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Sul do Chile: um paraíso turístico à procura de brasileiros
Reportagem Especial

Sul do Chile: um paraíso turístico à procura de brasileiros

|Turismo| Com vulcões, bons restaurantes e muita chuva, cidades chilenas investem no "turismo com propósito" para atrair visitantes e movimentar diferentes setores da economia

Sul do Chile: um paraíso turístico à procura de brasileiros

|Turismo| Com vulcões, bons restaurantes e muita chuva, cidades chilenas investem no "turismo com propósito" para atrair visitantes e movimentar diferentes setores da economia
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"Se você pensa que cachaça é água, cachaça não é água não", cantarola o guia turístico chileno Fernando Guerrero. Animado, ele gasta seu português com sotaque quase carioca, encaixando palavras como "beleza" e "gente" sempre que pode. Descendo o lago Todos los Santos, o profissional com 24 anos de experiência não disfarça a satisfação de ter passageiros brasileiros a bordo do barco.

Entre lendas curiosas sobre ilhas e informações técnicas sobre vulcões, o guia reclama: "Antigamente vocês vinham mais".

A constatação de Fernando está refletida nos números do Serviço Nacional de Turismo do Chile (Sernatur), que evidenciam que a presença brasileira ainda não recuperou os índices pré-pandêmicos.

Em 2023, o país andino recebeu 485.933 brasileiros. Em 2019, o número foi de 542.049.

Há, entretanto, uma progressão desde 2022 de retorno dos viajantes e, na busca por consolidar essa presença, a Federação de Empresas de Turismo de Chile (Fedetur) tem reforçado o trabalho de divulgação de algumas regiões - incluindo o Sul do País, a chamada Região dos Lagos.

A maior cidade dessa região é Puerto Montt (a 1032 km de Santiago), cujo aeroporto está ainda mais próximo dos brasileiros.

Já que o País agora tem mais opções de voo para o Chile com a inauguração de uma nova rota da companhia Latam entre Brasília e Santiago. Da capital cercada por montanhas, muitas são as opções de conexão Chile afora.

"Nossa estimativa é transportar 20 mil passageiros ao ano na rota entre Brasília e Santiago. Conectando de forma mais ágil os brasileiros que embarcam de cidades do Norte e Nordeste, a exemplo de Fortaleza", afirma Eduardo Macedo, gerente de Assuntos Públicos da Latam Brasil. Entre as conexões promovidas pela empresa está justamente a rota até a patagônia chilena.

Atrativos turísticos

Para o operador de turismo Diego Barria, o principal apelo que o Sul do Chile tem para os brasileiros é a possibilidade de encontrar atrativos naturais muito diferentes do país tropical.

Com cinco anos de experiência no mercado, o jovem trabalha na exuberante ilha de Peulla, onde vivem apenas 45 habitantes.

"É um povoado pequeno, mas temos em comum o apreço pela natureza. Viver em meio às cordilheiras, às vezes não é fácil, porque há muita chuva e neve, mas também é lindo por ser uma experiência única", conta ele, que realiza passeio de safári de observação pela ilha, permitindo que o turista visite fazendas e veja javalis e condores em ambiente natural.

No meio da excursão, inclusive, há trecho no Rio Negro realizado em catamarã. Nesse momento do trajeto, Diego pede aos turistas um momento de silêncio e contemplação - proporcionando uma imersão nos sons da natureza. Ele defende que o turismo não precisa ser "apressado e predatório".

Relaxamento também é o que norteia a proposta turística da Termas del Sol, um complexo com piscinas que chegam a 45°C.

"Tem tido uma boa aceitação dos turistas brasileiros, que querem um dia de relaxamento com um entorno natural para depurar corpo, mente, alma e espírito", pontua Tómas Funtealba, responsável pelo marketing e vendas do local.

O objetivo, Tómas conta, é criar uma cadeia de atividades turísticas que se conectem no Sul do Chile. Uma estação de esqui pode levar o viajante a visitar um centro de águas termais, que encaminha a um restaurante de insumos típicos da região e assim sucessivamente.

Até a chuva, tão presente na rotina dos sulistas chilenos, pode ser um atrativo. Com média de 220 dias chuvosos por ano, a cidade de Puerto Varas criou, inclusive, um Festival da Chuva, com fim de semana de atrações artísticas.

"É um carnaval da chuva, todo mundo participa e nada melhor do que olhar ao redor e ter essa floresta sempre verde", defende o guia turístico Eduardo Funtealba, que desde 2005 faz passeios pela cidade.

Uma das atividades que indica como imprescindível é um passeio pelo centro do município para conhecer os casarões históricos da região.

Com 60 mil habitantes, a cidade tem ambiência que lembra Gramado (RS).

Para o público brasileiro, uma orientação: "Venham, mas pesquise antes para se preparar para o frio e para a chuva, não dá pra chegar com... bermudas", conta, aos risos.

