O ano de 2025 trouxe um novo governo municipal e uma reformulação nos quadros do executivo estadual. Novas indicações ou reconduções foram feitas e as 31 pastas do Governo do Ceará e as 22 de Fortaleza ganharam caras novas - ainda que algumas reconduções tenham sido feitas.
O perfil de ambos secretariados é diverso, porém velhas configurações seguem mantidas. Mulheres, por exemplo, continuam fora de grande parte das pastas de articulação e economia, atuando, em suma, nas áreas da saúde, educação, cultura e assistência.
A maioria dos gestores segue branca, ainda que haja um número significativo de autodeclarados pardos, pretos e negros.
As indicações de natureza política também são predominantes, com grande influência do acirrado pleito de 2024, que mobilizou um grande número de aliados. Configuração, no entanto, levanta debates sobre o poder do chefe do executivo, em meio à frente ampla.
Abaixo, confira números e análises do O POVO+ sobre os representantes das pastas do executivo do prefeito Evandro Leitão (PT) e do governador Elmano de Freitas (PT). No fim da matéria, você pode conferir um panorama geral dos gestores, com o perfil, currículo e todo o contexto político que justificou a nomeação.
O levantamento do O POVO+ considerou, de ambos os governos, secretarias, Controladoria, Procuradoria, Chefia de Gabinete e Chefia da Casa Civil. No total, foram analisadas 53 pastas, 31 do Governo Elmano e 22 do Governo Evandro. A metodologia completa está no fim da matéria.
As secretarias de Elmano e Evandro são, em sua maioria, masculinas. No Governo do Estado, das 31 pastas, 18 são comandadas por homens. O valor corresponde a uma porcentagem de 58% dos titulares. Mulheres, assim, são 42%.
Elmano, vale lembrar, foi eleito com promessas de paridade, algo que chegou a ser cumprido no início do mandato, pelo menos numericamente. Reportagem do O POVO+, de janeiro de 2023, mostrou que, de fato, das
A mudança que quebrou a paridade ocorreu em duas pastas, ambas de caráter econômico sob responsabilidade de mulheres. A de turismo estava com Yrwana Albuquerque e passou para o deputado federal, Eduardo Bismarck (PDT). Já Planejamento e Gestão era de Sandra Maria e agora está com Alexandre Cialdini.
Ambas as indicações têm um quê de político. Eduardo Bismarck é ligado ao senador Cid Gomes e filho do presidente do Podemos Ceará, Bismarck Maia. Já Cialdini, ainda que técnico, foi secretário da deputada federal Luizianne Lins (PT), na sua gestão à frente de Fortaleza.
Das 31 secretarias, 13 são chefiadas por mulheres
A Prefeitura conta com uma representatividade menor. Mulheres ocupam sete das 23 pastas no Executivo, um total de 30,4% das vagas. É uma mulher a mais do que as anunciadas em 2020, pelo então prefeito eleito, José Sarto.
Juntando as duas configurações, mulheres ocupam 20 das 53 pastas do Executivo estadual e municipal. Porcentagem equivale a 37,7% do secretariado.
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Em ambos os governos, mulheres ocupam secretarias semelhantes. Há uma tendência. Tanto no Estado quanto no Município, pastas como Saúde, Direitos Humanos e Desenvolvimento Social estão com elas.
No Estado, nenhuma mulher está à frente de pastas prioritariamente econômicas ou políticas. Já no município, a Controladoria, o Turismo e o Planejamento, Orçamento e Gestão são de mulheres.
Elas chefiam sete secretarias, de 22
No caso do Governo Elmano, mulheres chegaram a ocupar pastas políticas ou econômicas, no caso, Yrwana Albuquerque e Sandra Maria, conforme citado anteriormente.
Além delas, a Articulação chegou a ser comandada por Augusta Brito (PT), senadora pelo Ceará, que assumiu enquanto o então titular, Waldemir Catanho (PT) estava concorrendo à Prefeitura de Caucaia. Hoje a pasta está com Nelson Martins e Augusta voltou ao Parlamento.
São 13 gestoras. Nota-se que estão à frente de pastas de Saúde, Educação, Assistência e Cultura
A “desvantagem” feminina e a alocação em pastas específicas foi elencada como um reflexo da divisão sexual do trabalho, segundo Paula Vieira, integrante do Laboratório de Estudos sobre Política, Eleições e Mídia (Lepem-UFC). Segundo ela, tarefas voltadas ao “cuidado”, como proteção social e saúde, são comumente atribuídas a mulheres.
Nas indicações do Executivo, explica, outro fator ainda é levado em consideração: o capital político acumulado por aquela pessoa. “Que sejam nomes que estejam ligados, que tenham algum nível de liderança nestas áreas e aumentem a possibilidade de articulação política. Do ponto de vista pragmático, o que vai ser mais estratégico é um nome que tenha uma ‘confiança' dentro daquela área de atuação”, explica.
