Nos últimos tempos, temos assistido a uma série de polêmicas envolvendo humoristas, influenciadores e personalidades. Em nome da liberdade de expressão, fazem piadas que nitidamente apresentam elementos de racismo, homofobia e outras formas de discriminação. A recente condenação criminal do humorista Léo Lins está a ensejar um acalorado debate na sociedade acerca do tema.
Isso nos obriga a questionar: até onde vai o direito de fazer piada, e quando ele vira crime?
Não se trata de censura, nem de sufocar o riso, afinal, o humor é uma ferramenta poderosa para criticar, provocar e até curar. Mas também é verdade que o riso pode machucar.
A Constituição brasileira garante a plena liberdade de expressão, mas essa liberdade tem limites claros: não pode ferir a dignidade, nem promover o preconceito. A lei penal vigente não deixa margem para dúvidas, pois incitar discriminação ou ridicularizar pessoas com base em raça, religião, origem, orientação sexual ou deficiência, ainda que no contexto de um show de humor, é crime.
Dizer que era só uma piada não pode ser desculpa para disseminar ódio disfarçado de humor. Não se trata de politicamente correto, mas de responsabilidade. Palavras têm peso. E uma piada que reforça estereótipos racistas, por exemplo, ajuda a sustentar uma estrutura social que já exclui, marginaliza e mata.
É fundamental reconhecer que o humor, como qualquer forma de comunicação, não está acima da ética nem da lei. Humoristas não precisam deixar de fazer piada, precisam apenas pensar em quem estão atingindo, e por quê.
Vivemos em uma sociedade diversa, plural, e que, felizmente, tem se mostrado cada vez menos tolerante com o intolerável. Isso exige de todos nós, mais escuta, mais empatia e menos complacência com piadas que só fazem rir a quem nunca foi alvo delas.
Fazer humor sem ofender não é impossível, é apenas mais difícil. Mas esse esforço é um sinal de maturidade. E maturidade, em uma democracia, nunca é demais.