Segundo Eduardo, o destino surpreenderá os brasileiros pela organização turística. "Temos associações sérias de guias, parcerias com o restaurante e hotéis. Tudo pronto para receber".

Iniciativa 100k: valorização do local

Em busca de uma rota gastronômica construída em rede de maneira sustentável, estabelecimentos no entorno do Lago Llanquihue, no Sul do Chile, se organizam em torno da "Iniciativa 100k". A lógica é a seguinte: os estabelecimentos gastronômicos devem obter suas matérias-primas de produtores locais num raio de 100 quilômetros de onde estão localizados.

O objetivo é reduzir a emissão de carbono, dar fluxo ao encadeamento produtivo de municípios como Frutillar e Puerto Varas, além de promover a tradição culinária. A ação é disseminada pelo Serviço Nacional de Turismo do Chile (Sernatur). "Cada vez que criamos um prato, nós fazemos um compromisso com os produtores locais", afirma a chef Gladys Arias Flores, que elabora pratos para o El Club Aleman de Frutillar. "Nossa especialidade é a comida chileno-germânica. Cada produto usado é daqui. Nós temos a nossa própria padaria que produz também para as comunidades locais. O chucrute, os embutidos, toda a produção é daqui, local".

Para a chef, o turista atribui ainda mais valor ao local visitado quando entende o propósito por trás das escolhas do destino turístico. "É bonito viver a experiência do local e não só vir aqui tirar uma foto", pontua. Gerente do Hotel AWA, Claudia Quiroz ressalta que essa busca por produtores próximos aos negócios locais também se aplica às artes. O empreendimento localizado em Puerto Varas dá protagonismo aos artistas chilenos na decoração dos quartos e dos espaços comuns. "Com produtos de artesãos locais, ajudamos o entorno, a comunidade e os visitantes também ganham ao conhecer novos artistas", destaca Claudia.

Rota para Chile é ampliada

Com voo direto entre Brasília e Santiago iniciado no dia 1º de junho, a companhia aérea Latam abriu outras portas para a chegada na capital chilena e suas conexões. O primeiro voo, que contou com a presença do O POVO, partiu com 97% de ocupação e vem mantendo, ao longo das últimas duas semanas, o bom fluxo de passageiros.

Tanto que a rota já será ampliada. Atualmente vem sendo operada sempre às terça-feiras, quinta-feiras e sábados, a bordo de aeronaves Airbus A320 (174 passageiros) e A321 (220 passageiros). A Latam acaba de anunciar, porém, que a frequência aumentará em julho com voos diários. Em agosto, terá cinco voos por semana (terça, quinta, sexta, sábado e domingo).

"Além de Santiago, os passageiros que partem de Brasília podem chegar com mais facilidade a Oklan, Sidney e Melbourne, além de outros destinos do próprio Chile, como Ilha de Páscoa e Puerto Montt. Isso facilita o turismo dos brasileiros nos países vizinhos e do outro lado do mundo também", completa Eduardo Macedo, gerente de Assuntos Públicos da Latam Brasil.

O POVO realizou pesquisa de voo Latam Fortaleza-Chile nos meses de julho e agosto. Com parada em Brasília, tem passagem por R$ 2.310 (ida e volta) entre os dias 24/7 e 31/7. De 14 a 21 de agosto fica por R$ 1.847 (ida e volta).Já de 23 a 30 de agosto R$ 1.816 (ida e volta).

Dica para viajantes

O Chile não é um destino no qual nossa moeda tem seu poder de compra "ampliado" - a exemplo da Argentina. Pois R$ 100 equivalem a 17.800 pesos chilenos, em média. Um bom parâmetro para entender o poder de compra é que um almoço em restaurante popular custa a média de 10.000 pesos (cerca de R$ 58).

Uma boa dica é levar cartões como o Wise, que facilitam formas de converter as moedas por um aplicativo simples e intuitivo - em supermercados e comércios mais populares, porém, esses cartões nem sempre são aceitos. Importante sempre se informar antes de consumir. Outra boa opção é levar dólares, pois muitos estabelecimentos da rota turística aceitam a moeda norte-americana.

Importante carregar uma quantidade em espécie do peso chileno para compras com comércios locais menos turísticos. Não tão presente nas casas de câmbio fortalezenses, a moeda do país andino pode ser trocada na Capital na Star Cambio & Turismo, localizada no Avenida Shopping & Office (Avenida Dom Luis, número 300 Loja 236, Piso L2).

E o frio? Apesar do frio, o cenário não é congelante, porém a dica é levar casaco impermeável com capuz. Sempre chove.

Sugestões de hospedagens, restaurantes e agência de turismo

@chiletravel
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*O jornalista viajou ao Chile a convite da Latam Brasil

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