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As vitórias do olavismo
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Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista

Érico Firmo política

As vitórias do olavismo

O grupo de Olavo de Carvalho travou queda de braço dentro do governo Jair Bolsonaro (PSL) e obteve uma baita vitória. Bateu de frente com segmentos militares e tecnocratas e levou. Foram demitidos chefe de gabinete, secretário adjunto, assessor especial e três diretores do Ministério da Educação. Uma limpa, puxada pelo coronel Ricardo Wagner Roquetti, exonerado da diretoria do Programa da Secretaria-Executiva do MEC. Enquanto isso, o coronel era desancado por Olavo no Facebook. A posição de guru do governo se fortalece.

Brigas políticas entre grupos dentro do governo são comuns, mas essa é diferente. É a supremacia ideológica e intelectual de um grupo que se afirma. O governo Bolsonaro é composto de vários segmentos. Há os liberais, capitaneados por Paulo Guedes. Há os militares, que têm sido o grupo mais moderado e pragmático. Há os religiosos, os ruralistas, alguns fisiológicos tradicionais, que rondam todos os governos. Os olavistas são, ao lado da ala cristã, os mais ideológicos. Em todos os governos nas últimas décadas, a ideologia perdeu para o pragmatismo fisiológico. Para não ir longe, foi assim que Luiz Inácio Lula da Silva (PT) fez aceno aos mercados, entendeu-se com banqueiros, aliou-se a PMDB, PP, PTB e tantos outros, ao tempo em que apeou os radicais do partido para fundarem o Psol.

O governo Bolsonaro é raro caso em que, na disputa entre alas, os ideológicos são privilegiados. O governo Bolsonaro vai assim definindo seu perfil e sua rota.

Fortaleza, CE, Brasil, 27-02-2019: Areia da duna na Sabiaguaba começa a ser retirada. (Foto: Mateus Dantas / O POVO)
Fortaleza, CE, Brasil, 27-02-2019: Areia da duna na Sabiaguaba começa a ser retirada. (Foto: Mateus Dantas / O POVO)

Duna avança sobre estrada, que avançou sobre a duna

A Promotoria de Justiça do Meio Ambiente e Planejamento Urbano recomendou que seja suspensa a retirada de areia do Parque Natural Municipal das Dunas da Sabiaguaba. A remoção ocorre porque a areia está cobrindo a CE-010. Ocorre o seguinte: quanto mais areia é retirada, mais areia desce e cobre a rodovia. Nessa toada, bastante areia já foi retirada.

Nunca é demais dizer que a duna já estava lá antes da estrada. Não é a duna que avança sobre a rodovia. Foi a rodovia que foi construída no pé da duna. As dunas, aliás, são móveis. Querer que a areia fique parada é desconhecer a natureza do ambiente onde passaram a pista.

Isso não ocorre só com as dunas. Basta chover por algumas dezenas de minutos que a avenida Heráclito Graça fica inundada. O motivo? Por ali passava o riacho Pajeú, às margens do qual foi construído o forte em torno do qual a cidade cresceu. Na maior parte de sua extensão, o rio está quase todo canalizado, encaixotado sob asfalto e concreto mal distinguível de um esgoto, inclusive pelo odor. Trata-se de pedaço inestimável da história de Fortaleza, tratado com desleixo criminoso. Não é a avenida que vira rio. É o rio que foi sufocado para dar lugar à avenida. Do mesmo modo, não é a duna que cobre a rodovia. É a avenida que foi construída ao pé da duna. Uma obviedade.

O local onde fica Fortaleza era constituído em grande parte de dunas. Quase tudo foi destruído, ocupado de forma desordenada e ambientalmente predatória. O Parque da Sabiaguaba é raríssimo resquício, e certamente o mais belo, dessa ancestralidade de Fortaleza. Houvesse o mínimo de espírito público nos que tomaram a decisão, houvesse um pouquinho de senso de que há um futuro pelo qual se há de zelar, as dunas da Sabiaguaba seriam tratadas como o tesouro valioso e delicado que são. O tratamento, porém, é de desleixo, no mínimo.

A retirada da areia pelo DER tem autorização de uma comissão formada pela Secretaria Municipal do Urbanismo e Meio Ambiente (Seuma), da Superintendência Estadual do Meio Ambiente (Semace) e do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Isso pode ser um bom sinal, de que os órgãos fiscalizadores não viram problema. Ou mal sinal, se os órgãos responsáveis deram aval a ação destrutiva. O MP pede que mais areia não seja retirada até a apresentação de estudos e relatório do serviço executado, com informações sobre a quantidade removida e o destino dado.

O problema não é novidade. Em 2017, o DER teve a brilhante ideia de cobrir a areia do local com palhas de coqueiro, para que as dunas móveis ficassem paradas. A atitude destrambelhada rendeu autuação e multa ao Estado pelo Ibama.

 

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