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Cultivando histórias: quais são as melhores plantas para se ter em apartamentos
Reportagem Especial

Cultivando histórias: quais são as melhores plantas para se ter em apartamentos

O crescimento das cidades e o adensamento urbano tornaram a moradia em apartamentos uma necessidade. No entanto, o desejo por um quintal ou jardim acabou por se traduzir em uma selva particular criada no meio do urbano. Pesquisa mostra que sete em cada 10 brasileiros gostam de cultivar plantas em casa

Cultivando histórias: quais são as melhores plantas para se ter em apartamentos

O crescimento das cidades e o adensamento urbano tornaram a moradia em apartamentos uma necessidade. No entanto, o desejo por um quintal ou jardim acabou por se traduzir em uma selva particular criada no meio do urbano. Pesquisa mostra que sete em cada 10 brasileiros gostam de cultivar plantas em casa
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Na primavera da infância, o costume de brincar nos quintais de casa, seja das avós ou das mães, era rotina entre os pequenos. No entanto, com o amadurecimento dessas crianças, a vida em grandes cidades e em apartamentos, impossibilitava que florescesse algo entre as paredes de concreto. Assim, vasos de plantas permitiram brotar aquilo que faltava nessas moradias da infância, um tipo diferente de vida e, além disso, uma reconexão consigo.

Com a pandemia do Covid-19, o isolamento social fez com que as pessoas ficassem confinadas, aquelas que não tinham quintais, tiveram que se contentar com as paredes e móveis ou, então, recorrer aos vasos de plantas. Nessa época, o movimento arquitetônico chamado Urban Jungle, que em português significa selva urbana, havia sido criado, aproximadamente, em 2017, ganhou ainda mais força.

O cultico de plantas no ambiente doméstico ganhou impulso com a pandemia da Covid-19(Foto: Try Small Things - Wordpress)
Foto: Try Small Things - Wordpress O cultico de plantas no ambiente doméstico ganhou impulso com a pandemia da Covid-19

O estilo nasceu a partir da necessidade de aproximar pessoas que vivem nas grandes cidades ao meio ambiente. Com a mudança para metrópoles e a tecnologia, a população ficava cada vez mais distante da natureza. Esse estilo se relaciona com o conceito de design biofílico, que visa reconectar o ser humano com a natureza nos ambientes já construídos.

“O Urban Jungle se caracteriza por plantas de fácil manutenção e a grande quantidade delas no apartamento”, comenta Bruno Flor, botânico e cuidador do Ateliê Seu Flor, que carrega o nome do avô. O florista conta que sempre gostou de plantas.

“Na pandemia, muitas pessoas começaram, também, a se interessar por criar plantas, porém, não sabiam como cuidar. Não sabiam do básico”, narra. Ele dá a dica, “para quem quer ter plantas em apartamento, o segredo é focar nas plantas tropicais”.

 

Plantando memórias

Se envolver com a terra, plantar vida e colher o quer que fosse, era a brincadeira que ocupava Bruno Flor na infância. O Ateliê ‘Seu Flor’ é uma casa que conta um pouco da história da família. Aos fundo do espaço, com as raízes se entrelaçando aos tijolos, está uma orquídea com mais de 17 anos, criação que partilha com a sua mãe.

Bruno Flor dá continuidade ao trabalho que o seu avô, Seu Flor, exercia. (Foto: FERNANDA BARROS)
Foto: FERNANDA BARROS Bruno Flor dá continuidade ao trabalho que o seu avô, Seu Flor, exercia.

“A planta consegue entrar na decoração, mas também consegue trazer um pouquinho da história da gente”, conta. O florista narra que muitas das suas vendas acontecem pelas necessidades dos compradores de possuírem um pouco dessas raízes da infância em suas casas. “Compram uma planta, porque tinha na casa da mãe. Leva uma muda, porque tinha na casa da avó”, lembra. O Censo QuintoAndar de Moradia, em parceria com o Datafolha, mostrou que sete em cada 10 brasileiros gostam de cultivar plantas em seus lares.

 

 

“A planta se tornou um objeto de decoração, mas as pessoas esqueceram que planta é um ser vivo, que tem necessidades, que precisa de água e nutrientes”, alerta. O biólogo conta que para manter as plantas deve haver um planejamento, cada local da casa deve combinar com o tipo de planta.

A quantidade de sol e vento que o espaço recebe são fatores que devem ser considerados na hora de escolher tanto o local quanto a planta. Além disso, deve-se reconhecer que alguns espaços da casa não podem ter plantas.

Bruno Flor comenta que o cuidador precisa “entender se a casa tem luz suficiente para as plantas. Nenhuma planta vive na escuridão. A gente tenta classificar em planta de sombra e planta de sol, porém sombra nunca é um local escuro, é uma sombra em um local bem iluminado”.

O florista Bruno Flor diz que a quantidade de sol e vento que o espaço recebe são fatores importantes na hora de escolher a planta(Foto: FERNANDA BARROS)
Foto: FERNANDA BARROS O florista Bruno Flor diz que a quantidade de sol e vento que o espaço recebe são fatores importantes na hora de escolher a planta

Bruno brinca que divide as plantas em dois tipos, as que te perdoam e as que não te perdoam. As do primeiro tipo, listadas aqui, permitem mesmo que o cuidador esqueça momentaneamente de regá-las, elas continuarão com suas folhas por um tempo. As do segundo tipo, as que não perdoam, perdem suas folhas rapidamente e morrem.

