O bordado cearense é, historicamente, considerado uma tradição familiar. Grandes artistas artesãs que hoje são destaques nacionais na cena cultural aprenderam a bordar com mães, que aprenderam com avós ao ver bisavós. O trabalho manual com linhas e agulhas é honrado até hoje por mulheres que compartilham seus aprendizados com novas gerações.
Esse é o caso de Benedita Áurea, Amanda do Carmo, Maria Vivalda e Fátima Vasconcelos, artistas cearenses que foram destaque na edição especial de Dia das Mães da tradicional Feira na Rosenbaum, que se encerra neste sábado, 10, em São Paulo.
O evento acontece anual e itinerantemente e reúne artesãos e designers independentes de diversas regiões do Brasil para expor seus trabalhos, que passam pela curadoria de Cris Rosenbaum — que nomeia o projeto. A edição especial é chamada de Feira de Todas as Mães.
As cearenses, apoiadas pela Central de Artesanato do Ceará (CeArt), apresentam o bordado cearense em linguagens e técnicas diferentes. Juntas, elas mostram bordado em chita, rechilieu, tapeçaria e estampas em almofadas para o espaço de vendas e exibição.
"O artesanato traz nossa identidade e a representação da nossa cultura, mas, sobretudo, ele é gerador de economia e renda. O trabalho que o Governo do Estado tem feito de levar artesãos e artesãs a eventos nacionais e internacionais é uma forma de ampliar a visibilidade e, consequentemente, os canais de comercialização para os produtos", pontua Jade Romero, vice-governadora e secretária da Proteção Social, em entrevista ao O POVO.
Jade destaca que o Estado busca dar condições a artistas para que eles possam transformar seu artesanato em produtos de qualidade comercial e competitiva, garantindo a "manutenção de saberes que atravessam gerações e contam nossa história".
"Essa parceria com a Feira Rosenbaum é uma dessas ações, garantindo visibilidade em um mercado extremamente consumidor e com público de designers, arquitetos, sendo também formadores de opinião sobre arte e artesanato", diz a vice-governadora.
Abaixo, conheça quem são as estrelas cearenses que representaram o Ceará este ano na Feira Rosenbaum.
Acompanhe o trabalho das bordadeiras
Instagram: @ceartceara
Amanda do Carmo
Maria de Jesus do Carmo soma mais de 15 anos de trabalho artesanal, com destaque para a tapeçaria. As técnicas que aprendeu e usa até hoje foram adquiridas com a convivência com mãe e avó, que bordavam e deixavam Amanda (nome artístico) maravilhada.
"Estava sempre por perto para aprender — e aprendi. Hoje em dia, ninguém mais da geração antiga está aqui, todos já se foram. Então sou eu quem continua essa arte, e gosto muito do que faço", reflete a artista sobre a tradição.
Para ela, as cores e as figuras que via em bordados a lembraram da sua infância, que teve em Aracati, com borboletas, flores do campo, frutos e pássaros: "Sempre me inspirei nisso". Amanda conta que o bordado sempre foi sua vocação e que nunca teve outra profissão que não envolvesse artesanato.
Benedita Áurea
Benedita Áurea é sobralense, mas morou a maior parte de sua vida em Maranguape. Foi durante a infância que iniciou seu contato com o artesanato, influenciada pela própria mãe, que trabalhava com Rechilieu, uma técnica delicada de bordado, que cria desenhos com contornos definidos.
"Comecei a bordar com 8 anos. Naquela época, eu bordava para uma loja. Fazia trabalhos lindíssimos e até ensinava outras pessoas. Fui crescendo e continuei trabalhando com bordado. Depois, precisei dar uma pausa para estudar, mas, de uns 40 anos para cá, assumi de vez o bordado", compartilha Áurea.
A artesã conta que foi conquistando clientes em suas cidades e já se considera uma mestre em sua arte. Sua próxima meta, enquanto artista, é repassar o conhecimento para outras pessoas de sua região.
Fátima Vasconcelos
Maria de Fátima Vasconcelos começou a bordar na infância para auxiliar a mãe e a avó com peças artesanais. Ela observava as mulheres da família fazendo o enxoval de seus irmãos: "Foi assim que comecei a pegar na agulha e nas linhas, aprendendo naturalmente".
Com o tempo, na vida adulta, ela se afastou do bordado para se dedicar aos estudos, formando-se em Letras e trabalhando como professora. "Mas tive uma experiência marcante: vi uma exposição da Família Dumont, que tinha um grupo de bordadeiras. Fiquei encantada com a beleza e riqueza daqueles bordados. Foi aí que me dei conta: "Eu sei bordar. Por que não retomar?"
Ela deixou a sala de aula para se dedicar a uma paixão antiga: a arte naïf, antes experimentada como pintura e depois desenvolvida como bordado. "É uma arte de caráter ingênuo e espontâneo", diz.
Maria Vivalda
Maria Vivalda carrega o bordado como herança. Usando um raio de bicicleta como agulha e linha de barbante de saco de açúcar, conseguiu desenvolver sua habilidade para o crochê. "Acho que herdei da minha bisavó e da minha avó, que faziam aquelas rendas de bilro, aqueles bicos, rendinhas delicadas", diz.
"Com o tempo, fui melhorando. Consegui minha primeira agulha de crochê, depois uma maletinha, fui montando meu kit completo. As pessoas começaram a gostar do que eu fazia. Mas aí me encantei mesmo foi com o bordado. Quando vi o bordado, pensei: 'Agora vou levar isso a sério'".
Vivalda passou a ser convidada para participar das feiras de arte, onde seu trabalho conquistou muita gente. "Começamos com uma pequena coleção de jogos americanos. Hoje, fazemos uma variedade de produtos…", comemora a artista.