a exposição destacam crianças treinando, jogos comunitários e momentos de convivência. Uma delas mexeu especialmente com Jardel: "Aquela dos meninos treinando me emocionou. Eu fui um deles. Participei da escolinha do Coritiba, liderada pelo Paulo Shoa, um educador social importantíssimo para nós".
Além da nostalgia, a mostra promove um reencontro da comunidade com sua própria história e reforça o orgulho de pertencer. "É lindo ver a favela valorizada assim. A favela não é só carência, é potência. Essa exposição mostra isso com clareza. Quem viveu aquele tempo revive as memórias. E quem não conheceu o campo, agora entende sua importância".
Para Jardel, é essencial que iniciativas como essa se repitam: "Precisamos de mais projetos. A comunidade deve ser ouvida, porque somos nós que fazemos esse território. Essa escuta é o que torna tudo real e verdadeiro".