“As que te perdoam são aquelas que têm paciência contigo. Se você errar na falta de água ou no excesso de água, tá tudo bem. Claro, você tem que dar uma solução… Elas voltam. Agora tem plantas que não perdoam. Se você faltar com a água, ela perde as flores, as folhas e depois morrem”, avisa.

Bruno comenta que se precisa perceber a planta. Da mesma forma, deve-se escolher o vaso apropriado para a muda, o qual não deve ser grande ou pequeno. O vaso tem que ter o tamanho ideal.

Ele alerta, também, que o cultivo de plantas em vasos, difere do cultivo de plantas no solo. “Quando imaginamos um jardim grande, cultivado diretamente no solo, as pessoas regam todos os dias. Vão lá e colocam a mangueira todo dia. No vaso, as plantas estão limitadas e não se pode regar todo dia”, conta. Segundo Bruno, a principal causa de morte das plantas está nos dois extremos — o excesso e a falta de água.


 

"Dedômetro"

Gleiciane Cavalcante, proprietária do box ‘The Jungle’ no Bosque da Praça das Flores, em Fortaleza–CE, conta que o “dedômetro é o melhor jeito de saber se sua plantinha está com sede”.

Gleiciane Alves é proprietária do box 'The Jungle' junta com o marido.(Foto: Reprodução Instagram: @thejungle.arte)
Foto: Reprodução Instagram: @thejungle.arte Gleiciane Alves é proprietária do box 'The Jungle' junta com o marido.

O nome da técnica, segundo a florista, vem da professora Carol Costa, que dedica um perfil de Instagram apenas para falar de plantas. O método é bastante simples, “você põe o dedo no substrato, o mais fundo que puder. Se o dedo sair seco, está na hora de regar. Caso saia sujo, quer dizer que ainda tem umidade suficiente no substrato”, afirma Gleiciane.

A empresária alerta que a abundância de água no vaso aumenta a probabilidade de apodrecimento da planta. Gleiciane conta que, no início do seu empreendimento, “igual todo mundo eu gostava de planta, mas não sabia cuidar”. Ela ainda comenta que essas dicas, do dedômetro, por exemplo, são essenciais para manter a saúde das plantas.

 

 

As sementes que contam histórias

A professora do curso de psicologia da Universidade Estadual do Ceará (UECE) Lise Mary Soares Souza, estudiosa do campo da psicoecologia, conta que trabalhou durante o seu doutorado com questões relacionadas ao reflorestamento com auxílio de egressos do sistema penitenciário. No trabalho, ela entendeu ainda mais o poder da natureza, das plantas e do plantio.

Professora Lise Mary Soares Souza é doutora em Educação pela Uece(Foto: Acervo Pessoal)
Foto: Acervo Pessoal Professora Lise Mary Soares Souza é doutora em Educação pela Uece

“Eles começavam falando em covas (o buraco feito para plantar) e a gente chamava de berço”, conta. A doutora afirma que o processo de plantio permitiu que os egressos tivessem um reencontro com eles mesmos a partir da plantação.

“Essa relação ser humano-natureza é importante. Afinal, somos natureza”, afirma. No entanto, a professora reconhece que a relação entre essas duas partes está bastante desgastada e distante. Para ela, a prática de colocar plantas em casa é uma tentativa de reaver essa conexão.

“Não somos maiores que a natureza. Somos apenas um dos seres que compõem esse conjunto. Portanto, deve respeitar esses ‘mais humanos’ (plantas)”, percebe.

A ecopsicologia fala sobre a natureza psíquica, relativa ao interior do ser humano. Segundo ela, as crianças estão cada vez mais se distanciando da natureza. “Hoje, as crianças não sobem mais em árvore, por exemplo, ficam só nos tablets”, observa. Ela explica que quando as crianças estavam em contato direto com as plantas, elas conseguiam desenvolver seus sentimentos e afetos. Na vida adulta, por viver em apartamentos, a habilidade de falar sobre si se poda.

O Ateliê Seu Flor têm uma grande diversidade de plantas tanto as que perdoam quanto as que não perdoam(Foto: FERNANDA BARROS)
Foto: FERNANDA BARROS O Ateliê Seu Flor têm uma grande diversidade de plantas tanto as que perdoam quanto as que não perdoam

“A natureza de dentro envolve o desenvolvimento dos nossos sentidos, que começam a ser trabalhados com as plantas, elas são as responsáveis por desenvolver nossos sentidos”, identifica.

Lise fala sobre o seu pequeno bioma. Dentro do seu apartamento, ela cultiva pés de goiaba, limão, manjericão, ora pro nobis e outras diversas espécies. “O meu apartamento permitiu que acontecesse um processo de reforma íntima minha, o que gerou as ideias de todos os meus projetos”, conta. A professora finaliza que plantas nos apartamentos não apenas permitem a reconexão com o interior, mas também, para além da saúde mental, atinge-se a saúde plena.

 

 

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