É uma espécie de paradoxo. Homens estão, historicamente, mais atrelados ao sistema político e, portanto, tendem a acumular mais capital político. Em consequência, mulheres são menos indicadas a cargos maiores, o que mantém a conjuntura imutável.
Outra pesquisadora do Lepem, Monalisa Torres, elenca ainda uma terceira característica, que atribui peso à pouca representatividade nas pastas: o fato de serem dois governos de esquerda. “Sempre levantam discursos de igualdade, de bandeira identitárias. Quando você tem um discurso político sobretudo em campanhas, que vende essa imagem, subentende-se que a montagem do governo também contemple esse mesmo aspecto”, diz ela.
A professora de Teoria Política da Universidade Estadual do Ceará (Uece) reforça a necessidade de rostos diversos não apenas em números - algo que, mesmo assim, segue desvantajoso -, mas em áreas significativas. “Quando você tem esses discursos, se espera e se cobra por parte dos movimentos que essas minorias sejam representadas. Sejam colocadas em lugar de destaque e em pastas que garantam não apenas visibilidade, mas avanços no ponto de vista de direitos”.
Em ambos os Governos, pessoas autodeclaradas brancas estão à frente da maioria das secretarias. Há, no entanto, números significativos de pessoas que se disseram pardas, pretas,
Para estas informações, O POVO+ checou com os próprios secretários ou suas respectivas assessorias. Foi respeitada a autodeclaração. Quando não foi possível obter os dados, consta como “não informado”.
No Governo Municipal, das 22 secretarias, 11 são chefiadas por pessoas brancas - percentual de 50%. Quanto aos demais, sete se autodeclaram pardos, uma pessoa, negra e os demais não informaram.
Já no Estado, são 19 gestores que se disseram brancos; quatro, pardos; um, preto; uma, indígena; três, negros; e três não informaram.
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As pastas, neste caso, são bem diversas. Em ambos, mulheres são a maioria dos pretos/negros e, assim, se somam questões de raça às de gênero. No caso de Evandro, as duas únicas pessoas autodeclaradas negras ou pretas são Helena Barbosa, da Cultura, e Fátima Bandeira, das Mulheres.
O Governo Elmano traz uma diversidade um pouco maior de pessoas pretas e negras. As pastas são: Igualdade Racial, Desenvolvimento Agrário, Meio Ambiente e, claro, Ciência e Tecnologia.
O único homem autodeclarado preto de ambas as gestões está com Elmano: Moisés Braz, do Desenvolvimento Agrário. A única pessoa indígena também é do Governo Estadual, neste caso, Juliana Alves, que comanda, justamente, a Secretaria de Povos Indígenas.
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Um grande destaque dos novos anunciados é a grande presença de figurões políticos na frente das gestões. O POVO+ analisou todos os gestores e, por meio do histórico e consultoria do editor-chefe de Política e colunista do O POVO, jornalista Érico Firmo, constatou que, das 53 secretarias, em 21 as indicações foram políticas. Foi analisado caso a caso.
Em outras 15, o peso político interferiu, mas os nomes também apresentam fortes características técnicos, talvez na mesma proporção. Quanto ao restante, 17, os nomes são, em suma, técnicos.
Vale lembrar que a atribuição "político" não significa falta de capacitação do gestor ou outros atributos, mas sim que a indicação, explicitamente, não se deu por estes fatores.
A maioria de políticos ou de técnicos/políticos nas gestões se dá pela própria natureza dos cargos no Executivo, conforme Monalisa Torres, do Lepem. São cargos de confiança, explica. "Cargos por natureza políticos, embora, haja uma pressão da sociedade e dos próprios gestores por nomes mais técnicos", explicou ela, comentando que a conjuntura é comum "a qualquer democracia".
A tendência de indicação política se acentua, segundo Monalisa, em um governo com uma ampla gama de partidos aliados, cujos atores potencializaram os apoios em uma campanha eleitoral acirrada, como foi a de Fortaleza, em 2024. Por serem aliados, os reflexos das mobilizações pró-Evandro, também são sentidas pelo Governo Elmano.
"O esforço que os aliados fizeram na campanha exige que o governo os contemple. Essas reformas refletem isso, a necessidade de contemplar os aliados, especialmente os que tem mais força", disse.
No entanto, há uma necessidade de reforço do executivo como chefe. Essa visão é defendida por Ricardo Moura, jornalista, doutor em Sociologia e pesquisador do Laboratório da Violência da Universidade Federal do Ceará (LEV/UFC) e colunista do O POVO+.
