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Fazendo das galerias um roteiro para conhecer arte em Fortaleza
Reportagem Especial

Fazendo das galerias um roteiro para conhecer arte em Fortaleza

Em Fortaleza, diversas galerias pintam o mercado da arte da cidade, O POVO+ visitou quatro delas e mostra quais os diferenciais de cada uma

Fazendo das galerias um roteiro para conhecer arte em Fortaleza

Em Fortaleza, diversas galerias pintam o mercado da arte da cidade, O POVO+ visitou quatro delas e mostra quais os diferenciais de cada uma
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Com exposições e curadoria, o espaço da galeria pode se confundir com o do museu. Em tradição alemã, esses dois nomes compartilham o mesmo significado. Já no Brasil, as galerias são conhecidas por comercializar obras de arte e em Fortaleza, encontram-se elas com diferentes nichos como, experimental, popular, contemporânea e moderna, e contam, de certa forma, a história dos seus curadores. A galeria de arte é uma ligação direta entre o artista e o público.

“Esse nome galeria, às vezes, até me preocupa, porque as pessoas têm uma ideia de uma coisa muito cara e não entram. O pessoal acha que não tem condições de comprar nada”, demarca Márcio Gurguel, proprietário da Expedições Galeria. O curador supõe que o termo ‘galeria’ assusta os clientes e afirma que já pensa em mudar o nome do espaço para loja de arte.

Segundo Victor Perlingero, representante da Galeria Multiarte, o mercado fortalezense é ainda novo do ponto de vista do nacional. O administrador comenta, ainda, que há poucas galerias na cidade. Ele lembra que na infância, Max Perlingero, o fundador da Multiarte, lamentou o fechamento de outro espaço. “Estamos sozinhos, ele disse, e isso não era uma coisa boa. As galerias precisam uma das outras”, conta Victor.

 

Galeria Multiarte, nasceu em novembro de 1987, oferecendo para Fortaleza exposições gratuitas de artistas(Foto: Sérvulo Esmeraldo)
Foto: Sérvulo Esmeraldo Galeria Multiarte, nasceu em novembro de 1987, oferecendo para Fortaleza exposições gratuitas de artistas

O galerista explica que com diversos locais de venda e compra de arte, o mercado se move e se mantém. Segundo ele, os compradores se sentem tranquilos para manter, trocar e adquirir mais obras de arte. Uma característica importante entre esses espaços é o colecionismo — que aumenta com a maior quantidade de galerias.

“O mercado quanto maior, mais pessoas entram em contato com esse circuito. Quando as pessoas entram na tendência, elas saem pulverizando as suas compras. Então, quando um concorrente meu consegue trazer uma pessoa para o colecionismo é ótimo”, comenta Leonardo Leal, empresário da galeria que leva seu nome.

Juntamente ao colecionismo, o termo ‘Formação de Plateia’ permeia o ideário desses espaços. Cursos, exposições abertas todos os dias da semana, vídeos no Instagram… São algumas estratégias para se ter uma plateia que consuma suas produções, participe ativamente das atividades e, eventualmente, adquira uma obra.

Dentre as paredes claras e acinzentadas com luzes focais, um mercado movimenta parte da economia. O POVO+ reuniu quatro galerias de arte em Fortaleza para contar como elas se diferenciam entre si e construir um roteiro por elas.

 

 

Pano de Roda

Em uma casa coberta com plantas e uma entrada que parece casa de vó, a galeria e ateliê Pano de Roda se apresenta. “Não tem nada a ver com as galerias que geralmente vamos”, afirma Kelviane Lima, responsável pelo espaço juntamente a Jacqueline Medeiros. Para elas, o foco do espaço é o experimental.

Fachada da Galeria e Atelie Pano de Roda(Foto: Acervo pessoal)
Foto: Acervo pessoal Fachada da Galeria e Atelie Pano de Roda

Idealizada em 2016, a galeria apresenta diversos espaços, nos quais um deles se destaca, o ateliê, onde — por meio de editais — o artista pode trabalhar, testar e usar novos matérias e técnicas. “A gente ganhou um edital e, então, são selecionados três artistas. Porque muitos deles não tem ateliê ou espaço dentro de casa. Assim, eles vêm para cá realizar seus trabalhos”, narra montadora e produtora de arte Kelviane Lima.

“A gente faz uma seleção de artistas que não tiveram uma exposição individual, em Fortaleza. São artistas que estão começando”, explica curadora e crítica Jacqueline Medeiros. O espaço se reinventa, após o período de produção e experimentação, os artistas podem expor suas obras nas paredes do Pano de Roda.

“É experimental, porque é um espaço de liberdade”, afirma a curadora. Ela comenta, ainda, que existe a cultura de que os artistas precisam passar por um amadurecimento formal para chegar em grandes galerias e, só assim, estarem prontos para entrar no mercado. No entanto, sem espaço para experimentar nesse processo, o que acaba por, possivelmente, frustrar os artistas ao não verem suas obras como eles idealizaram.

"No papel tudo cabe, no computador tudo funciona", conta Jaqueline, que continua e fala sobre a importância de testar até obter o desejado. Dentre os artistas já expostos estão Eduardo Frota, Célio Celestino, Lana Benigno, Anderson Morais e Camila Albuquerque. 

A galeria ajuda o artista a se preparar para amadurecer e entrar em outros seguimentos. Além disso, as galeristas relembram que o artista que já tem suas exposições pode participar do ateliê com novos materiais, técnicas e, claro, novos experimentos.

