Como cuidar da saúde bucal em todas as fases da vida? A cirurgiã dentista e professora associada do curso de Odontologia da Universidade Federal do Ceará (UFC), Andréa Aguiar, resume que a prevenção e cuidados diários são pilares para garantir uma boa saúde bucal.
A escovação é uma das práticas mais importantes para manter a saúde bucal e deve ser realizada após as refeições pelo menos três vezes ao dia.
O acompanhamento odontológico e os cuidados com a boca devem ser iniciados ainda na primeira infância, que vai desde o nascimento da criança até os seus cinco anos e onze meses de idade, conforme pontua a professora do Departamento de Odontologia da Universidade Federal do Ceará (UFC), Cristiane Fonteles.
“As consultas preventivas servem para prevenir os problemas. O grande problema que a gente tem é que os pais acham que só precisam levar a criança ao dentista quando alguma coisa está errada. Na verdade, é importante as consultas para manter as crianças com saúde”, explica Cristiane.
Para evitar que a criança adquira cárie na infância e na fase adulta, é necessário estar atento à ingestão de alimentos ricos em açúcar. O primeiro passo é reduzir a quantidade de produtos industrializados como suco de caixa, biscoito recheado, doces e massas de mingau.
A cárie está entre as principais doenças bucais, condição que afeta os dentes, gengivas, língua e todo o sistema oral, desde aftas e outras lesões bucais até infecções mais graves. Na maioria dos casos, as principais causas são higiene oral inadequada, dieta desbalanceada, tabagismo e fatores genéticos.
Para evitar o desenvolvimento de doenças e manter uma boa saúde bucal, a odontopediatra elenca alguns hábitos que podem ser adotados pela população. Ainda na infância, é necessário que os pais e responsáveis evitem que a criança chupe o dedo ou chupeta até os três anos de idade.
Os adultos, por sua vez, devem estar atentos ao hábito de morder palitos, que pode ocasionar na fratura dos dentes, assim como o ranger dos dentes. Esta condição, por sua vez, é chamada de bruxismo, que pode ser tratado com o uso de placa de mordida.
“Quando você aperta muito você quebra dentes, que muitas vezes não tem restauração. Dá problema nas estruturas de suporte dos dentes por causa da força, a força da mastigação é muito grande”, explica Cristiane.
A identificação desses fatores é feita por meio do acompanhamento de um profissional, por isso, visando ampliar o atendimento odontológico de forma gratuita pelo Sistema Único de Saúde (SUS), o Governo Federal investiu, por meio do Programa Brasil Sorridente, cerca de R$ 154, 8 milhões em 31.549 equipes de saúde bucal em todo o país em maio de 2024.
O quantitativo suplanta os R$ 84,1 milhões repassados em dezembro de 2022, quando 28.253 equipes compunham o efetivo do programa. Os dados podem ser consultados no ComunicaBR, plataforma de transparência ativa do Governo Federal.
Os Centros de Especialidades Odontológicas (Ceos) também contaram com o aumento de investimentos. Em dezembro de 2022, mais de R$ 19 milhões foram transferidos para 1.185 CEOs no Brasil. Em maio deste ano, foram R$ 45,7 milhões investidos em 1.196 centros, um aumento de 136%.
Entre 2023 e 2024, os CEOs da Secretaria de Saúde do Estado do Ceará (Sesa) realizaram 16 mil procedimentos especializados em odontopediatria. Dentre os serviços prestados à população estão a aplicação de selante; aplicação tópica de flúor; selamento provisório de cavidade dentária; radiografia panorâmica; radiografia periapical; radiografia interproximal; restauração de dente permanente em resina composta e amálgama; pulpotomia dentária; tratamento endodôntico, exodontia de dente, gengivectomia e dentre outros.
O atendimento no CEO ocorre por meio de encaminhamento oriundo das unidades básicas de saúde municipais.
Para evitar o desenvolvimento de doenças bucais é necessário realizar consultas com um dentista a cada seis meses. A visita ao consultório pode variar de acordo com as especificidades de cada paciente.
A frequência com que a criança deve ir ao dentista pode variar dependendo do risco que ela tem de adquirir cárie, doenças na gengiva, problemas de erupção dentária e outras situações. No entanto, é orientado que a criança visite o consultório a cada seis meses, em alguns casos, porém, o retorno pode ocorrer a cada quatro meses.
Luiz Guilherme, de 8 anos de idade, faz acompanhamento com dentista há cerca de um ano. De acordo com Nágela Jéssica, mãe de Luiz, a iniciativa de levá-lo ao consultório se deu após notar que o menino estava com cárie no dente.
