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O que a Monsenhor Tabosa tem a ver com a derrocada na economia
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Adailma Mendes é editora-chefe de Economia do O POVO. Já foi editora-executiva de Cidades e do estúdio de branded content e negócios, além de repórter de Economia

O que a Monsenhor Tabosa tem a ver com a derrocada na economia

Elementos presentes no processo de deterioração da avenida comercial Monsenhor Tabosa remetem a pontos nervosos da crise sanitária, social e econômica que vive o País e o Ceará
Avenida Monsenhor Tabosa, que já teve mais de 400 lojas, segue a perder varejistas e com crescimento da presença de mais pessoas em condição de rua (Foto: FCO FONTENELE)
Foto: FCO FONTENELE Avenida Monsenhor Tabosa, que já teve mais de 400 lojas, segue a perder varejistas e com crescimento da presença de mais pessoas em condição de rua

A pandemia pela Covid-19, com números assustadores de mortos - 16,3 mil no Ceará e 374,6 mil no País até a segunda-feira, 19 -, fez com que muitos problemas econômicos fossem agravados e expostos de forma clara à sociedade. Aumento do desemprego, rendas mais achatadas, alta da inflação, empresas com dificuldades para sobreviver e mais pessoas caminhando para a extrema pobreza são alguns exemplos. Traça-se assim um cenário alarmante de saúde pública e de caos social.

Um lugar símbolo de muitos desses problemas, parte deles já em evidência antes mesmo da crise gerada pela pandemia do novo coronavírus, é a avenida Monsenhor Tabosa, situada entre o Centro e a Praia de Iracema em Fortaleza. Na via de sucesso comercial entre as décadas de 1990 e 2000, a paisagem de hoje não é nada pujante como no passado. São inúmeras lojas fechadas, algumas com os restos de cartazes usados em vitrines para atrair a clientela. Em outras ainda se veem móveis quebrados na parte interna. Chega a parecer que foram deixadas como em uma situação de emergência, ficando registros do negócio que vingava.

Durante o dia, na avenida de 900 metros de extensão, são poucos transeuntes, um ou outro serviço de manutenção da via, vendedores nas portas dos estabelecimentos que restam como a pedir que algum possível comprador os veja e decida entrar na loja. O local, que já chegou a ter mais de 400 pontos comerciais, de 2014 para cá já perdeu centenas de varejistas. Durante o último lockdown em Fortaleza, flexibilizado a partir do dia 12 de abril, a via tinha clima de cidade abandonada, tirando movimento em uma agência da Caixa Econômica e em uma unidade de supermercado. Pela noite, é comum ver nas calçadas da Monsenhor Tabosa gente pedindo esmola e outros só buscando abrigo para dormir. Uma tristeza só.

Daquele corredor turístico de extremo colorido pelo artesanato, confecções e sapatarias, tem sobrado pouco. Mas há também movimentos pontuais de novos empreendimentos, que na contramão do clima de encerramento de lojas no local, abriram suas portas ali. Barbearias, salões de beleza e petshop ensaiam uma retomada e acabam por dar esperança ao futuro da via.

A avenida que vem perdendo força por uma série de fatores - concorrência de feiras, despadronização dos artigos que vendia e reformas que levaram a queda de público em alguns momentos - acaba por ser símbolo do movimento geral da desaceleração da economia e da realidade imposta durante a pandemia. Na última década no Brasil, por exemplo, o crescimento do PIB foi tímido e de apenas 0,2%. Não dá nem para falar em crescimento.

Olhando também para o segmento que mais ocupa a Monsenhor Tabosa, os dados não são animadores. Pela Pesquisa Mensal do Comércio (PMC), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgada no último dia 13, o segmento no Estado segue em queda ante o período anterior à pandemia. São vendas deste ano 5,3% abaixo das registradas entre janeiro e fevereiro de 2020. Preocupa ainda saber que o comércio é fatia importante do segmento de serviços que responde por mais de 70% do PIB do Ceará.

Agora é esperar que a vacinação seja intensificada, pois só ela será capaz de permitir que a economia volte a caminhar, e que novas medidas de apoio ao setor produtivo, como BEm e Pronampe, sejam aplicadas. Para a Monsenhor Tabosa, a esperança é ver também uma retomada, nem que lenta e gradual.

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