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Quando já não for possível negar os que estão nas ruas
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Adailma Mendes é editora-chefe de Economia do O POVO. Já foi editora-executiva de Cidades e do estúdio de branded content e negócios, além de repórter de Economia

Quando já não for possível negar os que estão nas ruas

FORTALEZA, CE, BRASIL, 03.08.2020: Jesus Maciel, 71, morador de rua que teve seu barraco incendiado. Rede de solidariedade faz doações para senhor que teve barraco incendiado.  (foto: Fabio Lima/O POVO) (Foto: Fabio Lima)
Foto: Fabio Lima FORTALEZA, CE, BRASIL, 03.08.2020: Jesus Maciel, 71, morador de rua que teve seu barraco incendiado. Rede de solidariedade faz doações para senhor que teve barraco incendiado. (foto: Fabio Lima/O POVO)

Antes mesmo da pandemia pelo novo coronavírus, com quarentena iniciada no Ceará em 19 de março, já se via em esquinas e em trechos de ruas com poucas residências ou comércios de Fortaleza crescer a quantidade de moradores sem teto. Famílias com tudo que lhes era possível carregar em calçadas e a ensaiar casebres feitos de papelão. São vidas que já não têm onde morar, que foram renegadas pelas famílias ou que se perderam por falta de apoio a problemas sociais, econômicos e/ou psicológicos que os acompanha.

De 2014 para cá, nem mesmo o mapeamento correto dessa população às margens do usufruto de qualquer direito cidadão foi atualizado. Facilmente se pode discordar que não convivemos mais com a realidade de 1.718 pessoas vivendo em situação de rua na Capital - números do último censo, realizado há seis anos, sobre essa população.

Há mais de um ano, final de agosto de 2019, o Ministério Público do Ceará (MPCE), por meio da 9ª promotoria de Justiça de Fortaleza, Conflitos Fundiários e Defesa da Habitação, expedia uma recomendação - à Prefeitura de Fortaleza, à Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Desenvolvimento Social de Fortaleza (SDHDS) e ao Conselho Municipal de Assistência Social de Fortaleza (CMAS) - de implementação de ações necessárias à realização de um censo para quantificação da população em situação de rua na Cidade. Dentro desses mais de 12 meses transcorridos nada aconteceu. Seguimos com uma ficha quase em branco sobre quem são essas pessoas que se aglomeram mais e mais nas ruas a despeito da pandemia e que apenas esperam pela caridade de quem passa por onde se alojam.

Cartazes anunciando desemprego, fome, necessidade de remédios, prática de malabares e mãos estendidas passaram a ser mais comuns em sinais de trânsito, saídas de supermercados e em locais públicos de Fortaleza. São crianças, jovens, adultos e idosos.

No começo deste ano, a SHDS chegou a comprometer-se com nova data para iniciar o senso: fevereiro de 2020. Veio a pandemia e o assunto segue no limbo.

No Brasil todo também não existem dados oficiais sobre a população em situação de rua. A implementação de políticas públicas voltadas para esse contingente não possui norte nem firmeza. Um estudo publicado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) em 2016, de Marco Antonio Carvalho Natalino, foi um pouco além e trouxe uma estimativa de 2015 com o País tendo 101.854 pessoas nessas condições.

E por que o senso é tão importante? Sem dimensionar o problema não há como chegar em uma solução certa e responsável. Assim como para todas as demais áreas de atuação pública, planejamento é fundamental. Para os candidatos à Prefeitura de Fortaleza fica, sem dúvida, o trabalho de olhar para essa parcela da população excluída e invisibilizada. Vai ser difícil não enxergar esses moradores de rua.

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