A imprensa tem estado no foco das tensões. Isso não significa, no entanto, que os veículos devam ser parciais em sua cobertura ou não assumir um posicionamento diante do que pareça ser perceptivelmente contrário ao que apregoa. Nos últimos dias especialmente, O POVO tem sido cobrado a assumir uma postura mais firme e explícita diante de algumas circunstâncias. Também é criticado por aparentemente tender mais a certa postura ideológica, em Opinião.
Lima Jr., leitor, faz coro à crítica de que o jornal publica muitos artigos contrários a Bolsonaro. "Notadamente na edição da véspera do segundo turno (em 2018), todos os articulistas, todos, se manifestam descaradamente tendenciosos, posicionamento editorial que perdura até a presente data, claramente contrário ao governo federal", diz. Outro leitor cita que O POVO e grande parte da imprensa brasileira são "tendenciosos para a esquerda". Anota: "A imprensa brasileira usa qualquer coisa que o presidente da República diz ou faz para ficar martelando e dando importância mais do que o fato merece; quando tem fatos que inclui a esquerda, não falam nada". Em relação ao O POVO, observa que todos os jornalistas da Casa escrevem "somente coisas denegrindo a imagem do governo Bolsonaro" (sic).
É verdade que os jornalistas da Casa, pela participação frequente em diversas plataformas, acabam tendo uma projeção maior algumas vezes. Isso talvez explique a sensação de que há um posicionamento mais intenso nas páginas de Opinião. Não deve haver. Não é para haver. Isso cria uma pecha terrível para o veículo, seja de qual lado for. Se não há equilíbrio ideológico entre os jornalistas que escrevem atualmente, é preciso buscar articulistas com argumentos válidos e contrários para um bom debate.
"Sem oposição"
De acordo com o editor de Opinião, Sérgio Falcão, isso tem sido feito. Ele conta que, em 2019, há um quadro de articulistas fixos, definido com a Chefia da Redação. Entre eles, escrevem pessoas identificadas com propostas liberais e progressistas, apoios e críticas aos governos nas diversas esferas de Poder Executivo. "Primamos pelo bom debate, democrático, respeitoso e múltiplo. Nessa intenção, seguindo a linha editorial do O POVO e percebendo a necessidade de acessarmos as reflexões das vozes partidárias, convidamos expoentes locais e nacionais para contribuir e oportunizar o diálogo de ideias. São exemplos dessa proposta os seguintes articulistas: Tasso Jereissati (PSDB), Geraldo Luciano (Novo), Jacques Wagner (PT), Jarbas Vasconcelos (MDB), Flávio Dino (PCdoB), Izolda Cela (PDT), Eduardo Girão (Podemos), Capitão Wagner (Pros), Eunício Oliveira (MDB), Heitor Freire (PSL) e Ailton Lopes (Psol)".
Junte a essa ideia a percepção de que, a cada atitude desastrada do Governo Federal, há um sentimento de que o jornal está focando nisso, em vez de tratar o assunto com mais harmonia. "O jornal precisa assumir uma posição. E isso não tem relação com ideologia. Não dá pra continuar no muro porque O POVO não vai agradar aos dois lados. Pelo contrário, desagradará a ambos", comentou um leitor, exigindo uma conduta do jornal.
No caso das comemorações do golpe de 1964, por parte do Governo, a resposta do jornal veio tarde. O editorial "Ditaduras não devem ser comemoradas" só veio a público no domingo passado, 31/3, após dias de embate, inclusive jurídico, entre o Governo e diversas instituições. A causa interessa diretamente o jornal. Merecia uma resposta rápida.
Acerca do assunto, a Chefia da Redação explica que O POVOnão é um jornal de oposição ao Governo Bolsonaro nem faz oposição a qualquer governo. Entretanto, nenhuma gestão é imune a críticas, por suas medidas ou posicionamentos públicos, e isso pode desagradar a forças políticas e ideológicas, instituições e leitores. "No caso específico do Governo Bolsonaro, é inegável que ele atravessa momento turbulento. Turbulência, aliás, provocada na sua maioria pelas próprias forças governistas. A falta de articulação em torno da principal agenda governista - a reforma previdenciária - é um claro reflexo disso, alimentada por polêmicas inúteis como a da 'comemoração' do regime militar e o embate autofágico dos grupos do Ministério da Educação", comenta Ana Naddaf, diretora da Redação. Ela lembra que o jornal já elogiou decisões que considera certas do Governo,como a parceria com o Estado no envio da Força Nacional para o Ceará.
Não é lei no Brasil (como o é em outros países), mas é credibilidade com o público. O leitor precisa saber com que veículo está lidando, como age institucionalmente a mídia da qual participa e o que pensa o jornal que está consumindo.
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