Logo O POVO+
O tamanho do risco ao mandato de André Fernandes
Foto de Érico Firmo
clique para exibir bio do colunista

Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista

Érico Firmo política

O tamanho do risco ao mandato de André Fernandes

André Fernandes (PSL) foi alvo de representação de um partido no Conselho de Ética da Assembleia Legislativa e será de outro. O primeiro foi o PSDB e o próximo será o PDT. O primeiro tem dois deputados. O segundo tem 14 atualmente em exercício. Para cassar um deputado, é necessária maioria absoluta: 24 dos 46 deputados. Só os dois partidos que representaram contra têm 16. A capacidade de arregimentar apoios do PDT é enorme, proporcional à capacidade de Fernandes de desagradar.

A cassação do deputado não é o cenário mais provável. Deverá sofrer alguma sanção, mas perder o mandato seria demais.

A não ser que, pela postura, Fernandes agrave sua situação. Ele não é de abaixar a cabeça, dar braço a torcer. Não moderou o tom e seguiu no ataque. Isso pode instigar votos contra ele.

Presidente Jair Bolsonaro
Presidente Jair Bolsonaro

O abacaxi é doce

Uma crítica que era feita a Luiz Inácio Lula da Silva (PT) antes dos primeiros casos de corrupção era ao fato de ele não descer do palanque. Parecer estar em permanente campanha. Era uma justa crítica. Lula gostava mais de campanha que de governar. Essa é uma das coisas - há outras - que aproximam o petista e Jair Bolsonaro (PSL).

O presidente segue no palanque. Ontem, antes de completar seis meses de mandato, deu demonstração desse estado de campanha permanente mais claro do que qualquer um que eu lembre de ter vindo de Lula. "Meu muito obrigado a quem votou e a quem não votou em mim também. Lá na frente todos votarão, tenho certeza disso", disse o presidente.

Bolsonaro há muito tempo diz ser contra a reeleição. E ontem sustentou esse discurso, mas em tom diferente. Pelo menos desde o início do ano passado, ele defende uma reforma política que acabe com a reeleição. "O que eu pretendo fazer, tenho conversado com o Parlamento também, é fazer uma excelente reforma política para acabar com o instituto da reeleição, que no caso começa comigo, se eu for eleito", disse em janeiro de 2018. Em outubro, após a vitória, ele reforçou: "A possibilidade de não concorrer à reeleição é se a gente conseguir fazer um grande acordo para aprovar a reforma política. Não é apenas 'eu não vou concorrer a reeleição'". Ontem, ele repetiu o discurso, mas mostrou disposição diferente.

"Olha, se tiver uma boa reforma política eu posso até, nesse caldeirão, jogar fora a possibilidade de reeleição. Posso jogar fora isso aí. Agora, se não tiver uma boa reforma política e se o povo quiser, estamos aí para continuar mais quatro anos".

Alguns pontos: Bolsonaro tem direito a concorrer à reeleição. É a regra pela qual foi eleito. Entendo que ele tem tal prerrogativa mesmo no caso de reforma política.

Porém, a forma como ele fala, agora, sobre reforma política é como quem não tem nada com isso. Tudo bem, quem aprova ou não reforma política é o Congresso. Mas, sem protagonismo do governo, nada anda. Note também que o tom adotado por ele é o de quem faria o sacrifício de abrir mão da reeleição.

Curioso porque, em abril, o presidente demonstrou outro sentimento em relação a ficar no poder. Ao dizer que sua permanência no cargo é passageira, ele comentou: "Graças a Deus, né? Imagina ficar o tempo todo com esse abacaxi".

Parece que o abacaxi é doce.

Discursos sobre reeleição

Ter um discurso sobre reeleição e mudar de ideia depois não é exclusividade de Bolsonaro. O PSDB viabilizou a aprovação e, menos de dez anos depois, já queria acabar com o instrumento. Isso, claro, depois de reeleger Fernando Henrique Cardoso (PSDB). Lula, antes da campanha de 2006, passou a defender mandato de cinco anos sem reeleição. Isso era algo que ele pretendia propor numa reforma política caso fosse... reeleito. A reeleição ocorreu. A reforma, não.

Foto do Érico Firmo

É análise política que você procura? Veio ao lugar certo. Acesse minha página e clique no sino para receber notificações.

O que você achou desse conteúdo?