“Eu e a avó dele controlamos muito a higiene bucal, mas no ano passado ele iniciou o tratamento com um dentista porque começou a aparecer algumas cáries no dentinho. Eu procurei logo um acompanhamento para mais na frente não resultar em alguma coisa pior, o meu filho mais velho já fraturou três dentinhos, então fiquei alerta com os do Luiz”, explica Ângela Jéssica, mãe de Luiz Guilherme.
Dados da Secretaria Municipal de Saúde de Fortaleza (SMS) indicam que, de janeiro a junho deste ano, foram realizados 31.407 atendimentos a crianças com até 12 anos de idade com equipes da Estratégia de Saúde Bucal (ESB) nos postos de saúde da Capital.
De janeiro a dezembro de 2023 foram realizados 60.486 atendimentos a crianças da mesma faixa etária nas unidades de saúde do Município.
Gengiva inchada, salivação excessiva e dificuldades para dormir, são os primeiros sinais que um bebê apresenta quando um dente está nascendo. O processo, normalmente, inicia aos seis meses de vida, podendo variar de criança para criança. Nesse período os pais devem levar o bebê ao odontopediatra para identificar eventuais problemas na arcada dentária, freio lingual para frente (língua presa) ou malformações.
“Nesses casos o odontopediatra precisa intervir mais cedo, muitas vezes ao lado do fonoaudiólogo, que faz o teste da linguinha e manda o odontopediatra vir com um procedimento cirúrgico para liberar a língua, ou para liberar o lábio para a criança poder amamentar e ganhar peso”, complementa a odontopediatra Cristiane Fonteles.
É no acompanhamento odontológico que o profissional verifica o desenvolvimento dentário, monitora quais alimentos estão sendo ingeridos pela criança, analisa os intervalos entre as refeições visto que, o risco da criança adquirir cárie está diretamente relacionado à frequência com que se ingere açúcar ou líquidos adoçados.
O processo do surgimento da cárie nos primeiros cinco anos de vida, quando ainda há presença de dentes de leite, é chamado de cárie na primeira infância ou “cárie de mamadeira”. O título faz referência ao hábito que o bebê tem de dormir enquanto suga o leite materno, no peito da mãe ou na mamadeira.
A cárie de primeira infância pode ser caracterizada pela presença de manchas brancas nos dentes incisivos (na frente da boca), aberturas em cavidades escondidas da boca e quebra do dente de leite.
“A cárie no dente de leite progride rapidamente e se espalha para os outros dentes com uma rapidez muito grande. As mães acham que o dente entrou na boca daquele jeito, com manchas brancas, e de repente ele quebra, então, ela acha que ele quebrou porque o dente é fraco, mas muitas vezes não é”, esclarece Cristiane.
O dente também pode quebrar devido a alguma má formação, contudo, habitualmente a fratura ocorre por causa do agravamento da cárie precoce da infância.
Reduzir a ingestão de alimentos ricos em sacarose (açúcar) é uma das formas de evitar que a criança adquira cárie na infância e na fase adulta. O primeiro passo é diminuir a frequência com que a criança ingere alimentos industrializados como suco de caixa, biscoito recheado e massas de mingau.
Higienizar os dentes e a cavidade oral após amamentar o bebê também é uma medida que deve ser adotada para prevenir que a criança desenvolva cárie. Esse processo deve ser feito a partir do nascimento do primeiro dente de leite.
“O bebê recém-nascido pode dormir no peito porque ainda não tem dentes. Depois que aparece o primeiro dente já não pode mais. Tem que começar a escovar, higienizar a boca duas vezes ao dia depois que amamenta, depois que usa a mamadeira”, prossegue Fonteles.
“Quanto mais cedo essa higienização é estabelecida e essa organização da dieta é colocada, você tem a chance de ter uma criança com saúde nos dentes por um tempo mais prolongado”.
A fisioterapeuta Manuela Bezeli, mãe de Levi, de 3 anos de 11 meses, menciona que os cuidados com a higiene bucal iniciaram ainda quando ele era bebê, com a introdução de uma gaze molhada para limpar os resíduos do leite materno.
Com a chegada dos primeiros dentes, os pais deram início à introdução alimentar de Levi e optaram por utilizar uma dedeira para retirar os resíduos que ficavam na boca.
“Quando os dentinhos apareceram e ele já comia comidinhas, introduzimos a escova de dente e a pasta sem tanto flúor. Com o amadurecimento dele, a gente inventou maneiras para driblar essa resistência por conta da escovação inventando musiquinhas, utilizando músicas que já existem, fazendo fantoches, contando histórias. Às vezes funciona, às vezes não”, menciona Manuela.
