Há pouco mais de dez meses, o grupo empresarial bielorrusso Blockchain Sports, que tem como CEO Saksonau Dzmitry — dono de um império no ramo de tecnologia —, chegou ao interior cearense para se introduzir em um novo mercado: o futebolístico.
Por meio do Acopiara Football Academy, uma base é formada com foco em revelar novos talentos e fomentar o desenvolvimento econômico e social na cidade. O projeto já angaria jovens de todo o Brasil por meio de um reality show próprio, chamado "O Grande Jogo", que conta com participação de nomes relevantes do futebol nacional, como os campeões mundiais Dunga, Bebeto e Lúcio. Os ex-atletas atuam como instrutores e também servem de referência para a garotada.
O ponta-esquerda Cleberson Vinícius é um deles. Aos 16 anos, ele deixou o conforto da casa dos pais na região metropolitana de Salvador (BA) para buscar uma oportunidade na Blockchain Sports. Apesar da distância de casa, ou mesmo de uma metrópole mais movimentada, o jovem enxerga em Acopiara a chance de despontar na carreira que almeja.
"Eu era da Bahia, da região metropolitana de Salvador, e o Lima e o Matos nos recrutaram após uma avaliação e tive o conhecimento de vir para cá. Não conhecia o projeto ou a grandeza, mas a estrutura, a seriedade e o empenho deles foi o que me trouxe até aqui. A forma como eles nos tratam nos dá impulso a mais", reforçou.
O tratamento é um dos grandes trunfos da Acopiara Academy. Se por muitos anos o caminho natural de um jovem que busca oportunidades no esporte bretão era partir para os principais polos, como São Paulo ou Rio de Janeiro, hoje o Centro-Sul do Ceará é uma possibilidade exatamente pela estrutura dada pelo projeto.
Para além dos bons gramados e da paisagem exuberante, os alojamentos com ar-condicionado, cinco refeições por dia e até mesmo a obrigatoriedade escolar são os fatores citados por outros jovens, como Antônio Robert, de Mombaça, como diferenciais. O projeto disponibiliza ônibus para levar os aspirantes a atletas para a escola na cidade.
"Os profissionais que trabalham aqui nos ajudam muito a buscar evolução e também toda a nossa rotina é voltada a isso. Já fui aprovado há dois meses, depois de uma peneira, e vejo o projeto como primordial para a minha formação como jogador e também como pessoa", frisou.
Dentro de campo, a possibilidade de aprendizado é "com os melhores professores possíveis", como citou o captador e presidente do clube, Lima de Moura.
"Eu estava até comentando com eles que eu não tive uma oportunidade dessa de participar de algo como eles estão participando e a gente só tem que agradecer a Deus. Sempre acreditei no trabalho social, faço muitos anos nisso, ajudando o próximo, dando oportunidade a esses meninos e está sendo muito engrandecedor participar disso junto com meus irmãos que o futebol me deu", exaltou o ex-atacante Bebeto, tetracampeão com a seleção brasileira em 1994, ao O POVO.
O crescimento do centro de treinamentos — e um futuro estádio — vai tomando forma no alto da região. A edificação do projeto tem engradecido não somente a estrutura física da cidade, mas também a economia local, com oportunidades de emprego.
A jovem Maria do Socorro Pereira é uma das pessoas que viram na Blockhain Sports um espaço para se empregar.
"Acredito que a população de Acopiara está sendo beneficiada por conta dos empregos. Quem chega pedindo emprego, tem, seja em cozinha, construção, vigilância... E antes ou você trabalhava com agricultura, comércio ou em cargo público. E depois que a Blockchain chegou deu uma maior movimentada na cidade também", frisou.
A sede do Acopiara Football Academy fica a cerca de 15 minutos da região central da cidade, de carro. A escolha por um local mais isolado permite uma área maior para construção: já há dois campos sintéticos prontos e outros espaços para treinos serão construídos, inclusive com grama natural.
A escolha da Blockchain Sports pelo projeto em Acopiara pode parecer aleatória, mas não foi ao acaso que os bielorrussos apostaram na terra do lavrador como principal sede do programa. Ex-jogador e atualmente captador de atletas e presidente do clube, Lima de Moura explicou ao O POVO que, inicialmente, a empresa tinha foco em se fixar no continente africano.
Por um esforço em entender a importância do projeto para o município, ele conseguiu convencer o bielorrusso Dmitriy Saksonov que o alto do semiárido cearense poderia ser terra fértil para novos talentos do esporte.
"Esse projeto poderia ter ido para a África, mas eu trabalhei rápido para convencê-los a mudar para cá. Como tinha uma relação de confiança muito grande, acabei atraindo eles e, hoje, há confiança em nosso trabalho, é uma realidade que está dando certo. Começou em Acopiara, mas já expandiu para Sobral, Rio de Janeiro e já está ganhando o mundo", falou Lima, que também se emocionou.
"Fiquei muito feliz em trazer para a minha terra natal, de onde eu saí. Eu queria muito trazer para cá. Nem precisava ser um projeto tão grande, mas quando Deus abençoa, a gente agradece e agora é tocar o projeto para dar resultados para todos", finalizou.
A ideia é que o clube se filie à Federação Cearense de Futebol (FCF) para disputar competições de base e, posteriormente, monte uma equipe profissional. O projeto também prevê a construção de um estádio com capacidade para 10 mil pessoas.
*A repórter viajou a convite da Blockchain Sports