 

 

Expedição Galeria

Na esquina da rua Osvaldo Cruz de número 1346 se encontra a Expedição Galeria que vende arte popular. “Popular no sentido de uma ‘arte naif’. Essa palavra vem do francês, significa uma arte primitiva, uma arte de artesãos”, é o que explica Márcio Gurgel, galerista e curador da Expedição. Neste espaço, obras da cultura popular brasileira são expostas.

Expedição Galeria é a casa que veio para abrigar o resultado desse sonho, a riqueza dos nossos artistas e a beleza de suas obras. Na foto, Maristela Gurguel, proprietária do espaço(Foto: Acervo Pessoal)
Foto: Acervo Pessoal Expedição Galeria é a casa que veio para abrigar o resultado desse sonho, a riqueza dos nossos artistas e a beleza de suas obras. Na foto, Maristela Gurguel, proprietária do espaço

O nome que leva o empreendimento, surgiu desse explorador de livros e, depois, de interiores nordestinos na buscar por arte. Márcio conta que esse movimento de investigação e descoberta é a procura por identidade. O galerista percorre mais de cinco estados do nordeste e brinca que faz uma refeição em cada capital, Fortaleza, Natal, João Pessoa, Recife e Maceió. 

Expedição Galeria é a casa que veio para abrigar o resultado desse sonho, a riqueza dos nossos artistas e a beleza de suas obras(Foto: Acervo Pessoal)
Foto: Acervo Pessoal Expedição Galeria é a casa que veio para abrigar o resultado desse sonho, a riqueza dos nossos artistas e a beleza de suas obras

“O meu ideal sempre foi estar próximo ao artista, conviver com o artista em seu habitat”, destaca Márcio Gurgel. No espaço, pelas obras, a história desses artistas é contada de várias formas e conversam simbolicamente com o cliente que as consome.

O galerista conta que os artistas expostos na Galeria vieram dos mais diferentes lugares. Da labuta canavial a longas jornadas de trabalho, conseguem hoje, graças a arte, ter uma vida justa e digna.

Para o proprietário, as obras “têm a história de quem a fez, tem um pouco da pessoa e isso vai para os clientes. É isso que as motiva comprar, essa história”.

No entanto, Márcio comenta sobre sua preocupação com a obtenção da arte por parte da população.  “Primeiro a pessoa precisa comer, dormir, precisa de energia, pôr os filhos no colégio e tudo e, só depois, você vê se consegue arte”, considera. Na galeria quem expõe são os artistas, Célio Sousa, Alice Mascarenhas, Patrícia Barros, VEIO, Cornélio, Juão de fibra, Sil de capela e João das Alagoas.

Ele ainda comenta que ao ter a oportunidade de comprar uma peça decorativa, as de caráter popular/naif não são escolhidas.

 

 

Galeria Leonardo Leal

Com obras de primeiro setor, o espaço do galerista Leonardo Leal foca em ser um espaço possível para novos artistas e valorizar as produções locais. “Temos a política de sempre receber os portfólios e fazemos um filtro, que não é necessariamente o trabalho ser bom ou ruim, mas dialogar com o que já temos”, explica Leonardo.

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“A minha transação é do ateliê do artista para o mercado”, afirma. Ainda em Fortaleza, o proprietário fala que esse setor tende a crescer, mas que, por isso, há a necessidade de focar nele. Esse elo entre galeria e público se apresenta diretamente. Leonardo conta que visita ateliês, recebe artistas e acaba por montar o seu espaço.

”Esse mercado ele acaba se complementando, é impossível uma galeria conseguir representar todos os artistas que as pessoas precisam para conseguir montar uma coleção substancial”, expõe. O galerista comenta sobre a necessidade de compartilhar clientes com outras galerias, assim, o mercado se transforma e aumenta as vendas.

Dentre alguns dos artistas que compõem a galeria estão, Arrudas, Beatrice Arraes, Diego de Santos, Gustavo Diogenes, Cadeh Juaçaba.

O proprietário comenta que a galeria tem que ser democrática. “É um prazer abrir a galeria. Esse movimento acaba fazendo com que haja uma divulgação mesmo boca a boca. Muita gente que chega como público vem indicado de outros clientes”, narra o empresário. Para ele, todos devem poder entrar e explorar as obras.

 

 

Galeria Multiarte

Com 35 anos, a Multiarte é uma das galerias mais antiga de Fortaleza, com seu espaço próximo à Praça das Flores na Aldeota, ela é conhecida pelo seu olhar global para o mercado. Com sedes em Fortaleza, Rio de Janeiro e São Paulo, a empresa tem uma cobertura geográfica, conta Victor Perlingero, administrador, responsável pelo relacionamento comercial e projetos especiais do espaço.

Inicialmente, “em Fortaleza, tínhamos poucos espaços em atividades, essas Galerias tinham uma forma mais focada, representavam os artistas locais. A Multiarte tem um olhar mais global para esse mercado”, comenta o galerista.

O espaço é conhecido também pelos cursos que oferecem. Segundo Victor, esses projetos são os responsáveis pelo dinamismo na Galeria. “Grupos de estudo, cursos, palestras com foco em arte e processos criativos são nossas formas de obter uma formação de plateia”, escreve página oficial da Galeria.

O espaço oferece exposições gratuitas de artistas como Antônio Bandeira, Antonio Dias, Di Cavalcanti, Cícero Dias, Iberê Camargo, Raimundo Cela, Rubens Gerchmann e Cândido Portinari.

O galerista conta que o colecionador é o principal personagem para a manutenção do seu espaço. “Um pouco do perfil de que a galeria busca, em nossas exposições, é a do colecionador”, explica Victor. Para ele, o colecionador começa a participar mais ativamente das atividades da galeria e acaba por adquirir aquelas obras que imaginou e não imaginou ter.

 


 

 

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