Manuela afirma que ensinar a criança sobre a importância de escovar os dentes e retirar os resíduos para evitar que a cárie venha e machuque o dente. “Ele mesmo já fala que tem que escovar os dentinhos, de tanto a gente falar, porque educação da criança é repetição”, acrescenta a fisioterapeuta.
A Pesquisa Nacional de Saúde Bucal, do Ministério da Saúde, mostrou que 53,17% das crianças brasileiras não apresentam cárie no dente. O índice é 14% maior do que o resultado da última apuração, realizada em 2010, quando 46,6% das crianças entrevistadas estavam livres da doença.
Mais de 40 mil pessoas foram entrevistadas e examinadas em 27 capitais e em 403 cidades do interior de todo o país. Destas, 7.198 são crianças com cinco anos de idade.
A apuração do SB Brasil destaca crescimento significativo de crianças de 5 anos livres de cárie nas regiões Sul (aumento de 40,7% entre 2010 e 2023), Sudeste (21,9%), Nordeste (17,1%) e Norte (11,2%), tanto nas capitais como nas cidades do interior, sendo que a região Centro-oeste apresentou pequena diminuição nessa proporção (de 38,8% para 37,9%).
É por meio desse levantamento que os governos federal, estadual, distrital e municipal podem planejar políticas públicas com base nas necessidades reais dos brasileiros.
A adolescência comumente é marcada pelo uso de aparelhos ortodônticos, visto que, é ao longo dessa fase que todos os dentes do ser humano já estão desenvolvidos.
Com a implantação do dispositivo é necessário que a pessoa esteja atenta aos cuidados com a higiene bucal e visitas regulares ao dentista, visto que a movimentação que se faz com aparelhos ortodônticos pode comprometer a saúde das estruturas de suporte dos dentes.
Entre os adultos tornou-se frequente o uso desses aparelhos e, com eles, o desenvolvimento de doenças periodontais, ocasionadas pela inflamação dos tecidos que suportam os dentes. Para evitar o agravamento dessas inflamações, é importante visitar um dentista recorrentemente.
Durante a gravidez a gestante pode desenvolver doenças periodontais mesmo sem ter registrado cárie e inflamações na gengiva anteriormente. A condição está atrelada à fase hormonal que ela se encontra naquele momento.
As doenças periodontais podem ganhar novos desdobramentos na velhice, período marcado pela perda dentária. Muitas vezes os problemas não são ocasionados pela presença de cárie ou má alimentação, mas sim pelo comprometimento da estrutura de suporte dos dentes. Isso ocorre pela falta de limpeza adequada dos dentes.
“Você vai chegando nos 40, 50 anos de idade, mulheres e homens, e nota que não aguenta mais beber líquidos gelados porque os dentes doem. Isso não necessariamente significa que você tem uma cárie, às vezes pode ser porque você tem exposição de raiz”, comenta a odontopediatra Cristiane Fonteles.
A especialista comenta que as doenças periodontais são responsáveis por gerar a perda de dente no idoso, comprometimento dentário, necessidade de próteses, implantes e tratamento de canal.
Como realizar uma escovação eficiente
Responsável por vitimar fatalmente 6.192 pessoas em 2020, conforme o Instituto Nacional de Câncer (Inca), o câncer de boca consiste em um tumor maligno que afeta os lábios e estruturas da boca, como gengivas, bochechas, céu da boca (palato), língua (geralmente as bordas) e a região embaixo da língua (assoalho da boca).
De acordo com o Inca, o câncer de boca é o quinto mais frequente em homens no Brasil e, na maioria dos casos, é identificado em estágio avançado.
“As pessoas que sobrevivem após uma ressecção de um tumor de boca apresentam sequelas bem severas do tratamento que às vezes limitam ou comprometem as atividades profissionais, assim como as atividades sociais e familiares”, pontua a cirurgiã dentista Andréa Aguiar.
O tabaco e o álcool são os principais precursores do câncer de boca. Outros fatores como dieta pobre em frutas e vegetais, infecção pelo vírus HPV e a exposição dos lábios ao sol sem proteção também aumentam o risco de câncer de boca.
Os principais sintomas provocados por um eventual câncer de boca são:
Para diminuir os riscos do desenvolvimento do câncer bucal é fundamental que os hábitos de tabagismo e etilismo sejam eliminados. O uso de preservativo durante a prática de sexo oral, os cuidados com a escovação, a verificação de fratura no dente ou próteses e alimentação rica em frutas e verduras, são outros cuidados que devem ser adotados para evitar o aparecimento do câncer de boca.