Logo O POVO+
Fotografia urbana: mulheres se unem em torno do desejo e das memórias
Reportagem Especial

Fotografia urbana: mulheres se unem em torno do desejo e das memórias

A curadora Maíra Gamarra conta como o coletivo Sol para Mulheres revelou, por meio da fotografia, diferentes perspectivas de Fortaleza, através das lentes, desejos, memórias e símbolos

Fotografia urbana: mulheres se unem em torno do desejo e das memórias

A curadora Maíra Gamarra conta como o coletivo Sol para Mulheres revelou, por meio da fotografia, diferentes perspectivas de Fortaleza, através das lentes, desejos, memórias e símbolos
Tipo Notícia Por

 

"Acredito na fotografia, na arte e na curadoria de forma ativa e política, que dialoga coletivamente e respeita os diferentes”. A afirmação é da curadora e fotógrafa, Maíra Gamarra, em entrevista ao OP+. Na conversa, ela reflete o cargo de curadoria, a criação de uma exposição e a importância de se deixar afetar pelas imagens. O projeto que integra como organizadora e curadora, ‘Fortalezas’, da qual fazem parte 30 mulheres diferentes, apresenta a capital cearense vista pelas lentes dessas personagens que revelam as belezas e feiuras da cidade.

Mulheres e suas câmeras captam uma Fortaleza desconhecida pelos símbolos, memórias e desejos, como debate o seminário on-line, disponível no YouTube, que faz parte do projeto. ‘Fortalezas’ é um trabalho coletivo entre a pesquisadora Maíra Gamarra e o grupo Sol para Mulheres O grupo, que existe desde 2019, propõe dar visibilidade as produções de fotógrafas e artistas visuais do Ceará
, idealizado por Patrícia Veloso, diretora da Imagem Brasil Galeria Espaço voltado para a exposição e produção de arte e cultura no Ceará.
. Por meio de cadernos apresentados em vídeo, essas mulheres capturam a cidade em suas multifaces e a revelam.

Maíra Gamarra, afirma que o grupo Sol para Mulheres é formado por mulheres de diferentes eixos, experiências e aproximações com a fotografia. “Pensar a cidade a partir da emoção”, é como Maíra Gamarra provoca as fotógrafas para capturarem e apreenderem a cidade. Devido à diversidade de personalidades, a proposta é que o projeto afete e atenda a maior quantidade de eixos programáticos tanto marginalizados quanto centrais.

 

Maíra Gamarra é fotógrafa, curadora, editora, produtora cultural e pesquisadora(Foto: Pedro Euzebio)
Foto: Pedro Euzebio Maíra Gamarra é fotógrafa, curadora, editora, produtora cultural e pesquisadora

A curadora ainda comenta como a coletividade foi essencial para revelar aquilo que estava no interior de cada uma das fotógrafas. “A fotografia é uma ferramenta”, explica. Além disso, Maíra fala sobre seus estudos e como o pensamento contra colonizador influencia a sua arte e maneira de entender e apresentar o mundo.

As imagens do projeto farão parte de cadernos artesanais com textos, intervenções e serão expostos em vídeo, cuja a finalização e lançamento está previsto para maio de 2024. Confira a seguir a entrevista:

 

 

OPOVO+ - O projeto ‘Fortalezas’ conta com diversas técnicas fotográficas, sobreposição, é uma delas, as quais buscam captar os mais diversos símbolos, memórias e camadas que a capital cearense apresenta. Mas, além disso, o que o projeto planeja revelar?

Maíra - Ele começa com essa ideia de uma reflexão sobre a cidade. Parte da proposta de pensar o espaço urbano e a relação de cada uma dessas mulheres com esse espaço, que ao longo do processo a gente vai entendendo que esse espaço urbano é permeado por uma série de questões que são muito simbólicas e abstratas. O projeto revela a experiência de vida dessas mulheres atravessada pela experiência da cidade.

É um projeto que convida essas mulheres a se conhecerem e se experimentarem através da fotografia, através do olhar para fotografia. A gente não só olha, a gente não lida com a imagem só a partir do olhar. O grupo (Sol para Mulheres) é formado por mulheres de eixos, diferentes experiências, diferentes aproximações com a fotografia. Tem fotógrafas que já tiveram exposição e uma bagagem na fotografia, outras fazem os registros pelo celular. Esse olhar múltiplo permite pensar essa cidade, pensar as belezas e as feiuras dessa cidade. As imagens reverberam.