Focado na área da Segurança Pública, Ricardo explicou que é necessário uma atuação conjunta de pastas, e de governos, em temas sensíveis como este. "A expectativa é que a gente possa ter uma ênfase dentro dessa área, mas de uma forma ampliada. Que contemple outras secretarias. Uma atuação bastante forte na área da prevenção. Uma possível integração com o governo do Estado se daria por meio de uma atuação conjunta e da possibilidade de operações com as forças de segurança", disse.
Para isso, o governador ou o prefeito precisa impor a voz acima dos aliados. "É preciso que Elmano dê o direcionamento do que ele espera para seu governo, que esse novo secretariado ajude a concretizar esse projeto político. Há uma diversidade grande de partidos com seus interesses. O risco de isso gerar atritos no interior do governo é grande", afirmou o especialista.
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Vindos da gestão Camilo, da gestão Roberto Cláudio, amigos de deputados, de presidentes de partido, vereadores e, claro, técnicos. Muitos são os motivos que levaram Elmano e Evandro a escolherem os cargos do Executivo.
Os nomes "requentados", para Paula Vieira, indicam uma tendência, primeiro, de seguir pelo "seguro". Motivação se daria especialmente em áreas críticas como Saúde. No Estado, pasta segue com Tânia Mara, que atuou na secretaria-executiva de Atenção à Saúde e Desenvolvimento Regional da Sesa, no Governo Camilo. Já Evandro indicou Socorro Martins, que foi secretária de Saúde de Roberto Cláudio.
Outra motivação envolveria a figura do ministro da Educação, Camilo Santana (PT). Paula diz que "temos que lembrar que ambos os projetos estão muito atribuídos à figura do Camilo. "O 'requentar' é um movimento seguro, de saber que está vinculado aquele projeto que estava encaminhado. Uma gestão conhecida, se sabe como vai funcionar. Traz uma segurança".
Abaixo, clique nos cards e confira dados gerais e o contexto político de cada uma das indicações.
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O POVO+ considerou, de ambos os governos, secretarias, Controladoria, Procuradoria, Chefia de Gabinete e Chefe de Governo. No total, foram analisadas 53 pastas, do primeiro escalão. Também foram incluídos os cargos de Procurador, Controlador e Chefia da Casa Civil/Chefia de Gabinete.
Do Governo Elmano, foram 31 pastas. São elas: Controladoria, Procuradoria, Casa Civil, Proteção Social, Turismo, Mulheres, Desenvolvimento Econômico, Recursos Hídricos, Articulação Política, Proteção Animal, Educação, Segurança, Saúde, Administração Penitenciária, Trabalho, Relações Internacionais, Povos Indígenas, Planejamento e Gestão, Fazenda, Pesca e Aquicultura, Igualdade Racial, Direitos Humanos, Diversidade, Esporte, Desenvolvimento Agrário, Cidades, Cultura, Infraestrutura, Juventude, Meio Ambiente e Ciência, Tecnologia e Educação Superior.
De Evandro, considerou-se 22 pastas. Controladoria e Ouvidoria, Procuradoria-Geral do Município, Chefia de Gabinete, Secretaria Municipal de Governo, Secretaria da Saúde, Turismo, Cidadã, Educação, Juventude, Esporte e Lazer, Infraestrutura, Cultura, Desenvolvimento Econômico, Relações Comunitárias, Urbanismo e Meio Ambiente, Mulheres, Desenvolvimento Habitacional, Proteção Animal, Planejamento, Orçamento e Gestão; Conservação e Serviços Públicos, Direitos Humanos e Desenvolvimento Social;
Finanças.
As informações pessoais (declaração racial, data de nascimento, sexualidade) dos gestores com passado político foram conseguidas no portal de candidaturas do Tribunal Superior Eleitoral. Quanto aos demais, O POVO+ contatou todas as assessorias ou pessoas próximas.
Não houve retorno apenas de três secretários, um do estado e dois de Fortaleza. Do Governo Elmano, não conseguimos informações pessoais de Mauro Albuquerque, da SAP; de Evandro, a ausência foi de Francisco José de Abreu Machado, da Conservação e Serviços Públicos; e André Barbosa, das Relações Comunitárias.
A autodeclaração racial foi respeitada. Quando não informada pelos próprios secretários, explicitamos no texto.
O mesmo se deu pela autodeclaração de sexualidade, esta, no entanto, solicitada de forma opcional. Grande parte dos secretários não informou nada ou informou de maneira incerta. Em ambos os casos, também está explícito na matéria.
A definição de técnico ou político foi feita com base no currículo dos indicados. Houve ainda verificação por parte do jornalista Érico Firmo, colunista e editor-chefe de Política do O POVO.
Já o contexto político partiu da cobertura do jornal, por meio de matérias, reportagens e colunas. As imagens dos secretários nos cards são das respectivas assessorias e do acervo do O POVO Doc, de autoria dos fotógrafos do Núcleo de Audiovisual do O POVO.
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