Repórter especial e cronista do O POVO. Vencedor de mais de 40 prêmios de jornalismo, entre eles Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), Embratel, Vladimir Herzog e seis prêmios Esso. É também autor de teatro e de literatura infantil, com mais de dez publicações.
Hoje, vou fazer o seguinte. Tentarei ser meu avô Afonso. Um senhor que por muitos anos povoou, ao vivo, meu imaginário fantástico. Era um homem como outro qualquer, escrito de coisas tortas e de iluminações.
Uma delas era saber recontar ficções e inventar potocas. Por tempos, pensei nele um escritor ou aquele narrador de fábulas, de folclore, dos contos de fadas e ouvir dizer. E era. Contava até os sonhos.
Na sexta-feira, como há muitos anos não acontecia, fiquei com ele na cabeça. Pensando como vovô contaria uma história real, mas também um conto, que me foi doada por Tarcísio Matos.
O T. Matos tem dessas generosidades. Escuta ou testemunha narrativas por aí e me passa um bocado delas. Quase como quem serve um lambedor de malva a quem está com o tosse de cachorro. Ou como alguém que traz um presente inesperado.
Queria saber quais palavras meu avô Afonso colheria para fiar um dos sonhos de Agatha Quest. Uma menina de 10 anos de idade que desejava ter nascido sereia de cauda e asas. Mentira, aí sou eu inventando pra florear o texto.
Ela tinha uma vontade de se banhar na praia vestida de sereia. Simples. Nascida em Paracuru, uma cidade na beira do oceano, Agatha poucas vezes deixou de se encontrar com o mar. A não ser quando adoeceu.
A mocinha, hoje uma hóspede do hospital Peter Pan, poderia até ser a personagem de um livro que escrevi com minha irmã Nukácia. O Mar Menina, um título assim porque acho bonito o nome do restaurante do Léo. Depois, conto a história numa visita a ela.
Pois sim. O sonho de Agatha, que descobriu ano passado um osteossarcoma e perdeu uma das pernas, era ser uma sereia. Ter uma cauda colorida e longa, mexer nela e nadar o mar inteiro.
Ir com os peixes, apostar corrida com as baleias e dançar com os golfinhos. Andar sobre as águas e não temer, nunquinha, meros e tubarões. No fundo, no fundo, eles podem ser superados.
Acho que antes de nascermos, nascem primeiro os sonhos pra cada criança descida na Terra. Deve ser. E um bocado deles, mesmo os que parecem impossíveis, podem se realizar.
Pois o desejo de Agatha, não sei se o principal da vida dela, era ser uma sereia. Metade peixe, metade menina.
E assim se deu. Uma fotógrafa, Dayviane Lima, gentilmente, realizou a querência da mocinha também do mar. Foram à praia do Pacheco e ela foi feliz para sempre naquele dia de sereia.
Ou num dia de Yara, contaria meu avô. Porque era assim como ele chamava as sereias da água doce, mesmo sabendo que você é do mar de Paracuru.
E se eu fosse você, Agatha, continuaria sonhando.
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