OPOVO+ - Agora em fevereiro aconteceram os seminários on-line, que fazem parte do projeto, debatendo a cidade e seus símbolos, a cidade e suas memórias e a cidade e seus desejos, mas o lançamento efetivo está previsto para maio. Como será feita a elaboração da exposição?

 Maíra é também criadora e curadora do Mira Latina, laboratório de acompanhamento de projetos onde desenvolve mentorias, pesquisas e intercâmbios com fotógrafas e fotógrafos da América Latina.(Foto: Agencia Pavio - Helia Scheppa)
Foto: Agencia Pavio - Helia Scheppa Maíra é também criadora e curadora do Mira Latina, laboratório de acompanhamento de projetos onde desenvolve mentorias, pesquisas e intercâmbios com fotógrafas e fotógrafos da América Latina.

Maíra - Será exposto em vídeo. São três cadernos que — a partir dessa dessas três propostas de pensar a cidade pelas memórias, símbolos e desejos — vão ser filmados quando estiverem prontos. Temos em mente que eles sejam quase como cadernos experimentais, talvez ainda tenham mais algumas ações a partir das imagens no momento em que a gente for materializar. Está em processo.

Durante todo o projeto, tivemos reuniões mais ou menos mensais e todo o processo de edição e escolhas das imagens foi feito individualmente. No primeiro momento, a gente conversou sobre a temática, no segundo momento, elas já trouxeram algumas ideias do que elas estavam pensando em fotografar e produzir, tudo isso sempre muito colaborativo. Essa é curadoria na qual acredito, porque é isso durante muito tempo.

OPOVO+ - Com a série de mudança nos últimos anos, ser curadora se ampliou para além do campo artístico e se tornou político. Como você exerce a sua curadoria?

Maíra - Acredito na arte, na fotografia e na curadoria como ferramentas políticas. Entendendo que o político pode ser afetivo, amoroso, o poder sonhar… Tudo isso é político. A gente vive em uma sociedade, num sistema que tudo passa por poderes colonialistas, capitalistas, machistas e racistas. Acredito na fotografia, na arte e na curadoria de forma ativa e política, que dialogada coletivamente e respeita os diferentes.

 

abrir

OPOVO+ - Enquanto criadora e diretora do Mira Latina Lab.e da Residência Mira Latina, laboratório dedicado a fotografia latino-americana que discute a imagem desde um viés crítico, político e contra colonizador. Como você reflete sobre a formação de outros curadores no país, quais são as suas inspirações?

Maíra - Algumas pessoas têm me inspirado em termos de pensar. Acho que quem efetivamente mais me estimulou a pensar contra colonialmente, a pensar em que lugar quero ocupar, não foram necessariamente os curadores, mas os próprios artistas. Artistas em todos os sentidos, escritores, pintores e músicos.

Então, são todas essas pessoas que me ajudam a me formar, por isso, também, é sempre muito difícil, conseguir nomear alguém. Aprendo das duas formas, vendo a obra e não tendo contato com aquela artista, como aprendo vendo a obra e tendo contato com artista. Às vezes ficando ainda mais apaixonado e outras vezes me desiludindo um pouco também.

OPOVO+ - No seu texto ‘permitir-se afetar’, você constrói um pensamento relativo à fotografia como aquilo que afeta, seja diante da dor do outro ou da alegria. Além das características afetivas, qual foi a provocação para desenvolver o projeto ‘Fortalezas’?

Maíra - Minha provocação era delas se conectarem com elas mesmas, que elas se permitam sentir os seus próprios afetos, olhar para elas mesmas para poder olharem para a cidade, porque a fotografia é uma ferramenta. Essa ferramenta que me permite fotografar outras pessoas, esses outros corpos estranhos. Hoje, acredito muito mais na fotografia como essa ponte entre o nosso interior e o nosso e o exterior.

Não acho que conseguimos fazer imagens que, efetivamente, reverberam, que provocam, que tocam outras pessoas, se não conseguimos falar daquilo que, de fato, nos toca, daquilo que remexe. Gosto de usar a expressão, “daquilo que vibra na gente”. Dito isso, a minha provocação era que as mulheres pudessem olhar para dentro e entender, dentro delas, com que parte de Fortaleza elas queriam falar. Ela (fotografa) se convida a olhar para si e entender de onde vem essa vontade. Acho que a minha provocação era que elas olhassem para dentro, a fim de se conectar com Fortaleza e com essas fortalezas. 

 

 

Assista ao trailer da exposição

 

 
O que você achou desse conteúdo?