Na última semana, chamou a atenção na Netflix o filme que passou a ocupar o topo da lista de longas-metragens mais vistos na plataforma no Brasil. Um suspense alemão, lançado em 30 de abril, já estava em primeiro lugar no streaming logo no dia seguinte, desbancando obras como “Um Lugar Bem Longe Daqui”, “Inexplicável” e “Náufrago”.
A produção continuou no pódio no fim de semana, ocupando a terceira posição no sábado, 10, por exemplo. Intitulado “Exterritorial”, o filme mobiliza o público pelas incógnitas em torno de um drama familiar que descamba para uma conspiração maior. Com boas cenas de ação e caminhos intrigantes, a obra é marcada por atuações convincentes, mas também peca pela condução de seu ritmo.
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Dirigido por Christian Zübert, o longa-metragem apresenta a história de Sara Wulf (Jeanne Goursaud), ex-soldado das Forças Especiais, em uma jornada dramática. Em uma visita ao consulado dos Estados Unidos em Frankfurt, na Alemanha, seu filho pequeno, Josh, desaparece. O mais intrigante é que ninguém parece tê-lo visto no prédio.
O problema piora quando ela percebe que não pode contar com ajuda de autoridades alemãs no caso, pois elas não têm jurisdição no consulado americano. Assim, for obrigada a ir embora, talvez nunca mais reencontre seu filho. Desesperada, a personagem percorre os misteriosos corredores do consulado à procura do menino.
Entretanto, ela não sabe da perigosa conspiração que acontece diante dela. O elenco de “Exterritorial” ainda é formado por Lera Abova, Dougray Scott, Annabelle Mandeng e Susanne Michel. O filme conseguiu mobilizar reações variadas, alcançando recepção mista em sites como Rotten Tomatoes e IMDB.
No início da produção, o espectador logo se depara com a ligação mãe-filho que passaria a dar o tom da narrativa, bem como traumas no passado de Sara que ainda a acompanham. Uma dessas lembranças atormentadoras é do período em que serviu no Afeganistão, com flashes de um momento dramático que seguem sendo revisitados.
Na expectativa de deixar o passado para trás, ela decide morar nos Estados Unidos com Josh, de apenas seis anos. Para isso, precisa tirar um visto de trabalho no Consulado Geral do país em Frankfurt. O problema é que, mesmo em um aparente local seguro, seu filho acaba sumindo - e esse é o início de uma trajetória desesperadora para a protagonista.
Sozinha, ela vê a necessidade de investigar por conta própria, pois ninguém parece considerar relevante sua denúncia. A personagem usa suas habilidades militares para achar respostas - e logo percebe que não virão facilmente. A partir disso, é desencadeada uma trama de dúvidas e de lutas com quem atrapalhar seu caminho.
Ao longo do caminho, aliados podem surgir, como Irina (Lera Abova). Entre as angústias que cercam a busca da protagonista está a constante incerteza se o que está vivendo é real ou se é elaboração da sua mente, devido tanto aos episódios de estresse pós-traumático quanto às dúvidas postas por autoridades sobre a sua sanidade. O próprio espectador se põe em um posto de desconfiança. Ela realmente está passando por aquilo ou é uma fantasia?
De todo modo, Sara precisa se manter forte para encontrar respostas e alcançar seus objetivos, o que demonstra a construção da personagem como uma mulher capaz de sacrificar tudo - e todos - para proteger quem mais ama. Nesse sentido, as atuações são convincentes e acrescentam ao enredo elementos para consolidar o suspense, desde expressões de preocupação a traços de ambiguidade nos personagens.
Afinal, será que eles realmente são quem demonstram ser? Ou há mais camadas nessa rede de conspiração que se forma? As respostas são desenvolvidas ao longo da trama, enquanto outras perguntas surgem pela jornada. Qual o papel real de sua companheira de ação, Irina? Por que Sara enfrenta tantas dificuldades para encontrar seu filho? Questões que se somam e se agrupam em meio a cenas de ação.
“Exterritorial” parece ter angariado o topo da Netflix por um combo de ingredientes: primeiro, a incógnita em torno do desaparecimento do filho da protagonista; segundo, a ambiência do longa-metragem, colocada em um lugar fechado e não convencional (uma embaixada); terceiro, pelas cenas de ação comandadas por Sara; por fim, as atuações.
O filme, porém, também chama atenção em alguns momentos por pontos insatisfatórios. Apesar de boas coreografias de lutas, a capacidade de “regeneração” da protagonista, ainda que seja ex-militar, não parece verossímil. Ela, por exemplo, chega a deslocar seu ombro propositalmente para se desvencilhar de um inimigo e, na sequência, consegue golpeá-lo utilizando o braço afetado sem aparente dificuldade.
Além disso, a reta final de “Exterritorial” se demonstrou arrastada, desacelerando por demais um ritmo que estava sendo construído de forma orgânica e inquietante. A solução final para conseguir uma resposta sobre o desaparecimento de seu filho também foi, de certa forma, previsível.
Mesmo assim, a experiência geral com o filme alemão é agradável e uma boa surpresa na lista de produções mais assistidas na Netflix. É uma interessante alternativa de filmes de ação fora do eixo cinematográfico estadunidense e uma jornada de quase duas horas que consegue prender a atenção.
Exterritorial
Onde assistir: Netflix